Ace Frehley adentrou na nave espacial e se mandou deste planeta. Escrevo isso enquanto toca Fractured Mirror, faixa que fecha o seu álbum solo de 1978. E que álbum!
E que morte besta. Caindo, levando um tropeção, batendo a cabeça. Chega a ser impossível de imaginar uma cena dessa.
Falar do Kiss, da sua história, sem mencionar o peso imensurável de Ace Frehley é um pecado. Desde o dia em que ele entrou para fazer o teste para guitarrista da banda já surpreendeu. Não apenas por seu modo de tocar, seu jeito e sim por estar usando dois pares de tênis de cores diferentes.
Foi com a persona de Spaceman que ele conquistou. Quem vai falar que não dá um sorriso com aquele riff simples, porém poderoso, de Rock and Roll All Nite? Ou o solo energético de Shock Me?
Com o Kiss foram 11 álbuns de estúdio e oito ao vivo. Quer saber o que é peso? Ligue o Alive I no último volume. Sem medo de ser feliz… Vai por mim.
O Kiss era mais do que “Deuses do Rock”. Pode-se até dizer que são “Super Heróis do Rock”, visto aquele filme vergonhoso, porém engraçado, Kiss Meets The Phantom Of the Park, de 1978. Ace Frehley mandando raios pelas mãos, quem diria?
O mais surpreendente é que, como Ace disse em entrevista, “Nunca tive aula de guitarra. Sou uma anomalia, sou um músico sem formação, não sei ler música. Mas sou um dos guitarristas mais famosos do mundo”.
E acredite, se não fosse pelo Ace, pode ter certeza que uma geração após o nascimento do Kiss, que viriam a se tornar grandes nomes da guitarra, não iriam empunhar uma guitarra. Quer uma prova? O saudoso Dimebag Darrell. Faça uma pesquisa no Google e olhe a tatuagem que Darrell tinha no peito.
Apesar de pequena suas contribuições líricas, apenas 14 canções em todos os álbuns que participou, o Ace se destacava nos solos. Nas apresentações ao vivo, é como mágica assistir aquela Gibson Les Paul soltando fumaça e Ace Frehley em cima de botas com plataformas gigantescas.
Tão carismático, mais do que todos, que roubava a cena em todas as entrevistas, ao ponto de deixar Gene e Paul extremamente desconfortáveis. Uma besteira.
O Ace faz parte de uma geração que nos ensinou o que é o Rock and Roll. Uma influência que abriu as portas para cada vertente, vocês queiram ou não. Você pode ser thrasher, metalhead, grungeiro, o que for… Todos gostam dos clássicos do Kiss e se alimentam da força motriz dos solos de Ace.
Gene Simmons e Paul Stanley podem ser os donos mas, convenhamos, depois da saída de Ace Frehley e Peter Criss, a banda nunca mais foi a mesma. Eles deram mancadas? Sim. Mas o Kiss como ele é, puro até o osso, era com os quatro. Me desculpe quem discordar, mas é a verdade.
Infelizmente, o Ace também se torna mais um lembrete de que nos próximos 20 anos todas as nossas influências estarão do outro lado. E é difícil. E estranho que, pessoas que nunca vimos pessoalmente, possam fazer tanta diferença e doer tanto.
No final, só fica a risada do Ace Frehley que, mesmo com todas as brigas com Gene e Paul, os momentos de retorno que (algumas vezes) se concretizaram, provou que ele conseguiu se virar sem estar no Kiss. Só ouvir Frehley’s Comet de 1987. Puro hard rock. Uma essência perfeita do Kiss.
É exatamente isso que o Ace é: Pura essência.
Fica o nosso obrigado, não por ter aberto as portas, mas por arrombá-las.
Ace Frehley é gigante!
