Squid expande seu som e desafia rótulos em Cowards

O Squid passou a última década explorando diferentes possibilidades dentro do rock experimental britânico. Desde os primeiros lançamentos, a banda demonstrou interesse por ritmos hipnóticos e arranjos pouco convencionais, características que se tornaram marcas registradas. Com “Bright Green Field” (2021) e “O Monolith” (2023), a busca por novas texturas sonoras ficou evidente, mas “Cowards” representa um passo além.

O álbum chega em 2024 como um trabalho que reafirma o desejo do grupo de expandir suas fronteiras musicais. Elementos do krautrock continuam presentes, mas agora convivem com incursões orquestrais, momentos de introspecção e estruturas que rompem expectativas. A banda parece menos preocupada em seguir qualquer lógica de gênero e mais interessada em criar um universo próprio.

A primeira faixa, “Crispy Skin”, estabelece o tom do álbum com um instrumental que remete ao Squid de trabalhos anteriores. Há uma percussão pulsante, sintetizadores marcantes e uma energia que se acumula progressivamente. No entanto, ao invés de permanecer nesse território familiar, a banda rapidamente altera a dinâmica com “Building 650”. Aqui, o arranjo incorpora elementos orquestrais e introduz uma atmosfera distinta, sinalizando que este álbum pretende desafiar convenções.

Na sequência, “Blood on the Boulders” se destaca pela estrutura pouco linear. A faixa inicia de forma delicada, mas se transforma em algo intenso, como se o caos estivesse sempre prestes a tomar conta. A banda mencionou que o kosmische musik foi uma referência importante para este trabalho, e isso transparece nesta música. A sensação de movimento constante, impulsionada por sintetizadores modulados e variações de andamento, reforça essa influência.

Foto: Capa de Cowards do Squid. Crédito: Reprodução.

As duas partes de “Fieldworks” ampliam ainda mais a exploração sonora do disco. Cordas e sopros ganham protagonismo, criando momentos que lembram composições contemporâneas de música clássica. Há trechos que sugerem improvisação, mas a construção das faixas indica um planejamento cuidadoso.

Nesse trecho do álbum, fica evidente a intenção do Squid de testar limites. A banda evita repetir fórmulas e opta por atmosferas contrastantes, alternando entre o abstrato e o direto, o experimental e o acessível. O resultado é um conjunto de músicas que desafia rótulos, mas mantém a identidade do grupo.

“Cro-Magnon Man”, lançada como single antes do álbum, destaca-se pela mudança na dinâmica vocal. Com Louis Borlase assumindo os vocais principais, a faixa traz um contraste em relação às anteriores. A instrumentação irregular e as camadas de distorção fazem dela um dos momentos mais instigantes do disco.

Nas últimas faixas, o álbum reforça sua coesão sem abrir mão das experimentações. “Cowards”, a música que dá nome ao disco, apresenta um instrumental com tensão constante, enquanto a letra aborda temas desconfortáveis com metáforas provocativas. Já “Showtime!” combina elementos de rock progressivo e arranjos teatrais, criando um dos momentos mais inesperados do álbum.

A despedida vem com “Well Met (Fingers Through the Fence)”, uma faixa que cresce lentamente e adota um tom contemplativo. Camadas de percussão e cordas se acumulam gradualmente, criando uma sensação de imersão completa. A construção lembra certas abordagens do krautrock, mas com um senso de narrativa que mantém a atenção até o final.

Com “Cowards”, o Squid reafirma sua postura inquieta. A banda se distancia do pós-punk convencional e explora novas possibilidades, sem medo de experimentar com texturas e estruturas pouco usuais.

O álbum pode ser desafiador em alguns momentos, mas nunca soa gratuito ou exagerado. Cada elemento parece ter um propósito dentro do conjunto, e a progressão das faixas mantém a experiência envolvente. Para quem acompanha a trajetória do grupo, “Cowards” representa um passo natural e, ao mesmo tempo, surpreendente.

No fim, o Squid se mantém fiel ao que sempre fez de melhor: criar música que desafia expectativas e convida o ouvinte a se perder em seu universo sonoro.

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