Suede – Antidepressants (2025)

Luis Fernando Brod
5 minutos de leitura
Suede. Foto: Dean Chalkley.

Quando o Suede lançou Autofiction em 2022, muita gente comentou que aquele era o disco mais cru e urgente da banda em décadas. Brett Anderson e companhia entregaram um registro com pegada punk, visceral, que soava como uma descarga elétrica depois de anos de experimentação mais atmosférica. Agora, com Antidepressants, lançado em setembro de 2025, o grupo britânico dá um passo além: se antes o olhar era voltado para a urgência, agora é o pós-punk que serve de filtro para suas inquietações.

O novo álbum não nega o passado da banda, mas reposiciona sua sonoridade em diálogo direto com tradições mais sombrias. Aqui é possível sentir ecos de Killing Joke, na energia crua e sombria das guitarras; de The Cure, nas atmosferas melancólicas e na alternância entre peso e lirismo; e de The Smiths, na forma como Brett Anderson trabalha a ironia e a sensibilidade em suas letras. O guitarrista Richard Oakes, mais uma vez, é peça-chave: seus timbres lembram ora John McGeoch (Magazine, Siouxsie), ora Keith Levene (PiL), criando linhas que soam familiares dentro do pós-punk, mas com assinatura própria.

A produção de Ed Buller, velho colaborador do grupo desde os anos 1990, garante uma sonoridade direta e viva, quase como se a banda estivesse em um palco pequeno, tocando com intensidade. Essa escolha não é casual: Antidepressants foi concebido como uma espécie de “irmão” de Autofiction, só que menos punk e mais sombrio, mais voltado à introspecção. Se o disco anterior gritava com urgência juvenil, o novo se concentra na ansiedade madura, nas sombras da vida adulta e nas formas de lidar com a finitude.

As letras mergulham em temas densos: a paranóia, a desconexão, a dependência de medicamentos, as relações tóxicas e a mortalidade. O título não é apenas uma provocação — ele traduz bem o espírito do álbum, que encara de frente o peso emocional do presente, mas também abre frestas de otimismo. A faixa final, “Life Is Endless, Life Is a Moment”, simboliza isso: uma canção que fala da brevidade da vida, mas que, em vez de paralisar, convida a celebrar.

Esse movimento não é novo no Suede. Desde os anos 1990, quando despontaram como uma das primeiras bandas associadas ao britpop, eles sempre destoaram de seus pares. Enquanto Blur e Oasis cultivavam um espírito pop ensolarado, Brett Anderson preferia mergulhar na teatralidade sombria, mais próxima de Bowie e dos ecos de Morrissey. Dog Man Star (1994), por exemplo, já mostrava essa vertente grandiosa e melancólica que os afastava dos clichês do movimento. Após altos e baixos e até uma separação no início dos anos 2000, a volta em 2010 trouxe uma banda mais consciente de sua trajetória, mas não menos disposta a se arriscar.

Antidepressants mantém esse espírito inquieto. É um disco que não soa como uma celebração da nostalgia britpop, e sim como um reencontro com influências que talvez sempre estivessem lá, mas nunca haviam sido assumidas com tanta clareza. Há até curiosidades nesse processo: algumas faixas foram originalmente compostas para um balé e reaproveitadas aqui, como “Between an Atom and a Star” e a já citada “Life Is Endless…”. A capa, inspirada em uma pintura de Francis Bacon, reforça o caráter sombrio da obra.

Comparado a Autofiction, o novo trabalho é menos cru, mas mais atmosférico. Se o anterior parecia um soco, este soa como uma caminhada em um corredor estreito, com luzes piscando e sombras sempre à espreita. O clima é tenso, mas também carregado de beleza — exatamente como os melhores discos de pós-punk dos anos 80.

No fim, Antidepressants reafirma que o Suede não vive apenas de sua história, mas continua escrevendo capítulos relevantes. É um álbum que honra as referências de Killing Joke, The Smiths e The Cure, mas sem se prender a elas, encontrando uma linguagem própria. Um trabalho sombrio, elegante e intensamente humano, que mostra uma banda madura olhando para a vida com a mesma dramaticidade de sempre — só que agora com um senso de urgência ainda mais necessário.

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