A interseção entre música e tecnologia traz debates acalorados há décadas. No centro dessa discussão, o punk rock parece um território inesperado, mas foi exatamente lá que surgiu uma polêmica recente envolvendo a banda Dead Boys e o uso de inteligência artificial (IA) para recriar a voz de seu falecido vocalista, Stiv Bators.
O Dead Boys nasceu na cena punk de Cleveland, em 1975. Liderados por Stiv Bators, a banda foi pioneira no punk norte-americano, ao lado de nomes como Ramones e The Stooges.
Com uma postura rebelde e performances viscerais, lançaram dois álbuns antes de se separarem em 1980: “Young, Loud and Snotty” (1977) e “We Have Come for Your Children” (1978).
Bators, além de seu trabalho com os Dead Boys, enveredou por outros projetos até sua morte precoce, em 1990, vítima de um acidente de carro em Paris.
Em 2017, um novo capítulo começou com Jake Hout assumindo os vocais em um álbum de regravações do disco de estreia, intitulado “Still Snotty: Young, Loud and Snotty at 40”. Essa reconfiguração trouxe debates sobre a legitimidade de novas formações, algo comum em bandas clássicas.
E agora vem polẽmica, pois recentemente, Hout anunciou sua saída do Dead Boys. Ele alega que a gravadora Cleopatra Records planeja usar IA para recriar a voz de Bators em um álbum previsto para 2025.
Segundo Hout, o contrato indicava que a IA seria utilizada para “criar obras baseadas na voz original de Stiv Bators”. Em sua declaração, Hout revelou que isso foi o “limite” para ele, afirmando que a tecnologia não consegue capturar a “paixão e espírito” que ele buscava honrar ao interpretar as músicas do Dead Boys.
A banda e a gravadora rebateram as alegações. Em nota, afirmaram que Hout disseminou “desinformações” e garantiram que o novo material seria fiel ao som visceral dos Dead Boys.
Cheetah Chrome, guitarrista original e membro ativo no projeto atual, expressou descontentamento com a decisão de Hout, afirmando que ele “recusou-se a dialogar de forma madura sobre o tema”.
O novo álbum da banda, que ainda não possui título, tem lançamento previsto para 2025. Além de Chrome nos vocais e guitarra, o projeto contará com participações de Clem Burke (Blondie) e Glen Matlock (Sex Pistols). A gravadora sugere que a voz de Chrome será “suavemente misturada” com a presença de Bators, deixando dúvidas sobre o quão extensivamente a IA será usada.
A decisão de Hout em sair da banda reflete um dilema enfrentado por muitos artistas em tempos de mudanças tecnológicas rápidas. Enquanto uns veem na IA uma ferramenta inovadora, outros temem que ela possa comprometer a essência humana da arte.
Em um gênero como o punk, onde autenticidade e atitude são fundamentais, o uso da tecnologia tende a ser ainda mais controverso.
Deixe um comentário