Vamos aos fatos: “Flaming Pie” (1997) é, de fato, um dos álbuns mais amados da carreira solo de Paul McCartney. Considerado por muitos fãs e críticos como seu melhor trabalho desde os anos 1970, o disco marcou um renascimento artístico para Macca, combinando nostalgia dos Beatles com uma abordagem intimista e madura.
Mas por que esse álbum, em particular, ganhou status cult? A resposta está em seu contexto emocional, suas colaborações especiais e uma sensação de volta às raízes. Vamos mergulhar na história por trás dessa obra-prima.
Nos anos 1990, Paul McCartney enfrentou um período turbulento. Havia a crise em seu casamento, onde o relacionamento com Linda McCartney (sua parceira musical e de vida desde 1969) estava sob pressão devido à sua luta contra o câncer de mama, e veio a falecer em 1998, apenas um ano após o lançamento deste disco. Havia a pressão artística, já que seus discos anteriores, como “Off the Ground” (1993), não tiveram o mesmo impacto comercial ou crítico. Houve o Projeto Anthology, onde entre 1994 e 1996, Paul se reuniu com George Harrison e Ringo Starr para o projeto “The Beatles Anthology”, que incluía a gravação de “Free as a Bird” e “Real Love” (baseadas em demos de John Lennon). Esse trabalho o fez revisitar sua própria história musical.
Mas mais ainda, além dos desafios com o casamento de Linda e a pressão artística, Paul McCartney enfrentou outro golpe emocional profundo nos anos 1990: a morte de sua mãe, Angela “Angie” McCartney, em 1996. Embora ela não fosse sua mãe biológica (Mary McCartney, sua mãe verdadeira, morreu quando ele tinha 14 anos), Angie teve um papel importante em sua vida adulta como madrasta e figura materna.
Angie McCartney, esposa de seu pai, Jim McCartney, desde 1964, foi uma presença constante na vida de Paul. Quando ela faleceu, em 1996, o álbum “Flaming Pie” já estava em produção, e essa perda – somada ao câncer de Linda – trouxe uma camada extra de introspecção às letras. Foi nesse clima que “Flaming Pie” nasceu – um disco que reflete maturidade, nostalgia e uma busca por simplicidade.
O título “Flaming Pie” vem de uma história que John Lennon inventou nos anos 1960 para explicar o nome dos Beatles (“Um homem em uma torta flamejante apareceu e nos batizou…”). McCartney usou essa referência como um símbolo de retorno às origens.
O disco conta com alguns destaques como “The Song We Were Singing”, uma viagem nostálgica aos anos 1960, com letras que remetem às jam sessions dos Beatles, “Flaming Pie”, um rock cru e descontraído, com Paul brincando com o próprio mito, “Calico Skies”, gravada em um único take acústico, e é uma das canções mais emocionantes de McCartney, escrita para Linda, “Beautiful Night”, contando com Ringo Starr na bateria, em uma das colaborações mais especiais do disco, “Little Willow”, uma balada delicada, dedicada à viúva de Ringo Starr, Maureen Starkey, após sua morte por leucemia e “The World Tonight”, com um riff maravilhoso e que, no clipe, mostra McCartney em múltiplas telas, como um quebra-cabeça de personalidades – talvez simbolizando suas muitas facetas (Beatle, solista, compositor íntimo, superstar).
Fora isso, o disco contou com um time de peso. Jeff Lynne (Elo) participou da produção, o que pode explicar o som mais limpo e vintage do disco, Ringo Starr na bateria de Beautiful Night, Steve Miller, que toca em várias faixas, Linda McCartney, que fez backing em duas faixas e até George Martin, que fez um belíssimo arranjo de cordas para Souvenir.
O disco foi gravado em estúdios caseiros e em Abbey Road, reforçando sua atmosfera intimista e foi aclamado por resgatare o “verdadeiro McCartney”, sendo considerado seu melhor trabalho desde Band on the Run (1973).
Se você acha que “Flaming Pie” é um dos melhores discos de Paul McCartney, não está exagerando. Ele representa um momento único em sua carreira – um equilíbrio entre passado e presente, entre dor e celebração.
Para fãs dos Beatles, é um presente nostálgico. Para ouvintes casuais, é um álbum coeso e emocionante. E para a crítica, foi a prova de que McCartney ainda tinha muito a dizer.
Se ainda não ouviu, está na hora de dar play e descobrir por que esse disco é tão especial.
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