fbpx

Dom Salvador: Um Pioneiro do Jazz e da Música Brasileira

Dom Salvador, nascido Salvador da Silva Filho, teve uma infância profundamente influenciada pela música. Criado em uma família que valorizava a cultura musical, Salvador foi exposto a uma vasta gama de estilos musicais desde muito cedo. Este ambiente prolífico serviu como um terreno fértil para o desenvolvimento de sua paixão e habilidade musical. Desde jovem, Salvador demonstrou um interesse particular pelo piano, um instrumento que rapidamente se tornou uma extensão de sua expressão artística, e que aprendeu a tocar sozinho.

O interesse de Salvador pelo piano não foi apenas uma mera curiosidade infantil. Com dedicação e prática, ele começou a dominar o instrumento, o que lhe permitiu explorar diferentes gêneros musicais. A música popular brasileira e o jazz foram dois estilos que exerceram uma influência significativa em sua formação. O jazz, com sua complexidade harmônica e liberdade rítmica, ofereceu a Salvador um novo universo de possibilidades musicais. Paralelamente, a música popular brasileira, rica em melodias e ritmos, proporcionou-lhe uma base sólida e diversificada.

À medida que Salvador crescia, sua habilidade no piano e seu entendimento dos estilos de jazz e samba foram se aprofundando. Ele passou a integrar esses elementos em sua prática diária, criando uma fusão única que mais tarde se tornaria sua assinatura musical. Essa combinação de jazz e samba, muitas vezes referida como jazz-samba, seria um dos pilares de sua carreira, permitindo-lhe inovar e contribuir de forma significativa para a música brasileira e internacional.

Ascensão na Carreira e Sua Vertente Artística

Dom Salvador iniciou sua carreira em São Paulo, mas foi ao se mudar para o Rio de Janeiro que ele realmente começou a se destacar no cenário musical brasileiro. Na efervescente capital cultural do Brasil, Salvador rapidamente ganhou notoriedade como pianista e compositor. Ele não se contentou em seguir apenas um caminho convencional; em vez disso, explorou uma fusão inovadora de jazz, samba, soul e outros ritmos brasileiros. Sua habilidade em integrar esses diferentes estilos de forma coesa e harmônica estabeleceu-o como um verdadeiro pioneiro e inovador na música.

O jazz-samba e o soul-samba, vertentes que Dom Salvador ajudou a popularizar, são exemplos claros dessa mescla. Esses gêneros combinam a improvisação e a sofisticação harmônica do jazz com a energia rítmica e o sentimento do samba e do soul. A capacidade de Salvador em transitar entre esses estilos de maneira fluida e natural é uma das razões pelas quais ele é tão respeitado tanto no Brasil quanto internacionalmente.

As parcerias ao longo de sua carreira também desempenharam um papel crucial em sua evolução musical. Trabalhando com nomes como Elis Regina, Jorge Ben Jor e Elza Soares, Salvador não só expandiu seu repertório, mas também absorveu influências que enriqueceram ainda mais sua música. Cada colaboração trouxe novos desafios e oportunidades, permitindo que ele experimentasse e incorporasse diversas sonoridades e técnicas em suas composições e performances.

O Álbum ‘Dom Salvador’ de 1969

O álbum ‘Dom Salvador’, lançado em 1969, é uma peça fundamental na história da música brasileira e do jazz. Este trabalho marcou um ponto de virada ao integrar de maneira inovadora elementos de jazz, samba e soul, criando um som único que viria a ser conhecido como jazz-samba ou soul-samba. Naquele período, o Brasil vivia um momento de efervescência cultural, apesar do cenário político conturbado com a ditadura militar. A música, como forma de expressão, encontrou em Dom Salvador um porta-voz que, através de suas composições, transmitia a complexidade e a riqueza da cultura brasileira.

Em 1969, o produtor de Salvador na CBS trouxe uma pilha de discos de funk e soul de uma viagem aos Estados Unidos: Kool & the Gang, Sly & the Family Stone, James Brown. A ideia era Salvador fazer algo semelhante, mas ele se arrepiou com a ideia. “Eu gostei do que ouvi, mas eu lhe disse, se for para copiar, não vou”, disse Salvador. “Eu fiz do meu jeito.”

O resultado, em uma grande mudança em relação ao jazz, acabou se transformando em uma gravação seminal do soul brasileiro, na qual Salvador interpretou o funk americano pelo prisma do samba. A capa do álbum exibia uma foto de Salvador, com olhar sério para a câmera, vestindo jaqueta de couro, com o braço estendido na mesa à sua frente e punho cerrado, em um gesto sutil de desafio. Ele chamou o álbum de “Dom Salvador”. O apelido pegou.

Ele conseguiu reunir um grupo de músicos talentosos para este projeto. Entre eles estavam o baterista Edison Machado, que já havia gravado e tocado com Tom Jobim, Luiz Bonfá, Stan Getz e o baixista Sérgio Barroso, que havia tocado ai com João Gilberto, Deodato, Tamba Trio, figuras proeminentes da cena musical da época. O álbum foi produzido com uma atenção meticulosa aos detalhes, resultando em uma qualidade sonora que ainda hoje é reconhecida e admirada.

O álbum ‘Dom Salvador’ foi bem recebido tanto no Brasil quanto internacionalmente, abrindo portas para Salvador e solidificando sua reputação como um dos grandes nomes do jazz e da música brasileira. Sua influência pode ser sentida até hoje, não apenas no jazz-samba, mas em diversas outras vertentes musicais que buscaram inspiração no trabalho deste pioneiro.

Vivência em Nova York e Influências na Cena Jazzística

Em seguida, Salvador lançou uma banda de samba-soul, Dom Salvador e Abolição. Ele e seus companheiros de banda exibiam penteados afro e camisas de abotoar coloridas com golas altas muito antes do movimento de soul brasileiro, conhecido como Black Rio, decolar no final dos anos 70.

Os dias do samba-soul foram um período particularmente decepcionante para Salvador pelo lado criativo, ele disse. Além de um líder exigente, Salvador era quase uma década mais velho que a maioria de seus companheiros no Aboliçã

No final dos anos 60, o governo deu início a uma repressão a estudantes, artistas e ativistas. Gilberto Gil e Caetano Veloso, fundadores do movimento Tropicália do Brasil, foram presos e depois exilados. Não estava claro se o regime agiria contra Salvador

Salvador foi ficando frustrado com a indústria da música e com sua banda. Tudo isso foi fermentando até a decisão de, quase por capricho, deixar o grupo. “Comecei a ficar com o cabelo grisalho”, ele disse. Alguns dos membros da banda formariam posteriormente a Banda Black Rio, o reverenciado grupo de funk considerado o Earth, Wind & Fire brasileiro

Dom Salvador mudou-se para Nova York no início dos anos 1970, buscando novas oportunidades e um ambiente propício para sua evolução musical. Nova York, reconhecida como o epicentro do jazz mundial, proporcionou a Salvador um cenário vibrante e diversificado, permitindo-lhe mergulhar na rica tapeçaria sonora da cidade. Ele rapidamente se integrou à cena jazzística, tocando em clubes icônicos como o Village Vanguard e o Blue Note, onde teve a oportunidade de se apresentar ao lado de músicos renomados.

Durante sua estadia em Nova York, Salvador colaborou com artistas influentes como Herbie Mann e Charlie Rouse, ampliando seu repertório e enriquecendo seu estilo musical. Essas colaborações permitiram-lhe experimentar fusões inovadoras de jazz, samba e soul, resultando na criação de um som único que refletia tanto suas raízes brasileiras quanto as novas influências adquiridas. A interação com outros músicos de jazz foi crucial para Salvador, pois lhe ofereceu uma perspectiva global e um ambiente de troca cultural intenso.

As influências musicais de Nova York foram determinantes para a evolução do estilo de Dom Salvador. Ele absorveu elementos do bebop, do hard bop e do soul jazz, incorporando esses elementos em suas composições e performances. A diversidade cultural da cidade também contribuiu para o enriquecimento de seu repertório, permitindo-lhe explorar novas sonoridades e técnicas. A vivência em Nova York não apenas aprimorou suas habilidades como músico, mas também consolidou seu papel como um inovador no cenário do jazz-samba e soul-samba.

O impacto de Dom Salvador na música brasileira e mundial é inegável. Sua capacidade de fundir estilos e criar algo novo o posiciona como um verdadeiro pioneiro. Ele não apenas contribuiu para a popularização do jazz-samba e soul-samba, mas também influenciou gerações de músicos, deixando um legado duradouro. A trajetória de Dom Salvador em Nova York exemplifica sua importância como um dos grandes nomes do jazz e da música popular brasileira, solidificando seu papel como um inovador e visionário no mundo musical.

Autor

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *