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Human Touch – Bruce Springsteen: A busca pelo toque humano que não aconteceu

No episódio 34 do nosso podcast Redação Disconecta, meus amigos Marcelo Scherer e Luis Fernando Brod debateram uma lista da Rolling Stone sobre os 50 álbuns mais decepcionantes de todos os tempos, e um dos álbuns citados é Human Touch. Como eles não puderam opinar sobre o álbum, deram uma de Glória Pires e jogaram a responsabilidade para mim. Desafio feito, desafio cumprido

Em 1992, Bruce Springsteen decidiu se afastar de suas raízes sonoras tradicionais e lançou dois álbuns simultaneamente: Human Touch e Lucky Town. Embora ambos tenham recebido atenção do público e da crítica, Human Touch ficou marcado como um dos trabalhos menos celebrados de sua carreira. Apesar das boas intenções e de uma produção caprichada, o álbum falhou em capturar o que os fãs e críticos esperavam de “The Boss“, gerando uma recepção morna e algumas críticas severas.

Um Springsteen distante

Human Touch foi lançado em um período de transição na carreira de Springsteen. Após o sucesso massivo de álbuns como Born in the U.S.A. e o intimista Tunnel of Love, o público aguardava ansiosamente o próximo passo do artista. Entretanto, Human Touch apresentou uma abordagem diferente, explorando temas mais pessoais e relacionamentos amorosos, em vez de abordar questões sociais, políticas ou a vida da classe trabalhadora, que sempre foram a alma de sua música. Esse afastamento dos temas que ressoavam tão profundamente com seu público fez com que muitos se sentissem desconectados do álbum.

Bruce Springsteen, que sempre foi conhecido por suas letras introspectivas e sua habilidade em contar histórias sobre “o homem comum”, entregou em Human Touch um trabalho que muitos consideraram emocionalmente distante. As canções, embora tecnicamente bem compostas, pareciam carecer da profundidade emocional e da crueza que marcaram seus álbuns anteriores.

Produção excessivamente polida

Outro ponto que afastou o público de Human Touch foi a produção extremamente polida. Com a ajuda do produtor Jon Landau, o álbum acabou soando muito mais “comercial” do que os trabalhos anteriores de Springsteen, o que não agradou a muitos fãs de longa data. Em uma época em que o rock estava se tornando cada vez mais cru e visceral, especialmente com a ascensão do grunge no início dos anos 1990, Human Touch soou excessivamente produzido e, em alguns momentos, genérico.

Faixas como “57 Channels (And Nothin’ On)” e a própria faixa-título, “Human Touch”, embora bem trabalhadas em termos de melodia, não capturaram a essência do que os fãs esperavam. As letras pareciam rasas em comparação com trabalhos anteriores, e a produção não ajudou a dar mais profundidade à proposta de Springsteen.

A ausência da E Street Band

Talvez o aspecto mais divisivo do álbum tenha sido a ausência da icônica E Street Band. Bruce decidiu gravar Human Touch com músicos de estúdio, o que acabou tirando a química e a energia característica de seus álbuns anteriores. A E Street Band sempre foi um elemento crucial na criação de seu som distintivo, e a falta dessa colaboração foi notada de imediato.

Músicos como Randy Jackson e Jeff Porcaro, embora talentosos, não conseguiram replicar a energia que a E Street Band trazia para os álbuns de Springsteen. Isso gerou um som mais limpo, porém menos dinâmico, o que contribuiu para a sensação de que Human Touch não tinha o mesmo espírito “ao vivo” de seus predecessores.

Comparação com Lucky Town

O fato de Human Touch ter sido lançado junto com Lucky Town também afetou sua recepção com o público. Enquanto Human Touch foi criticado por ser frio e distante, Lucky Town foi visto como mais pessoal, cru e verdadeiro. As comparações entre os dois álbuns eram inevitáveis, e Lucky Town acabou sendo o preferido entre os críticos e fãs, com uma energia mais direta e as letras introspectivas de Lucky Town contrastaram com a produção polida e os temas menos impactantes de Human Touch.

Temas menos relevantes

Em termos de conteúdo lírico, Human Touch se focou em questões de relacionamentos, amor e solidão, o que, para alguns, pareceu uma mudança drástica em relação ao trabalho mais socialmente engajado de Springsteen. Canções como “Real World” e “Soul Driver” falavam sobre as complexidades do amor e da vulnerabilidade, mas essas abordagens mais leves não tiveram o impacto que seus álbuns anteriores, que lidavam com questões universais de luta e perseverança, tiveram.

Essa mudança de foco lírico fez com que Human Touch fosse visto como menos relevante, especialmente em uma época em que o público estava mais interessado em músicas que refletissem os tempos difíceis do início dos anos 1990.

O legado de Human Touch

Apesar de suas falhas, Human Touch ainda tem seu valor dentro da vasta discografia de Bruce Springsteen. A faixa-título, por exemplo, continua sendo uma música importante em seus shows ao vivo, e o álbum, como um todo, pode ser visto como uma tentativa honesta de Springsteen de explorar novas direções musicais.

Além disso, com o passar dos anos, o álbum ganhou um pouco mais de apreciação, especialmente entre aqueles que conseguem vê-lo dentro do contexto da transição pessoal e musical que Bruce estava atravessando na época.

No entanto, Human Touch sempre será lembrado como o álbum que não conseguiu atingir as expectativas que cercavam um dos maiores ícones do rock. A ausência da E Street Band, a produção excessivamente polida e os temas mais leves contribuíram para um trabalho que, embora competente, não atingiu o coração dos fãs da mesma forma que seus lançamentos anteriores.

Considerações finais

Human Touch é um álbum que, apesar de bem-intencionado, falhou em capturar a essência do que fez de Bruce Springsteen um dos maiores contadores de histórias do rock. Ele marcou um período de mudança em sua carreira, tanto pessoal quanto musicalmente, mas acabou sendo um trabalho que carecia da intensidade emocional e da conexão que os fãs esperavam. Ele pode ter sido um fiasco, mas é, sem dúvida, um capítulo necessário na carreira do “Boss”.

Autor

  • Julio Mauro

    Júlio César Mauro é um nerd de carteirinha e pai de duas meninas, com um jeito peculiar, às vezes um pouco ranzinza, e sempre lidando com o desafio de viver com TDAH. Sua carreira na música não foi como ele esperava, mas ele se destacou na TI, onde já soma 26 anos de experiência. Conhecido por ser franco e por um senso de humor afiado que nem sempre é entendido por todos, Júlio também teve uma fase como co-apresentador do programa Gazeta Games na Rádio Gazeta de São Paulo, onde mostrou seu lado gamer. E a música? Continua sendo uma de suas grandes paixões.

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