25 anos de “Kid A” do Radiohead | RD #081

Marcelo Scherer
5 minutos de leitura
Thumb Redação Disconecta especial 25 ano de "Kid A" do Radiohead.

O Redação Disconecta dedicou seu mais recente episódio a mergulhar nos 25 anos de “Kid A” do Radiohead, um disco que os hosts Marcelo Scherer, Luis Fernando Brod e Virgílio classificaram como uma das “pedradas” mais difíceis da agenda de lançamentos. Para a moçada do programa, falar de música é o que importa, e este álbum não poderia ser ignorado.

Virgílio, que sugeriu a pauta, confessou que “Kid A” é um dos discos mais estranhos que já ouviu. Ele destacou que, em termos de concepção musical e para o ouvinte, o trabalho exige que o ouvinte “viaje muito”. Marcelo notou que o álbum, talvez ao lado de Amnesiac, seja um dos discos mais difíceis do rock, apesar de ser “louco” chamá-lo de rock, visto o pouquíssimo uso de instrumentos tradicionais como guitarra, baixo e bateria. Embora tenha um “trabalho de baixo lindíssimo”, é um disco difícil. Brod o descreveu como um “liquidificador sonoro”, dada a sua natureza que impossibilita a definição de gênero, mesclando elementos de jazz, fusion, música eletrônica e world music.

A Trilogia Não Oficial e a Desumanização

Marcelo levantou a questão de que a crítica e a própria banda geralmente não consideram “OK Computer“, “Kid A” e “Amnesiac” como uma trilogia. No entanto, para os hosts, esses álbuns “se conversam muito” sonoramente e esteticamente. Virgílio complementou essa visão, notando que a conexão se dá especialmente pela temática da tecnologia. OK Computer já antevia um futuro pessimista, abordando a alienação tecnológica, o excesso de informação e a desumanização.

Os hosts observaram que o Radiohead não só discutiu a tecnologia, mas a utilizou ativamente, aprofundando o uso de elementos eletrônicos. Virgílio apontou que a intenção da banda era transmitir uma ideia de que a música era “não orgânica”, quase como se tivesse sido criada por robôs, buscando uma estética sintética, comparável ao Kraftwerk.

Essa temática se refletiu na promoção do álbum: eles optaram por não lançar fotos de divulgação, singles prévios, ou clipes onde aparecessem. A banda queria fazer um movimento para diminuir sua projeção e lidar com o cansaço da fama. No entanto, o resultado foi o oposto: “Kid A” teve a maior vendagem da banda no mercado americano, que era historicamente difícil para bandas britânicas.

Um Ponto de Virada Histórico

Brod e Marcelo compararam “Kid A” com “Remain in Light” do Talking Heads, disco que o Redação Disconecta analisou anteriormente. Eles argumentaram que “Kid A” possui a mesma importância que “Remain in Light” teve em 1980, marcando um ponto de virada nos anos 2000 a partir do qual a música seria vista de maneira diferente, não só no rock, mas em geral. Este disco influenciou “praticamente todos os gêneros”.

As influências são vastas, incluindo Krautrock (evidente em “The National Anthem”), David Bowie (“Low“) e a música ambiental de Brian Eno. Brod também citou Björk (“Homogenic“) e Miles Davis (“Bitches Brew“) como possíveis influências.

Análise das Faixas e a Experiência Sonora

Ao acompanhar a audição, os hosts notaram a ambientação forte do disco. “Everything in Its Right Place” passou tão rápida para Marcelo que ele a viu como uma vinheta, apesar dos seus quatro minutos. A faixa “Three Fingers” (Turfings) foi descrita como a mais ambiente e totalmente instrumental. A faixa “Idioteque” foi considerada a mais arriscada e principal do disco, descrita como uma “fritação” com temática apocalíptica.

Virgílio revelou que o guitarrista Ed O’Brien disse que Thom Yorke estava pensando apenas em ritmo, e não em melodia, o que é uma conexão direta com o conceito lírico fragmentado e em loop do álbum.

Ao final da discussão, Virgílio compartilhou a opinião de um crítico que definiu o álbum como um “álbum de paradoxos brilhantes”, sendo cacofônico e tranquilo, experimental e familiar, estrangeiro e uterino.

O Redação Disconecta cumpriu o objetivo de trazer discos desafiadores, se permitindo analisar obras que fogem do convencional e incentivando o ouvinte a uma abertura a novas estruturas sonoras. Marcelo Scherer acabou deixando o programa mais cedo devido a problemas de internet. O Brod e Virgílio encerraram, lembrando aos desconectors que o programa vai ao ar todas as terças-feiras.

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