Luis Fernando Brod, Julio Mauro e Eduardo Luppe estiveram juntos para desmembrar um disco que é, simplesmente, um “discaralhaço” e um marco que completou 50 anos em 2025: Hair of the Dog, do Nazareth.
O ponto de virada
O Nazareth já vinha aprimorando sua sonoridade em álbuns anteriores, mas, para o Brod, a trinca Loud ‘n’ Proud (73), Rampant (74) e Hair of the Dog é a “trinca perfeita” da banda. Lançado em março de 1975, este disco é o que vai fazer a banda sair de uma “simples, sei lá, sincera, posso adjetivar assim mais simples”, ou uma “mera banda de abertura, enfim, para começar a ser uma banda principal”.
O disco foi um sucesso estrondoso, vendendo 2 milhões de cópias, sendo que 1 milhão foi apenas nos Estados Unidos, o que fez o Nazareth explodir de vez no mercado americano.
Adeus, Roger Glover: O som mais cru
O que tornou Hair of the Dog tão especial foi a mudança de rota na produção. Este foi o primeiro álbum em que a banda deixou de trabalhar com Roger Glover, que havia produzido os discos anteriores. O guitarrista Manny Charlton assumiu a produção porque Glover achava que o Nazareth estava indo para uma direção errada; ele queria que fossem um “novo Deep Purple nem um Rainbow da vida”, mas a banda queria um caminho diferente, com referências de bandas americanas, querendo ser “mais um Eagles”.
A saída de Glover deu à banda a liberdade criativa que eles buscavam. A decisão foi a melhor que eles poderiam ter tomado, resultando em um som mais pesado, mais denso, mais cru e diretão, com uma sonoridade mais fiel ao que eles faziam no palco. Essa pegada mais densa é notável em faixas como “Miss Misery” (que tem uma rifzeira que “talvez lembre um pouquinho aqueles rifs do Black Sabbath”) e a faixa longa “Please Don’t Judas Me”, que traz toques progressivos sutis, com introdução longa e solos longos.
Os petardos e as curiosidades
O sucesso de Hair of the Dog se deu muito por conta de duas músicas.
1. Love Hurts: Esta balada foi o tiro certeiro para atingir o mercado americano, e hoje é o maior sucesso da banda. O mais curioso é que nem é uma música deles; é um cover dos Everly Brothers. O Nazareth, conhecido como “o rei dos covers”, pegou a música original (que, curiosamente, se parece com uma música havaiana ou com o tema do filme Ghost) e a “virou do avesso”. Ela alcançou o Top 10 da Billboard e é a música que marcou a impressão digital dos caras. O disco fez tanto sucesso, que, embora seja um disco pesado, foi justamente a balada que abriu as portas para o Nazareth.
2. Hair of the Dog: A faixa-título é descrita como “divertida” e viciante. A letra é uma analogia sobre uma mulher experiente que encontrou alguém à sua altura, quando o vocalista diz: “agora você está mexendo com filho da puta” (o “herdeiro de cachorro”). Os detalhes de produção que a tornam um clássico incluem a presença do talk box no solo e o cowbell (sininho da vaca) que está em quase toda a música, logo desde a primeira faixa.
Influência e legado
O álbum influenciou uma cacetada de bandas. A sonoridade crua e visceral, elogiada pela imprensa da época, que destacava que o Nazareth possuía “um dos vocais mais intensos e singulares do hard rock”, foi aclamada por entregar um “rock de arena eficaz, direto e convincente”.
Uma das maiores influências é o Guns N’ Roses. O próprio Axl Rose é super fã de Dan McCafferty. Inclusive, antes do Appetite for Destruction (87), o Axl não cantava naquele tom rasgado. Ele só começou a treinar e imitar o estilo de McCafferty durante um ensaio de “Hair of the Dog”, o que moldou a voz que conhecemos!
É um puta de um disco. Se você ainda não ouviu, faça um serviço pra gente: ouça toda a discografia do Nazareth, porque é boa “até um certo ponto”.