No podcast “Redação DISCONECTA”, os hosts Marcelo Scherer, Julio Mauro e Luis Fernando Brod dedicaram um episódio especial aos 50 anos do icônico álbum Born to Run de Bruce Springsteen, lançado em 25 de agosto de 1975. Este disco marcou a grande aposta de Springsteen para entrar no mainstream após seus dois primeiros álbuns não terem alcançado grande sucesso comercial na época — embora hoje sejam considerados clássicos.
O álbum é frequentemente categorizado como Heartland Rock ou rock de arena. Bruce Springsteen colocou sua “alma” neste trabalho, pois o considerava sua última chance antes de talvez voltar a ser operário de fábrica. Ele se inspirou em artistas como Roy Orbison, Phil Spector e The Drifters, buscando a energia de Phil Spector e o peso de Elvis Presley. A ideia para a faixa-título surgiu de um riff de guitarra e da frase “tramps like us baby we were born to run”. O disco, concebido como uma história ou enredo, reflete sua forma de compor, influenciada pelos filmes que assistia, já que não lia muitos livros.
A produção de Born to Run foi intensa:
- A gravação e mixagem do álbum levaram 15 meses.
- A faixa-título, “Born to Run”, por si só, demorou seis meses para ser mixada até Springsteen alcançar o som desejado, trabalhando “até o limite”.
- A exigência de Springsteen foi tanta que metade da banda teve que ser substituída.
- Inicialmente, Bruce não estava satisfeito com o resultado final, chegando a jogar a fita master na piscina de um hotel. Ele só foi convencido a lançar o disco por John Landau, que argumentou que torná-lo ainda mais grandioso poderia ser sua fraqueza.
A vida e carreira de Bruce Springsteen foram contextualizadas no podcast:
- Ele veio de uma família de classe trabalhadora de New Jersey, com sua mãe como secretária e pai operário de fábrica. Moravam no subúrbio, sem luxo, dividindo casa com os avós.
- Filho de imigrantes italianos e irlandeses, seus primeiros contatos com a música foram na igreja, através da música gospel.
- Springsteen observou que, apesar da segregação racial nos EUA na época, em seu subúrbio, brancos e negros estavam “na mesma merda”, o que atenuava as divisões entre seus amigos. Isso o levou a insistir na presença de Clarence “Big Man” Clemons na banda.
- Sua carreira começou com dificuldades comerciais nos dois primeiros álbuns, o que o fez considerar desistir e se mudar para a Califórnia.
- Apesar disso, Bruce sempre se destacou pelas performances ao vivo, fazendo shows de longa duração em clubes e ginásios, construindo sua base de fãs “degrau por degrau”.
- Seu processo de composição envolvia observar o cotidiano das pessoas durante suas viagens, anotando frases em um caderno.
- Ele é conhecido como “The Boss” por ser a “voz” da classe operária americana, com a qual mantém uma forte identificação.
- Comparado a Billy Joel, Springsteen é notado por ter assumido o controle de sua carreira mais cedo, evitando os problemas financeiros que Joel enfrentou com empresários.
A E Street Band teve um papel fundamental no sucesso de Born to Run:
- Clarence Clemons, o “Big Man”, saxofonista, foi descrito como essencial — “não existiria Bruce Springsteen sem Clarence Clemons”. Springsteen fez questão de colocá-lo na capa do álbum, lado a lado, para destacar sua importância e desafiar preconceitos raciais. O solo de saxofone de Clemons em “Thunder Road” é particularmente elogiado.
- Max Weinberg se tornou o baterista que Springsteen “sempre quis”, demonstrando uma sintonia perfeita durante os ensaios e permanecendo na banda até hoje.
- Steven Van Zandt, guitarrista, entrou na banda durante este período, coordenou a parte de metais do disco e participou da faixa “10th Avenue Freeze Out”. Ele é reconhecido por sua carreira solo de sucesso e por sua atuação, como em The Sopranos.
O álbum Born to Run é considerado um marco:
- Sua qualidade é tamanha que é possível ouvi-lo “seis vezes em seguida” sem ver o tempo passar.
- Tem apenas 39 minutos de duração e oito músicas, sendo “curtinho”.
- “Born to Run” e “Thunder Road” são as duas músicas do álbum que aparecem no Greatest Hits de Bruce Springsteen, e as fotos deste álbum são todas da sessão de Born to Run, o que ressalta a importância do disco para sua carreira.
- Músicas destacadas no podcast incluem “Thunder Road”, “Backstreets”, “Born to Run”, “Jungleland” (quase 10 minutos de duração) e “10th Avenue Freeze Out”.
- A capa do álbum, com Bruce e o “Big Man” Clemons, é emblemática da parceria entre eles.
Outros álbuns de Springsteen mencionados foram Born in the U.S.A. (considerado seu álbum mais conhecido por muitos) e Nebraska, descrito como mais introspectivo e acústico, com uma lenda sobre uma versão com banda que aguarda ser lançada. Um filme sobre a história de Nebraska deve ser lançado em outubro. A música “Streets of Philadelphia”, que ganhou um Oscar, também foi citada como um momento de grande impacto na cultura popular.
A discussão ressaltou que a música de Springsteen, um rock mais clássico ou Heartland Rock, talvez não seja o “gosto do brasileiro”, mas quem a conhece “vai se viciar”. A percepção é que muitos fãs só apreciam a profundidade de sua obra com a idade, à semelhança de outros artistas como Bob Dylan e Neil Young. O legado de Born to Run e de Bruce Springsteen é que ele é um “showman” inigualável, capaz de emocionar o público e manter shows lotados, reafirmando sua posição como “The Boss”.