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Jagged Little Pill, o álbum que definiu uma era

Os anos 90 foram e formaram a base musical de muita gente, inclusive de você ai do outro lado, que está acompanhando este texto. E também marcou a minha. Foram muitos bons discos lançados na primeira parte da década de 90 que até hoje estão marcados em nós, seja pela beleza, pela autenticidade, ou simplesmente por marcar um fato de nossas vidas, vocês concordam?

O disco da resenha hoje está completando 30 anos agora em 2025 ele é meio considerado um álbum conceitual, e você logo vai entender o porque.

Nos anos 90 eu ainda curtia um som mais pesado, muito era influência de meus primos e amigos. Além de Iron Maiden, Metallica e Sepultura, nesta época eu surfava um Death Metal e um Thrash mais old school.

Mas eu já estava descobrindo novas coisas velhas, como Yes, Uriah Heep e principalmente Deep Purple. Mas ai, a gente pula pra 1996, que é o ano em que eu trabalhei na CD & Cia, uma loja de CDs que era bem famosa aqui na região. Além da loja tinha uma distribuidora, então toda semana havia vendedor das gravadoras passando por ali. Sim, porque nesta época haviam vendedores de gravadoras com seus catálogos maravilhosos.

Lembre, nesta época o CD era o queridinho de praticamente todo mundo e minha também. E, por trabalhar ai nessa loja e acompanhar de perto as compras, eu acabava tendo de ouvir praticamente de tudo, desde música regional e sertaneja, até eletrônico, hip hop, dance, com aquelas infinitas coletâneas da Jovem Pan e muitas outras rádios. Até aqueles CDs do Celso Portiolli. É, pois é, eram ossos do ofício.

Mas eu ia descobrindo coisas legais também, como bandas de grunge, rock alternativo e essas novidades todas. Nesta época também havia a MTV, então nossa fonte de informação eram essas e as revistas. Mas confesso que trabalhar em uma loja de CDs foi muito bom, descobri muitas coisas, e adquiri muita coisa também.

E eu me lembro perfeitamente da primeira vez que eu ouvi Ironic, música que está neste disco aqui, o Jagged Little Pill da artista canadense Alanis Morissette. Nesta época eu tinha 19 anos. E essa é uma memória que eu tenho bem vívida guardadas, sabe? Nesta época ai eu já estava terminando o colegial, fazendo o preparatório pré-vestibular, ou seja, era o momento certo pra esse tipo de música, até porque tem aquela coisa né, a gente evolui de acordo com as nossas amizades e, nessa época ai tinha muita amizade feminina, então era inevitável.

E ao longo dos anos seguintes, eu fui um dos 30 milhões que viraram fã do disco e o tomaram pra si, a ponto dele se tornar muito mais do que apenas um álbum que eu tive em minha coleção de CDs.

Capa CD Jagged Little Pill – Alanis Morissette

Eu digo tive pelo seguinte: eu perdi muitos CDs ai, porque ficaram pra trás, inclusive o Jagged Little Pill, mas isso não vem ao caso. Mas o tempo passa, e eu consegui outro CD. E eu escolhi o CD pelo seguinte: nos anos 90, o jeito certo de se ouvir música, incluindo o Jagged Little Pill era em CD, então eu preferi te uma cópia dele assim mesmo.

Pra mim, o que faz de Jagged Little Pill um grande disco, é a sua natureza crua. Alanis foi inteligente ao escrever um álbum que fosse tão intenso pessoalmente sobre características específicas de sua vida com as quais milhões de pessoas pudessem, de alguma forma, se relacionar, sabe? E fazendo isso, entrando totalmente dentro de si mesma e expondo suas ideias e entregando tudo de alma e espírito sem restrições, ela meio que tornou isso mais universal, mais inclusivo, sabe? Mesmo que algumas críticas a chamem de emo, de vendedora de poesia adolescente.

E isso meio que tem algum tipo de fundamento, porque ela escreveu o disco quando tinha apenas 21 anos e tinha acabado de se mudar da casa de seus pais para Toronto em meados da década de 90. O disco teve a participação do produtor Glen Ballard, que ela conheceu e logo teve uma conexão instantânea.

Ballard já era meio veterano nesse época ai em 96, ele havia escrito músicas para Bad (Man in the Mirror) e Dangerous (Keep the Faith) de Michael Jackson e também co-escreveu The Voice Within de Christina Aguilera. Aliás, a carreira dele é gigantesca, já trabalhou com Paula Abdul, Aerosmith, Kate Perry, muita gente. O ritmo de trabalho neste disco foi tão intenso que eles escreviam uma música por dia, inclusive em entrevistas, ela mesmo disse que a faixa Perfect foi escrita em apenas 20 minutos.

E veja, um currículo desse ai não é brincadeira não é? E o disco ainda teve a participação de nomes de peso na gravação, como Flea e Dave Navarro. O disco foi lançado no dia 13 de junho de 95 e vendeu 20 milhões de cópias no mundo todo. E tudo isso ele tendo surgido quando o grunge estava no auge.

O disco teve um total de seis singles com todas a músicas, com a exceção de All I Really Want, entrando no top 10 em várias paradas ao redor do mundo e a faixa Ironic, a mesma que eu falei no começo deste vídeo, ficando em quarto lugar na Billboard Hot 100, que foi o seu single de maior sucesso nos EUA. Mas foi o primeiro single, You Oughta Know que deu o tom do álbum, com aquela sexualidade feminina e uma raiva tão crua e tão descarada que, até então não tinha sido vista em uma escala comercial, que mostrou que as mulheres também ficam irritadas tanto quanto os homens, ficam perversas, excitadas e tudo isso.

Alanis Morissette –  Crédito: Terry O’Neill/Getty Images

Hand in my Pocket, o segundo single já mostra uma Alanis mais autoconfiante, que consegue se divertir. Ironic se tornou sua marca registrada, é tipo a Stairway to Heaven dela. Mesmo ela sendo uma música com uma ironia mais pontual, ou mesmo situacional, dramática ou até mesmo irônica, não dá pra não negar a indiferença de Alanis ao mundo e como ele pode te destruir no final. É uma puta canção.

E além de todos os singles lançados, ainda encontramos coisas bonitas como Mary Jane, onde ela tranquiliza uma amiga em meio à tristeza ou ainda Forgiven, uma música com retrospectiva religiosa, cheia de camadas, lindíssima;

E na boa, entregar um álbum assim com apenas 21 anos não é pra qualquer um, concordam? Ela criou um clima e uma atitude que definiram uma era. Essa conectividade que ela teve, falando sobre expectativas parentais, doença mental, codependência, patriarcado, amizade, amor próprio, adultério podia ser um tipo de música complicada até, mas foi isso que conectou as pessoas e todas as complexidades citadas, é algo pelo qual todo mundo passa em algum momento de suas vidas. E é isso que torna esse disco tão autêntico, tão original.

30 anos depois o disco continua tendo a mesma relevância que teve em seu lançamento. Houveram outros discos que seguiram essa mesma linha, a gente sabe, mas Alanis foi um tipo de precursora de tudo isso, mas antes de tudo, Jagged Little Pill é um lembrete de que não esqueçamos que, por mais que já tenhamos percorrido um longo caminho sobre os assuntos abordados, principalmente quando se trata de agressão a mulheres, ainda temos um longo caminho a percorrer.

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