O Redação DISCONECTA (RD), o programa semanal que se dedica a contar histórias de discos e da música, dedicou a sua edição ao álbum Bossanova, do Pixies, lançado em 1990. O disco completa 35 anos e é considerado por muitos, como uma obra subestimada.
Luis Fernando Brod, Marcelo Scherer e Julio Mauro mergulharam neste álbum que marcou uma fase de transição e experimentação para a banda de Boston. O RD notou que Bossanova se destaca dos aclamados antecessores, Surfer Rosa e Doolittle. Enquanto Doolittle é o suprassumo da banda, repleto de clássicos como “Here Comes Your Man” e “Debaser”, Bossanova é caracterizado por influências noise, muito experimentalismo e poucos clássicos fáceis de assimilar.
Um disco difícil de ouvir
Julio Mauro classificou o álbum como “difícil de ouvir” para quem não está habituado com rock experimental e melodias que não são “tão cantaroláveis”. Ele confessou a sua experiência de primeira audição, às 8 horas da manhã, dizendo que se sentiu incomodado e chegou a perguntar quanto tempo faltava para o disco terminar, classificando a experiência como “porrada”. Marcelo Scherer concordou, afirmando que o disco “bateu estranho”. Os apresentadores chegaram a sugerir que Bossanova seria o “Goo do Pixies”, citando o clássico do Sonic Youth, no sentido de ser o mais desafiador para o ouvinte.
O álbum é notavelmente menos óbvio que os quatro primeiros da banda e demarca uma diferença clara de estética pop, ou seja, de ser acessível e popular. A proposta do álbum é de ser barulhento, com vocais que, em faixas como “Blow Away”, ficam “enterrados no meio dos instrumentos”, algo que pode incomodar quem busca mais balanço entre voz e instrumentação.
Ufologia, transição e tensão
O Pixies abordou temas de ufologia, alienígenas e fenômenos paranormais em músicas como “Stormy Weather” e “The Happening”. Essa temática gerou a reflexão dos apresentadores sobre a influência da banda em outros grupos. Notou-se que o Foo Fighters, banda de Dave Grohl, é totalmente focada em ufologia, e Dave Grohl é comprovadamente fã do Pixies, tanto quanto Kurt Cobain era.
O disco foi concebido em um momento de mudança geográfica e desgaste. A banda se mudou de Boston, um estado gelado, para Los Angeles, um local ensolarado. Luis Fernando Brod sugeriu que essa mudança pode ter sido o catalisador para as influências de surf music notadas no álbum, especialmente porque Black Francis escreveu muitas músicas dirigindo pela costa.
Bossanova foi gravado rapidamente – os músicos estavam com o disco pré-produzido em apenas duas semanas. Esse período intenso de trabalho (com cinco lançamentos consecutivos entre 1987 e 1991) levou a um desgaste natural entre os integrantes. Nesse contexto, a baixista Kim Deal começou a se dispersar, aumentando o atrito com Black Francis. Kim Deal chegou a se ausentar para gravar com seu projeto paralelo, The Breeders. Todas as músicas de Bossanova foram escritas por Black Francis.
O Gênio minimalista e o mágico
Apesar das tensões e da dificuldade em lidar com Black Francis, o programa destacou a excelência musical dos membros remanescentes. O guitarrista Joey Santiago foi elogiado por ser “minimalista e certeiro”, criando “camadas” e “texturas” com a guitarra, um trabalho que o programa compara, guardadas as devidas diferenças, ao de The Edge do U2.
Uma curiosidade inusitada sobre a banda revelada pelos apresentadores é que o baterista, David Lovering, nas horas vagas, é um mágico profissional.
Legado de coragem
Embora seja um disco difícil, Bossanova é considerado por Luis Fernando Brod como um “disco corajoso” de transição e transformação. A experimentação do Pixies, que mistura influências como literatura beat, surrealismo, ficção científica dos anos 50 e surf music, mostrou às bandas subsequentes que era possível explorar “outros universos”. É mencionado que bandas como Radiohead, Weezer e Smashing Pumpkins citam o Pixies como uma grande influência.
Embora o programa tenha notado o alto nível de experimentalismo, Bossanova foi um sucesso comercial, especialmente na Inglaterra, expondo o Pixies a uma audiência maior.
O Redação DISCONECTA, que traz sempre o melhor da música e “algumas outras mentiras”, vai ao ar todas as terças-feiras.




