Há artistas que parecem viver dentro da canção, e Kendra Morris é uma delas. Em Next, seu novo álbum, a cantora norte-americana encontra o equilíbrio raro entre o instinto e o refinamento. É um disco de indie-soul que não tenta ser maior do que é — e justamente por isso, acaba sendo grande.
Gravado entre seu estúdio caseiro no Brooklyn e sessões pontuais em Ohio, Next traz a sensação de proximidade: cada faixa soa como se fosse cantada no mesmo cômodo em que o ouvinte está. O som é quente, quase tátil, construído sobre grooves que dançam sem pressa, guitarras suaves e uma bateria que pulsa como um coração em descanso.
Kendra evita exageros. Nada aqui é feito para impressionar — e talvez esse seja o segredo do disco. Next é direto, emocional e honesto. Os grooves convidam à dança, mas as letras pedem atenção. As melodias deslizam com naturalidade, sem pressa para chegar a um refrão explosivo. E a voz de Kendra, sempre no centro, guia o ouvinte com doçura e firmeza.
Há momentos de pura intimidade, como em “Dear Buddy”, uma carta em forma de canção, onde sua interpretação se equilibra entre saudade e aceitação. Já “Flat Tire” brinca com ritmos mais soltos, com um balanço que remete ao soul setentista, mas filtrado por uma estética moderna, quase lo-fi. Em “If I Called You”, ela transforma uma confissão simples em algo maior, provando como a emoção pode nascer do despojamento.
Apesar de toda a leveza, Next é um disco profundamente consciente. Ele fala sobre ciclos, sobre o que vem depois — o título não é gratuito. É como se Kendra estivesse nos convidando a respirar junto com ela, a seguir em frente sem a pressa de chegar.
O álbum também mostra uma artista em pleno domínio de sua própria estética. Nada soa ensaiado demais, mas tudo parece pensado. Há uma sensação de continuidade em relação aos trabalhos anteriores, só que agora o foco está mais nítido: menos sobre o som, mais sobre o sentimento.
Kendra Morris chega, assim, ao que talvez seja o momento mais maduro de sua carreira. Next é o tipo de disco que se recusa a ser datado — porque fala de emoções simples, cotidianas, universais. A cada audição, ele se abre um pouco mais, como se guardasse pequenos segredos entre os arranjos.
É indie-soul sem pirotecnia, sem pretensão, sem pulos. Apenas uma artista olhando para frente e dizendo, com a serenidade de quem conhece o próprio caminho: esse é o próximo passo.



