Hall & Oates – Voices (1980): 45 anos de um divisor de águas

Luis Fernando Brod
6 minutos de leitura
Daryl Hall & John Oates. Foto: Rex Usa/Andre Csillag.

Em 1980, quando Daryl Hall e John Oates lançaram Voices, já não eram exatamente novatos no cenário musical. Tinham passado a década de 1970 tentando encontrar um equilíbrio entre o soul, o pop e o rock, obtendo reconhecimento com canções como She’s Gone (1973) e Sara Smile (1975). Mas ainda faltava algo que os posicionasse de vez como uma força dominante no pop norte-americano. Esse “algo” veio justamente com Voices, disco que, 45 anos depois, ainda soa como um marco da reinvenção da dupla e um ponto de virada em sua carreira.

O álbum foi o primeiro totalmente produzido pelos próprios Hall & Oates, gravado em Nova York e lançado pela RCA. Essa autonomia criativa permitiu que a dupla explorasse suas influências sem amarras. A sonoridade mistura pop-rock, soul e new wave, refletindo o espírito de um período em que o pop americano começava a dialogar com a energia pós-punk e a estética urbana do final da década de 1970.

Daryl Hall descreveu o processo como uma espécie de “manifesto pessoal”: eles queriam provar que não eram apenas bons intérpretes, mas também produtores capazes de moldar seu próprio som. O resultado é um disco ousado, diverso e surpreendentemente coeso, que conseguiu ampliar o alcance da dupla sem perder sua identidade.

O maior sucesso do álbum foi Kiss on My List, lançado como single em 1981 e rapidamente alçado ao primeiro lugar da Billboard. A canção representa bem a habilidade de Hall & Oates em unir melodia irresistível, arranjos sofisticados e uma produção que soa acessível sem ser simplista. É também um dos exemplos mais claros do caminho que a dupla seguiria durante os anos 1980, com uma série de hits que fariam deles a dupla de maior sucesso da década.

Outra faixa central é a regravação de You’ve Lost That Lovin’ Feelin’, clássico dos Righteous Brothers. Hall & Oates conferem à canção uma dramaticidade atualizada, em diálogo com sua estética soul-pop, mostrando reverência ao passado sem abrir mão da modernidade.

Mas Voices vai além dos hits. Everytime You Go Away, por exemplo, não chegou a ser single da dupla, mas anos depois se tornaria famosa na versão de Paul Young. Já How Does It Feel to Be Back, cantada por Oates, abre o disco com energia rock e se conecta ao clima da virada da década. United State e Gotta Lotta Nerve (Perfect Perfect), com seus arranjos mais ousados, revelam a influência da new wave e da cena nova-iorquina sobre a dupla.

Conexão com a época

Lançado em julho de 1980, Voices captou um momento de transição na música pop. A disco music estava em declínio, o new wave começava a ganhar espaço, e a MTV surgiria no ano seguinte, mudando para sempre a relação entre música e imagem. Hall & Oates, com sua combinação de soul refinado e pop urbano, se tornaram artistas perfeitos para essa nova era. O sucesso de Voices abriu caminho para a sequência avassaladora de hits em Private Eyes (1981), H2O (1982) e Big Bam Boom (1984).

Ao assumir as rédeas da produção, a dupla também mostrou um lado mais autoral, conquistando credibilidade que os diferenciava de outras duplas e bandas do período. É interessante notar como Voices não soa datado: os arranjos de sintetizador e guitarras limpas ainda têm frescor, e as harmonias vocais continuam sendo o grande trunfo de Hall & Oates.

Curiosidades

Kiss on My List foi inicialmente oferecida a outra artista, mas Hall decidiu gravá-la após perceber o potencial da faixa.
– O álbum alcançou o 17º lugar na Billboard 200, mas seu sucesso cresceu gradualmente conforme os singles foram sendo lançados, consolidando a dupla nas paradas.
– A capa, com os rostos de Hall e Oates em destaque e o título grafado de forma marcante, reforçava a ideia de uma obra que falava em “vozes” no plural — não apenas dos dois artistas, mas também das múltiplas influências que atravessavam o disco.

45 anos depois

Revisitar Voices em 2025 é perceber o quanto ele foi essencial para transformar Hall & Oates na dupla mais bem-sucedida da história da música pop. O álbum não apenas consolidou sua identidade artística, como também os colocou no mapa da década seguinte, quando se tornariam onipresentes nas rádios e na MTV.

Mais do que um registro de época, Voices é uma obra que continua viva. Suas faixas equilibram emoção e sofisticação, misturando soul, pop e rock de forma tão orgânica que explicam por que Hall & Oates atravessaram gerações. É um disco que, 45 anos depois, ainda merece ser ouvido não só como documento histórico, mas como um exemplo de como reinventar-se sem perder a essência.

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