Nesta edição especial do podcast “Redação DISCONECTA”, o ouvinte é transportado para uma celebração marcante: os 30 anos do icônico álbum “…And Out Come the Wolves” da banda Rancid.
Apresentado por Marcelo Scherer e Luis Fernando Brod, e com a participação do “bestseller” do canal, Afonso Scherer, o episódio RD 072 não só mergulhou na história e no legado do disco, mas também descreveu um panorama sobre a cultura punk californiana dos anos 90 e o papel da música como espelho social e ferramenta de conexão.
O Legado e a integridade do Rancid
O álbum “…And Out Come the Wolves” é um marco. Ele é amplamente reconhecido por sua pioneira fusão de punk com ska, rocksteady e raggae, definindo um estilo que se tornaria a assinatura do Rancid. Embora os dois primeiros discos da banda, sejam considerados “maravilhosos”, este álbum especificamente marcou uma nova e definitiva fase para o grupo. Lars Frederiksen, vindo do UK Subs, trouxe uma forte veia Street Punk, enriquecendo ainda mais a sonoridade da banda.
Um dos pontos mais notáveis da carreira do Rancid, e destacado no podcast, é a sua postura de “dizer não às grandes gravadoras”. Há um famoso boato, nunca desmentido, de que a cantora Madonna teria tentado contratar a banda para sua gravadora, chegando a enviar uma foto nua para Tim Armstrong. Essa recusa e a posterior criação de sua própria gravadora, a Hellcat, reforçam a autenticidade e a integridade da banda. O sucesso comercial foi impressionante: o álbum alcançou disco de platina, um feito “bizarro” para uma banda punk, superando o disco de ouro que “Let’s Go” já havia conquistado.
O punk californiano como reflexo de uma geração
Os anos 90 foram um período intenso para o punk californiano, e o Rancid emergiu desse contexto. O podcast contextualizou a banda como um reflexo do “cenário terrível” dos anos 80, marcado pelo governo Reagan, guerras, o auge da AIDS, o uso de drogas e a opressão policial. A juventude da época, muitas vezes sem “expectativa nenhuma”, encontrava na música uma válvula de escape para relatar seu cotidiano, suas frustrações e a busca por identidade.
A discussão não se esquivou de temas delicados, abordando os problemas pessoais de membros da banda: Tim Armstrong com drogas e Lars Frederiksen com alcoolismo. Foi enfatizado que esses vícios estavam intrinsecamente ligados ao ambiente social e à tentativa de fugir da realidade, mostrando que a adicção não surge do nada, mas de um contexto complexo.
A música como conexão e descoberta cultural
Para a geração dos anos 90, a MTV e a Vans Warped Tour foram fontes cruciais de descobertas musicais, moldando gostos e comportamentos. Além disso, videogames como Tony Hawk, FIFA e Rock ‘n Roll Racing, bem como o cinema de Quentin Tarantino, foram plataformas importantes que expuseram novas músicas e contribuíram para a formação cultural da época. Essa multiplicidade de mídias conectadas criou um ambiente rico para a propagação do punk e de toda uma estética e comportamento.
A evolução e diversidade do punk
O Rancid experimentou com sua sonoridade, com um álbum posterior a “…And Out Come the Wolves” sendo comparado ao “Sandinista!” do The Clash devido à sua natureza experimental e mistura de estilos, o que demonstra a tentativa da banda de não se limitar a uma única forma de expressão.
A produção de Jerry Finn, que trabalhou com bandas como Blink-182, Green Day e Pennywise, foi fundamental para tornar o punk “mais pop” sem que as bandas perdessem a essência de suas letras e sentimentos. Essa abordagem permitiu que o punk atingisse um público mais amplo através de canais como a MTV.
Em contraste, foi mencionada a cena Straight Edge de Washington DC, com bandas como Minor Threat e Fugazi, que propunham um caminho de sobriedade e lucidez para expressar a raiva e enfrentar a realidade, um contraste ao lifestyle autodestrutivo muitas vezes associado ao rock and roll.
Reflexões críticas e a música como terapia
O podcast também se aventurou em reflexões sobre a cultura contemporânea. Foi levantada a questão da “pós-verdade” e da desinformação em um cenário de polarização política e manipulação nas redes sociais. A crítica se estendeu à massificação dos conteúdos e aos algoritmos das plataformas de streaming, que podem levar à “armadilha do streaming”, onde o ouvinte se perde em um mar de opções sem realmente buscar novas descobertas.
Uma forte crítica foi dirigida à sexualização explícita e “nojenta” presente em muitas letras musicais contemporâneas, especialmente quando atingem crianças, fazendo a distinção clara entre liberdade e libertinagem. A importância de buscar as raízes e o contexto das coisas foi ressaltada para evitar a perda de referências.
Para finalizar, Marcelo destacou uma importante reflexão: a música é terapêutica, mas não é terapia profissional. Ela pode ser uma “porta de entrada” para assimilar problemas e sentimentos, mas é crucial buscar ajuda profissional para lidar com questões de saúde mental de forma acadêmica e científica.
Os anfitriões compartilharam suas músicas favoritas do álbum: Marcelo escolheu “Old Friend” e “Olympia, WA”, enquanto Afonso destacou “Time Bomb” e também “Olympia, WA” pela sua beleza e contexto.
O episódio se encerrou com a promessa de futuros debates enriquecedores, incluindo um episódio dedicado a Green Day, com foco nos álbuns “Dookie” e “American Idiot”, e uma imersão na cena Straight Edge de Washington DC, com um episódio do “Redação DISCONECTA” sobre a cena de Washington DC.