3 discos do novo R&B: sofisticação na era do bedroom pop

Virgilio Migliavacca
6 minutos de leitura
Capa de Essex Honey, de Blood Orange.

O R&B, especialmente nos Estados Unidos, consolidou-se há bastante tempo como um dos gêneros de maior sucesso da cultura pop, incorporando elementos da disco music, do funk, soul e hip-hop, sempre em sintonia com as tendências de cada época.

Entre as ramificações mais sofisticadas do gênero — herdeiras diretas da soul music e da produção requintada do sophisti-pop dos anos 80 — destacam-se nomes como Maxwell e D’Angelo, artistas surgidos nos anos 90 que, mesmo com lançamentos esparsos e exposição midiática discreta, construíram repertório sólido e público fiel.

É dentro dessa linhagem que surgem três álbuns lançados em agosto de 2025, obras que reafirmam a tradição do R&B mais introspectivo e refinado, mas que também a renovam. Produzidos com a facilidade técnica dos estúdios domésticos e a estética do “menos é mais”, os discos apontam caminhos possíveis para o gênero: mais intimismo, texturas minimalistas e emoção, mas conectada com problemas contemporâneos de nosso dia a dia.

Dijon – Baby

Lançado em 15 de agosto, Baby é o novo trabalho do cantor, compositor e multi-instrumentista americano Dijon Duenas, ou simplesmente Dijon. Após participação de destaque no disco SWAG II, de Justin Bieber, o artista entrega um álbum profundamente pessoal, tendo como tema principal sua recente paternidade.

Sem singles prévios, o disco se revela uma obra coesa, de audição fluida e atmosfera homogênea — uma escolha que valoriza a experiência do álbum completo. Musicalmente, Dijon aposta em texturas cruas e estranhas, estruturas rítmicas truncadas e uma produção intencionalmente contida. O resultado é um R&B que soa minimalista e emocional.

Recebido com entusiasmo pela crítica, Baby obteve nota 9.0 da rigorosa Pitchfork, reforçando a posição de Dijon como um dos nomes mais promissores da cena atual.

Nourished By Time – The Passionate Ones

Sob o pseudônimo Nourished By Time, o americano Marcus Elliot Brown entrega seu segundo disco, The Passionate Ones, lançado em 22 de agosto. Se em Erotic Proibitic 2 (2023 que, apesar do “2” é mesmo seu debut) ele explorava um R&B voltado para as pistas, aqui o tom é mais contido e contemplativo, ainda que não menos instigante.

As batidas desaceleram e o foco recai sobre as letras, que misturam aspectos ora românticos, ora políticos. Há críticas sutis ao capitalismo e seus efeitos na saúde mental da juventude, tratadas com inteligência e delicadeza.

Diferente dos outros álbuns desta lista, The Passionate Ones apresenta mais variação entre faixas, sem abrir mão da coesão geral. O encerramento com a bela faixa-título é um dos pontos altos de um disco que arrisca uma diminuição no escopo do trabalho do artista, caminho mais arriscado, mas mais recompensador do que se imaginava.

Blood Orange – Essex Honey

O artista com carreira mais longeva desta lista, Blood Orange — projeto do britânico radicado nos EUA Dev Hynes — retornou em 29 de agosto com seu sexto trabalho de estúdio, Essex Honey, primeiro trabalho de estúdio desde uma mixtape lançada em 2019. Diferente dos flertes recentes com o dance-pop, aqui ele mergulha em um território mais íntimo, em homenagem à mãe falecida em 2023 e às suas raízes inglesas.

O disco apresenta uma sonoridade delicada, e com uma produção intencionalmente mais esmerada que a dos discos já citados, com canções que mudam de andamento repentinamente, e se conectam por meio de interlúdios incluídos dentro do final de algumas faixas, dando uma sensação de continuidade, que obriga o ouvinte a uma audição completa do trabalho.

Outro destaque é o caráter colaborativo do projeto — marca herdada da cultura hip-hop, diga-se de passagem. Dentre as várias participações, destaque para as de Caroline Polachek e Lorde, que não tiram em nenhum momento o protagonismo de Hynes.

Um novo luxo: sensibilidade e simplicidade

Esses três lançamentos apontam para um R&B que não busca o exagero nem a superprodução característicos das paradas de sucesso. O que os une é a valorização de climas intimistas e de uma sofisticação sem ostentação — como um quarto silencioso onde cada detalhe sonoro importa.

São discos que apontam uma tendência para o novo R&B, menos interessado em preencher totalmente o espaço e mais atento ao silêncio. Não devem alcançar sucesso massivo, assim como seus predecessores aqui citados também não alcançaram, mas possivelmente encontrarão seu público, mais disposto a fugir das superproduções atuais.

Compartilhar esse artigo
Nenhum comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *