O soul brasileiro que moldou um estilo próprio nos anos 1970 e 1980

Luis Fernando Brod
6 minutos de leitura
Soul Brasileiro / Cassiano. Foto: Reproduçã.

O soul brasileiro é um dos capítulos mais inventivos da música nacional. A sonoridade nasceu de fusões entre funk, R&B, samba e MPB, criando um terreno fértil para artistas que buscavam novas formas de se expressar. De Tim Maia a Sandra de Sá, passando por Cassiano, Hyldon, Di Melo, Tony Bizarro e a dupla Robson Jorge & Lincoln Olivetti, cada um deixou contribuições que ajudaram a definir esse movimento.

Nos anos 1970, o gênero ganhou força com a chamada “black music brasileira”. O termo, difundido pela cena do baile black em clubes do Rio e São Paulo, simbolizava uma afirmação cultural da juventude negra. Nessa época, Tim Maia lançava álbuns que combinavam letras diretas e arranjos sofisticados, como “Racional, Vol. 1” e “Tim Maia” (1970), ampliando a popularidade do estilo.

Cassiano, parceiro de Tim em composições e gravações, se destacou com discos como “Cuban Soul” (1970) e “Apresentamos nosso Cassiano” (1973). Sua forma de unir melodias delicadas com harmonias complexas influenciou uma geração inteira. Hyldon seguiu caminho semelhante com o clássico “Na rua, na chuva, na fazenda” (1975), um dos álbuns mais lembrados do soul brasileiro.

Enquanto isso, nomes como Di Melo e Tony Bizarro exploravam vertentes distintas. Di Melo lançou em 1975 um disco de estreia recheado de grooves densos, que só décadas depois seria redescoberto por colecionadores. Tony Bizarro, por sua vez, aproximava o soul da música romântica, com arranjos cheios de metais e teclados que dialogavam com o R&B americano.

Nos anos 1980, a sonoridade ganhou nova camada com a dupla Robson Jorge & Lincoln Olivetti, arquitetos de arranjos que marcaram a década. O disco homônimo de 1982 é considerado uma referência em sofisticação instrumental, misturando soul, funk e música brasileira com refinamento técnico. Sandra de Sá, então chamada Sandra Sá, deu voz a essa fase com canções como “Olhos coloridos” e consolidou a presença feminina no gênero.

Mais que um estilo, o soul brasileiro se consolidou como um espaço de invenção. Ele refletiu o diálogo constante entre referências estrangeiras e a riqueza rítmica nacional, criando uma sonoridade que atravessa gerações e ainda inspira músicos atuais.

Conheça abaixo 7 discos para conhecer o soul brasileiro. A matéria original está no perfil da Nova Brasil FM

Tim Maia – Tim Maia (1970)

Muita gente considera esse disco o ponto de partida do soul brasileiro. Após cinco anos nos Estados Unidos, Tim voltou trazendo a sonoridade da black music na pele e misturou tudo com ritmos daqui. Logo na abertura, o baião com balanço de “Coroné Antônio Bento” mostra que a proposta era diferente e ousada.

Di Melo – Di Melo (1975)

Di Melo é puro suco do soul em estado puro. Voz forte, arranjos que cruzam jazz, samba-rock e funk, sempre com muito swing. Basta colocar pra tocar “Kilário” ou “A vida em seus métodos diz calma” e deixar o corpo seguir o ritmo.

Hyldon – Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda (1975)

O disco de estreia de Hyldon é um clássico do soul brasileiro. Lançado em 1975, traz uma mistura envolvente de soul, MPB e funk, com arranjos cheios de groove. Foi dele que nasceram canções como “Na rua, na chuva, na fazenda” e “As dores do mundo”, que atravessaram gerações. A importância do álbum é tanta que acabou rendendo até um documentário dedicado à sua história.

Cassiano – Cuban Soul: 18 Kilates (1976)

Essa lista só faz sentido por causa desse disco. Cassiano entregou aqui uma obra essencial da música brasileira, misturando gêneros e ritmos com naturalidade. O resultado trouxe faixas inesquecíveis como “Onda”, “A lua e eu” e “Coleção”. Um verdadeiro discaço.

Tony Bizarro – Nesse Inverno (1977)

Joia pouco lembrada do soul brasileiro, o primeiro disco solo de Tony Bizarro reuniu músicos de peso como Mamão (Azymuth), Robson Jorge e Lincoln Olivetti. Lançado sem grande repercussão na época, o álbum ganhou reconhecimento com o passar dos anos e voltou às prateleiras em vinil em 2022.

Robson Jorge & Lincoln Olivetti (1982)

Os mestres do boogie/soul brasileiro. Com uma produção precisa e cheia de swing, a dupla ajudou a definir o boogie carioca dos anos 80. Os grooves dançantes, os arranjos detalhados e músicas como “Aleluia” e “Ginga” continuam soando atuais e envolventes.

Junior Mendes – Copacabana Sadia

Com produção elegante e clima descontraído, “Copacabana Sadia”, de Junior Mendes, é um dos registros mais charmosos do boogie nacional. Lançado em 1982, o disco mistura soul, funk e MPB em arranjos sofisticados que traduzem bem o espírito da época. As faixas trazem grooves dançantes e harmonias cheias de sutilezas, com destaque para músicas como “Rio Sinal Verde” e “Copacabana Sadia”, que seguem irresistíveis até hoje.

Sandra de Sá – Vale Tudo (1983)

Lançado em 1983, o álbum “Vale Tudo” da Sandra de Sá é um mergulho delicioso no soul e no boogie brasileiro dos anos 80. Com grooves que grudam na alma, como “Trem da Central” e “Candura”, e a participação especial do mestre Tim Maia, esse disco é pura elegância e ritmo contagiante.

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