O Redação DISCONECTA (RD) chegou para mais um episódio, o de número 078, dedicado a celebrar os 30 anos do álbum de estreia da banda Garbage. Marcelo Scherer e Virgílio Migliavaca conduziram o bate-papo em “carreira duo”. No entanto, o RD, o podcast semanal que chega às terças-feiras, garantiu a discussão sobre este clássico dos anos 90.
Marcelo Scherer enfatiza que os anos 90 são os anos que ele viveu na adolescência, e o álbum do Garbage, lançado em 18 de agosto de 1995, é considerado um dos mais legais da década. A banda se destacou por trazer diversos elementos sonoros incomuns para a época. Além de contar com Shirley Manson (uma mulher) no vocal, o Garbage se utilizava de colagens sonoras, teclados e instrumentação eletrônica, resultando em uma forma de fazer música que era bastante diferente.
O projeto secreto de produtores tarimbados
A ideia inicial da banda era ser um projeto paralelo, quase um projeto low profile, que chamaria vários vocalistas para cantar. O disco foi gravado no Smart Studios, em Madison, Wisconsin, de propriedade de Butch Vig e Steve Marker. Butch Vig, notório produtor de Nevermind do Nirvana, inclusive mandou as fitas demo do Garbage sem mencionar seu histórico para que o projeto fosse avaliado sem o peso de seu nome. Os produtores (Vig, Steve Marker e Duke Erikson) são três caras discretos, mais de bastidores, e buscavam uma voz para a banda.
Shirley Manson, que é escocesa, foi descoberta através de um clipe de sua banda anterior, Angelfish, que passou no 120 Minutes da MTV. O interessante é que Shirley Manson é cerca de 10 anos mais jovem que os produtores e, na época, ela nem sabia quem era Butch Vig. Mesmo com inseguranças iniciais, ela assumiu o posto e se tornou não apenas a frontwoman, mas a imagem pública e a “business woman” da operação. Marcelo Scherer afirma que ela é a pessoa certa, pois os outros três eram “low profile total” e precisavam de alguém que tomasse a frente.
Misturas sombrias e pop
A sonoridade do álbum é super produzida e cheia de camadas. Os hosts notam que a banda uniu o que estava em voga na época, como um toque de Trip Hop e Shoegaze, inserindo tudo isso em uma linguagem “bem pop”. O Garbage, por exemplo, utilizava colagens e loops em suas bases. A canção “Stupid Girl” é um exemplo óbvio dessa técnica, pois utiliza a batida de bateria de “Train in Vain,” do The Clash.
Virgílio pontua que o Garbage absorveu a agressividade e elementos do industrial (como Nine Inch Nails), mas soube arredondá-los, tornando-os mais pop e digeríveis. A origem do nome da banda, aliás, surgiu quando alguém o amigo do baterista disse que a base de “Vow” (que seria um remix do Nine Inch Nails) soava como “garbage” (lixo).
O álbum contém hits como “Only Happy When It Rains,” “Stupid Girl,” e “Queer”. Além disso, faixas mais lentas e com clima trip-hop, como “Milk” (que encerra o disco) e “Stroke of Luck,” mostram essa capacidade da banda de misturar influências. A canção “Not My Idea” é destacada por ter uma melodia linda.
O legado da heroína do rock
Marcelo Scherer reflete que, por ser um moleque ouvindo rock predominantemente masculino, Shirley Manson se tornou sua “primeira heroína do rock”. Shirley Manson não se encolhe, sendo uma voz ativa em várias questões, como o feminismo e a experiência de ser mulher na indústria musical. Ela também aborda temas importantes, como o envelhecer (etarismo) em um meio que exige jovialidade.
Virgílio Migliavaca conclui que o disco de estreia do Garbage é um bom álbum para aqueles com um gosto mais tradicional no rock. A banda fez uma “estranheza pop”, pegando a tecnologia de estúdio disponível nos anos 90 e criando um álbum coeso, que passa “lisaço do início ao fim”. O álbum serve como uma excelente porta de entrada para que ouvintes possam buscar um outro olhar sobre a música.