45 anos de “Back In Black” do AC/DC | RD#069

Marcelo Scherer
12 minutos de leitura
Capa podcast Redação DISCONECTA ep 69.

O podcast “Redação DISCONECTA”, apresentado por Luis Fernando Brod, Julio Mauro e Victor Persico, dedicou um episódio especial para celebrar os 45 anos do icônico álbum “Back In Black” do AC/DC. A discussão aprofundou-se nas complexidades por trás da criação deste marco do rock, abordando desde a trágica morte de Bon Scott até as polêmicas sobre a autoria das letras e o legado do disco.

Um disco de transgressão e resiliência

“Back In Black” é descrito como um ponto de virada e “transgressão” para o AC/DC. Lançado em 1980, apenas cinco meses após a morte de seu carismático vocalista original, Bon Scott, o álbum nasceu da resiliência da banda. Os apresentadores ressaltaram que, naquele momento, “a banda tinha tudo para acabar”, mas conseguiu encontrar uma “força” para seguir em frente e entregar uma obra que se tornaria um clássico.

A trágica morte de Bon Scott

Bon Scott faleceu em 19 de fevereiro de 1980, oficialmente devido a “intoxicação alcoólica” após uma noite de intensa bebedeira. Embora houvesse especulações sobre asfixia ou overdose, o álcool foi apontado como a causa principal. No entanto, o jornalista Jess Fink, autor de “Bon: The Last Highway”, levanta a hipótese de que Scott já apresentava indícios de uso de heroína e cocaína antes de sua morte, além do alcoolismo. O baixista do UFO, Pitway, foi inclusive mencionado como a pessoa que teria “empurrado” a droga para Bon na noite de sua morte, e uma das últimas fotos de Bon vivo é com ele.

Foi debatido se o ritmo frenético da banda – que lançou sete discos em cinco anos, com turnês consecutivas – contribuiu para o “esgotamento” de Bon Scott e o agravamento de seus vícios. A pressão para manter a “sanidade nos palcos” e a busca por “viver da música” podem ter levado ao abuso de substâncias. Apesar da perda, o pai de Bon Scott teria encorajado a banda a continuar, afirmando que seu filho “desejaria que vocês continuassem”. Pouco mais de um mês após a morte de Bon, em 29 de março, o AC/DC encontrou seu novo vocalista, Brian Johnson, que vinha da banda Geordie.

A polêmica da autoria das letras de “Back In Black”

Um dos pontos mais controversos e reveladores discutidos no podcast diz respeito à autoria das letras de “Back In Black”. Apesar de Brian Johnson ser creditado, há fortes “indícios de que o Brian não escreveu as letras e nem o Angus e nem o Malc, ninguém, foi o Bon”. Um dos fatos mais contundentes é que a família de Bon Scott “até hoje recebe os royalties do disco”.

Demos da banda também contradizem as declarações de Angus Young, pois Bon Scott teria tocado bateria em faixas como “Let Me Put My Love Into You” e “Have a Drink on Me”, algo que Angus negou em relação à demo de “Hells Bells”. A lenda do “caderninho desaparecido” de Bon Scott foi amplamente explorada. Na noite anterior à sua morte, Bon teria ligado para uma namorada, Margaret Silver Smith, convidando-a para ir a um bar para “comemorar porque ele já tinha terminado todas as letras do back do novo álbum”. No entanto, após sua morte, “a única coisa que sumiu e até hoje ninguém encontrou foi o caderno do Bons Cots”.

Uma ex-namorada de Bon Scott, conhecida como “Holly X” no livro de Jess Fink, afirmou que Bon escreveu as letras e que passagens em “You Shook Me All Night Long” continham referências pessoais, como “American Tights” para o mercado americano, “Shar eyes” (olhos verdes) que ela possuía, e “double time” em referência a um cavalo dela. A estranheza aumenta ao considerar que Brian Johnson, que “não escreveu letra nenhuma” em sua banda anterior, o Geordie, teria supostamente escrito canções como “You Shook Me All Night Long” e “Hells Bells” em “menos de 5 meses”.

A relação de Bon Scott com os irmãos Young (Angus e Malcolm) foi descrita como “muito difícil”, visto que o AC/DC era considerado uma “empresa familiar”. Malcolm era quem “mexia os pauzinhos”, enquanto Angus era o “fatality” nas decisões. A impressão deixada é que Bon Scott era “descartável” para eles, uma percepção que foi comparada à futura substituição de Brian Johnson por Axl Rose.

Temática lírica: Sexo, prazer e hedonismo

Os hosts também discutiram a temática “grosseira”, de “putaria” e “consentimento sexual” presente nas letras do AC/DC, especialmente em “Back In Black”. Músicas como “Given the Dog a Bone” são analisadas como “insinuação sexual do começo ao fim”, com “um pouco de humor talvez”, refletindo uma celebração do “sexo, bebida, prazer” e da “sexualização do corpo da mulher”.

Foi questionado se um disco com essa temática seria “bem aceito pela sociedade em geral” nos dias atuais, podendo até ser “cancelado”. Exemplos como “Big Balls” (do álbum “Dirty Deeds Done Dirt Cheap”), que usa um trocadilho entre festas luxuosas e o sentido sexual da palavra “balls”, e “Whole Lotta Rosie” (do “Let There Be Rock”), que descreve uma ex-namorada real de Bon Scott com medidas exageradas, foram citados. A natureza explícita de “You Shook Me All Night Long” também foi destacada, comparando a mulher a uma “máquina” em um ato sexual. Curiosamente, o AC/DC foi apontado como um “exemplo perfeito” de banda de rock que aborda temas sexuais de forma “escancaradamente sobre putaria”, de forma similar ao funk, embora se ressalte que o rock tem “mais melodia”.

Produção e sucesso estratosférico

O sucesso estrondoso de “Back In Black” também se deve à produção de Robert “Mutt” Lange, conhecido por elevar a qualidade sonora de bandas como Def Leppard. O álbum vendeu “50 milhões de cópias”, tornando-se o segundo disco mais vendido da história, atrás apenas de “Thriller” de Michael Jackson. Ele conquistou 12 vezes platina na Austrália (um recorde) e 22 vezes platina nos Estados Unidos.

“Back In Black” se tornou a “assinatura” do AC/DC, sendo instantaneamente reconhecido como “Smoke on the Water” do Deep Purple ou “Stairway to Heaven” do Led Zeppelin. Sua popularidade é tamanha que “quatro em cada 10 pessoas” citam uma música dele ao mencionar o AC/DC, sendo conhecido por “osmose” até por crianças. A faixa-título é tão essencial que a banda “não pode deixar de tocar” nos shows. Uma curiosidade revelada é que a versão brasileira do disco é a única que começa com a faixa “Back In Black” no lado A, devido a um “erro de impressão”.

O legado pós-“Back In Black” e a evolução da banda

“Back In Black” “alavancou o AC/DC para todos os cantos do planeta”. Os apresentadores debateram suas preferências entre a “crueza” da fase Bon Scott e a fase “mais bem produzida” de Brian Johnson. A carreira pós-“Back In Black” é vista com “altos e baixos”, com alguns discos considerados “suspeitos” em comparação com os sete primeiros.

Problemas de saúde e mudanças na formação também foram abordados:

  • Brian Johnson enfrentou problemas de audição, chegando a ter “um dos tímpanos estourados” devido ao volume dos shows. Uma teoria conspiratória foi levantada sobre se isso foi “friamente calculado” para justificar a entrada de Axl Rose.
  • A própria voz de Axl Rose teria sido comprometida durante a turnê com o AC/DC, devido ao estilo vocal forçado exigido pelas músicas.
  • Exemplos de artistas como Paul Stanley (Kiss) e Ozzy Osbourne foram citados para ilustrar como a idade exige adaptações nas performances, com Paul Stanley afirmando que baixou o tom das músicas e Ozzy entregando shows emocionantes apesar de suas limitações físicas.
  • A importância de Malcolm Young foi ressaltada: ele era a “cola que grudava todo mundo”, responsável pelos “acordes”, “arranjos” e “levada” que definiam o som do AC/DC. Sua ausência atual é lamentada.
  • Outros membros como o baixista Cliff Williams, que se aposentou por cansaço, e o baterista Phil Rudd, que teve problemas legais mas manteve seu estilo de vida hedonista mesmo em prisão domiciliar, também foram mencionados.

Apesar de todas as adversidades e da idade avançada de seus membros, o AC/DC “continua sendo uma das principais forças do hard rock”.

Músicas favoritas e destaques

Entre as faixas favoritas do álbum, um dos apresentadores destacou “Rock and Roll Ain’t Noise Pollution”. Outro revelou preferência por “Shoot to Thrill”, associando-a à cena do filme “Homem de Ferro” e à memória afetiva de assistir ao show “AC/DC Live 92” na TV Bandeirantes. “You Shook Me All Night Long” também foi mencionada como favorita, tanto por sua história controversa de autoria quanto por sua temática explícita.

Outras músicas como “Given the Dog a Bone” e “Let Me Put My Love Into You” foram citadas como exemplos de faixas “de pura sacanagem”, repletas de “sensualidade” e “segundas intenções”, sendo que “Let Me Put My Love Into You” chegou a ser censurada em algumas rádios nos EUA. “Hells Bells” é outra faixa icônica, famosa pelo sino real que é usado nos shows, cuja presença foi inviabilizada no Rock in Rio de 1985 devido ao peso.

O episódio do “Redação Disconecta” proporcionou uma análise aprofundada e cheia de controvérsias sobre “Back In Black”, indo além do seu status de marco do rock e sucesso comercial. Ele desvendou as complexas e, por vezes, sombrias circunstâncias que rodearam sua criação, especialmente a duradoura sombra de Bon Scott sobre as letras e a notável resiliência da banda diante da tragédia. O podcast convida os ouvintes a revisitarem o álbum e toda a discografia do AC/DC com um olhar mais crítico e informado.

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