O programa semanal Redação DISCONECTA dedicou-se a celebrar um marco na história do rock alternativo: o aniversário de 25 anos do álbum Stories from the City, Stories from the Sea, da icônica PJ Harvey. Os hosts Marcelo Scherer, Luis Fernando Brod e Julio Mauro debateram a relevância deste que é considerado um dos álbuns mais importantes do início deste século.
Marcelo Scherer, em particular, posiciona PJ Harvey, ao lado de Patti Smith e Cat Power, na “Santíssima Trindade” do rock alternativo, observando que, apesar das diferenças de musicalidade entre as três, elas representam o que há de mais forte e distinto no cenário.
A grande virada: Pop, clean e Nova York
Stories from the City, Stories from the Sea é o quinto álbum solo da cantora e, segundo os hosts, representou uma chocante e significativa mudança de sonoridade. Luis Fernando Brod ressaltou que PJ Harvey vinha de uma sequência de discos mais “sujos” e melancólicos. Ao ser questionada sobre como se sentia ao gravar este novo trabalho, ela respondeu: “alegre”, o que pegou os fãs mais aficcionados de surpresa, que questionavam: “Como assim alegre? Há algo de errado”.
A impressão que se tem é que o álbum se tornou mais pop, com arranjos mais claros, o que permitiu que sua voz se sobressaísse. Julio Mauro lembrou que a própria PJ Harvey declarou ter feito um esforço consciente para criar algo pop e bonito.
Essa transição sonora foi profundamente influenciada pelo local onde ela estava vivendo. Marcelo Scherer destacou que a artista estava morando em Nova York, uma cidade caótica e barulhenta, e, paradoxalmente, entregou um álbum “limpo”. O título do disco (Histórias da Cidade, Histórias do Mar) reflete essa dualidade: a energia da cidade de Nova York e o contraponto com a Inglaterra, onde ela finalizou o álbum em uma paisagem bucólica em Dorset. Brod notou que as letras deste álbum parecem ter um teor autobiográfico, refletindo as experiências que ela vivia naquele momento.
O amadurecimento e a recepção crítica
Na época, os críticos chegaram a “meter o pau” no disco. No entanto, com o passar dos anos, as mesmas revistas e críticos que o desdenharam passaram a considerá-lo uma obra-prima e um dos melhores trabalhos da cantora.
Este álbum demonstrou o amadurecimento natural de uma artista que, na época, devia ter cerca de 30 anos e já estava começando a alcançar o mainstream. Ele se provou um sucesso comercial, conquistando certificado de platina no Reino Unido e alcançando a 4ª posição na Billboard.
Apesar de toda a crítica inicial, o álbum conquistou prêmios notáveis:
- Mercury Prize (2001): PJ Harvey se tornou a primeira artista solo feminina a ganhar o prêmio. Curiosamente, ela aceitou o prêmio no dia 11 de setembro.
- Grammy: Ganhou o prêmio de Melhor Álbum de Rock.
- Brit Awards.
Produção e colaborações
A jornada da PJ Harvey na virada do século se conectou com grandes nomes do rock alternativo. O disco conta com a participação de Thom Yorke (Radiohead) nos vocais de apoio e teclado nas faixas “This Mess We’re In” e “One Line”. Marcelo Scherer e Julio Mauro pontuam que o estilo de composição dessas músicas reflete a levada e os arranjos marcantes da virada do século, influenciados pelo Radiohead.
A produção, que ajudou a dar essa amplitude sonora ao disco, ficou a cargo de PJ Harvey, Rob Ellis e Mick Harvey (ex-baixista de Nick Cave). Os hosts comentaram sobre o documentário de making-of do álbum, onde o produtor Rob Ellis é visto fazendo experimentações, como gravar um backing vocal com um toca-fitas (tipo Walkman) para criar um barulho específico. O documentário também mostra técnicas de microfonação não convencionais, como gravar o vocal de PJ Harvey em um andar mais alto da mansão, com microfones posicionados para captar a ambiência do local.
Luis Fernando Brod deu uma dica de audição crucial: é importante ouvir o álbum de fone de ouvido, pois há muita coisa gravada em canais separados.
Destaques e essência
O álbum é repleto de faixas memoráveis. Marcelo Scherer enfatizou a abertura explosiva com “Big Exit,” que ele descreveu como uma “porrada”. A faixa “Good Fortune” é considerada a mais acessível e pop. Já Luis Fernando Brod destacou “This Is Love” e “Beautiful Feeling” como suas favoritas, notando que “This Is Love” em particular é PJ Harvey “na veia,” com um baixo para frente e que relembra seu espírito punk.




