Lançado em abril de 1980, o álbum de estreia do Iron Maiden chegou em um momento crucial para o heavy metal. O gênero, que havia sido impulsionado por bandas como Black Sabbath, Deep Purple e Judas Priest nos anos 1970, enfrentava um período de transição. O punk rock tomava conta do Reino Unido e colocava o virtuosismo em segundo plano, enquanto bandas de rock progressivo sofriam com a queda de popularidade. Nesse cenário, surgia a New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM), um movimento que modernizou o metal e abriu espaço para novas bandas.
O Iron Maiden se destacou rapidamente dentro da NWOBHM ao equilibrar velocidade, peso e melodias bem trabalhadas. O disco de estreia refletiu essa proposta, trazendo composições afiadas e uma identidade visual marcante. Além de apresentar a banda ao mundo, o álbum ajudou a definir o caminho que o heavy metal seguiria nos anos seguintes.
A NWOBHM surgiu no final dos anos 1970 como uma resposta ao declínio do hard rock e ao crescimento do punk. Bandas como Saxon, Def Leppard, Angel Witch e Diamond Head começaram a ganhar força no underground britânico, apostando em um som mais rápido e pesado do que o rock tradicional, mas sem abrir mão da técnica.
O Iron Maiden foi uma das bandas que melhor representou essa nova cena. Fundado por Steve Harris em 1975, o grupo enfrentou várias mudanças de formação até encontrar um lineup estável para a gravação do primeiro disco. O sucesso do EP The Soundhouse Tapes (1979) e das apresentações nos pubs londrinos chamou a atenção da EMI, que assinou um contrato com a banda e viabilizou o lançamento do álbum de estreia.
Quando entrou em estúdio para gravar Iron Maiden, a banda contava com Paul Di’Anno nos vocais, Dave Murray e Dennis Stratton nas guitarras, Steve Harris no baixo e Clive Burr na bateria. Will Malone foi o produtor escolhido, mas sua participação foi mínima, e a banda praticamente assumiu o controle da produção.
As músicas já faziam parte do repertório da banda há algum tempo e haviam sido testadas ao vivo. A sonoridade do álbum manteve a crueza e a energia dos shows, com uma produção menos refinada do que os discos seguintes. Esse som mais direto e agressivo ajudou a banda a se destacar dentro da NWOBHM, aproximando-a tanto do público do heavy metal quanto dos fãs de punk rock.
O álbum começa com Prowler, e quer dizer algo como “perambulador” ou alguém que se esgueira atrás de algo (verbo prowl). Na música temos um cara observando e desejando mulheres.
Remember Tomorrow, Di’Anno escreveu em homenagem ao avô, é tudo que se sabe. Analisando a letra, pode-se imaginar que o avô foi dele foi piloto, inclusive algumas fontes sugerem que ele foi piloto da Força Aérea Real (Royal Air Force) na Segunda Guerra Mundial.
A RAF surgiu em 1918 e foi muito proeminente na II Guerra Mundial. É a segunda maior atualmente na OTAN, ficando atrás apenas da USAF (Força Aérea dos EUA). A RAF responde às ordens do ministro britânico da defesa.

Durante a guerra, a RAF enfrenteou a força aérea alemã, Luftwaffe na batalha da Grã-Bretanha. Foi a primeira batalha da história com aeronaves.
O fim desta batalha, vencida pelos ingleses, levou Winston Churchill a dizer: “Never, in the field of human conflict, was so much owed by so many to so few (Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram a tão poucos“. O som Running Free segundo Paul Di’Anno é uma espécie de autobiografia de quando ele era jovem.

O álbum segue com Phantom Of The Opera que é romance do francês Gaston Leroux de 1910 – nome original Le Fantôme l’Operá. Esta obra foi adaptada para o cinema e teatro várias vezes e atualmente é o musical mais visto no mundo, com adaptação de Sir Andrew Lloyd Weber, superando Cats, dele mesmo. Sobre o romance, recomendo que assistam o filme – aqui o trailer de The Phantom Of The Opera (2007).
A instrumental Transylvania é o som seguinte. Esta região romena é muito conhecida graças a Vlad III, Príncipe (Voivoda) da Valáquia, ou mais popularmente conhecido como Vlad o Empalador ou Drácula. Ele foi príncipe de 1456 até 1462 (época do apogeu do império Otomano) 1448 e 1476.

Vlad era um cavaleiro cristão e enfrentou os turcos e seu próprio irmão Radu. Ele utilizava de métodos cruéis contra inimigos, principalmente o empalamento – para quem não saber, empalar é um método de tortura onde se enfia uma estaca no ânus, vagina ou umbigo e ela atravessa todo o corpo. Haviam métodos que impediam que a pessoa morresse imediatamente após a inserção, para que ela sofresse mais algumas horas de dor.
O irlândes Bram Stoker (1847 – 1912) após estudar folclore europeu e histórias de vampiros, lançou em maio de 1896 sua magum opus, Drácula.
Strange World parece falar de drogas. Fala do seu mundo perfeito e diferente, que está aqui mas não está, enfim. Porém quando sabe-se que a letra foi escrita por Steve Harris, essa tese cai por terra, ele é muito certinho (ou não.)
Sanctuary parece alguém que cometeu um crime e precisa de um refúgio em um santuário. Entre os séculos XIV e XVII, um criminoso que se refugiasse em um santuário, não podeira ser preso, segundo a lei inglesa.

A música Charlotte The Harlot é a primeira parte da “The Charlotte Saga“, que carinhosamente chamaremos de “Saga da Dama” – pra não criar nenhum mal estar com ninguém. As outras músicas desta saga são 22 Acacia Avenue (do disco The Number Of Beast), Hooks On You (No Prayer For The Dying) e From Here To Eternity (Fear Of The Dark). Se bem que muita gente discute se as duas últimas de fato fazem parte desta saga – o fato é que pelo menos uma delas toma parte.
Charlotte é uma prostituta de East End, Londres. East End fica à leste do Muro (Medieval) de Londres e ao Norte do rio Tâmisa. Foi uma das áreas que mais sofreram com os bombardeios na segunda Guerra Mundial. Antes disso a área já era uma das mais pobres do Reino Unido (e ainda é), onde se concentravam os imigrantes e as pessoas que viviam nas favelas do centro, que tiveram que sair devido as construções das docas e de um terminal ferroviário.
[Neste link a visão do London Wall até Brick Lane com o rio Tâmisa (Thames) logo abaixo].
Iron Maiden é aquela música que os caras vão tocar para sempre, por que represente aquilo que o Maiden é; eles fazem o público sangrar de alegria!

Iron Maiden foi um instrumento medieval de tortura com lanças dentro e na porta, conforme a porta vai fechando… bem, dá pra imaginar o que acontece. Não, não dá! As lanças atingem órgãos vitais, a pessoa morre de asfixia ou hemorragia um tempo depois. [Obs.: No último show de Bruce Dickinson com o Iron Maiden em 28 de agosto de 1993 da turnê Raising Hell, Bruce foi “morto” dentro de uma dessas “donzelas de ferro”, graças ao ilusionista Simon Drake, que foi contratado para os efeitos especiais deste show].
Iron Maiden também é como era conhecida a ex-ministra britânica Margaret Thatcher.

A identidade visual do Iron Maiden também começou a se consolidar com este álbum. A capa, criada por Derek Riggs, trouxe a primeira aparição oficial de Eddie, o mascote da banda. A ilustração mostra Eddie com um olhar ameaçador, cabelos desgrenhados e uma expressão sinistra, em meio a um cenário urbano sombrio.
A imagem se tornou um dos elementos mais reconhecíveis do heavy metal, aparecendo em praticamente todos os lançamentos e turnês da banda. Eddie evoluiria ao longo dos anos, assumindo diferentes formas em cada disco, mas sua presença no álbum de estreia já estabelecia um padrão visual único para o Iron Maiden.

O lançamento de Iron Maiden foi um marco não apenas para a banda, mas para todo o heavy metal. O álbum atingiu o quarto lugar nas paradas britânicas, algo impressionante para um disco de estreia de uma banda de metal.
A influência do disco se espalhou rapidamente. Bandas como Metallica, Slayer e Megadeth reconheceram a importância do Maiden na construção do metal dos anos 1980. A sonoridade agressiva, combinada com melodias trabalhadas, ajudou a moldar o que viria a ser o heavy metal moderno.
Com o sucesso do álbum, a banda embarcou em uma turnê intensa, incluindo datas ao lado do Judas Priest e do Kiss. No entanto, as tensões internas começaram a aparecer, e Dennis Stratton deixou a banda pouco tempo depois, sendo substituído por Adrian Smith.
Mais do que um disco de estreia, Iron Maiden foi um passo fundamental na história do heavy metal. Ele mostrou que era possível unir peso, velocidade e melodia de maneira autêntica, abrindo caminho para o sucesso da banda nas décadas seguintes.
O álbum também consolidou a NWOBHM como um movimento influente, ajudando a revitalizar o heavy metal e a criar uma nova geração de fãs e músicos. Mesmo mais de quatro décadas após seu lançamento, Iron Maiden segue como uma peça fundamental para entender a evolução do metal e a ascensão de uma das maiores bandas do gênero.
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