Em 1995, o Planet Hemp lançou Usuário, um dos álbuns mais controversos e emblemáticos do rock nacional. O disco não apenas apresentou a banda ao grande público, mas também consolidou sua identidade como um grupo que misturava música e ativismo. Com letras afiadas e uma sonoridade explosiva, Usuário marcou época ao abordar temas sociais, liberdade de expressão e a descriminalização da maconha, enfrentando censura e repressão ao longo do caminho.
Fundado no início dos anos 90 por Marcelo D2 e Skunk (que faleceu em 1994, antes da gravação do disco), o Planet Hemp nasceu da fusão entre hip-hop e rock, criando o que a própria banda chamava de “raprocknrollpsicodeliahardcoreragga”. Essa mistura única refletia a diversidade musical e ideológica do grupo, incorporando elementos de hardcore, reggae, rap e psicodelia em um caldeirão sonoro que influenciaria várias gerações.
Com a entrada de BNegão, a banda solidificou sua identidade, combinando rimas ácidas com guitarras distorcidas e batidas pesadas. A formação contava ainda com Rafael Crespo na guitarra, Formigão no baixo e Bacalhau na bateria, músicos que ajudaram a dar ao Usuário um peso sonoro inconfundível.
Desde sua estreia, o Planet Hemp se posicionou abertamente contra a criminalização da maconha, mas suas letras iam além do ativismo canábico. O álbum traz críticas à repressão policial, ao autoritarismo do Estado e à hipocrisia da sociedade. Faixas como “Legalize Já” se tornaram verdadeiros hinos, clamando pela liberdade individual e pelo debate sobre a legalização das drogas sem tabus ou moralismos.

“Mantenha o Respeito” e “Fazendo a Cabeça” reforçam essa postura combativa, enquanto “Dig Dig Dig (Hempa)” utiliza o sarcasmo para expor a guerra falida contra as drogas. O álbum também mergulha em temas como a alienação da juventude e a violência urbana, tornando-se uma peça fundamental do discurso contra as injustiças sociais no Brasil dos anos 90.
O Planet Hemp não demorou a enfrentar problemas com a justiça. O posicionamento da banda e suas apresentações polêmicas levaram a prisões de membros do grupo e tentativas de censura. O discurso explícito em favor da descriminalização fez com que fossem alvos frequentes da polícia, o que apenas reforçou sua imagem como símbolo de resistência juvenil.
Apesar da repressão, Usuário sobreviveu ao teste do tempo e se tornou um dos discos mais importantes do rock brasileiro. A mensagem do álbum segue atual, em um país onde a política de drogas ainda é um dos temas mais debatidos e polarizados.
Musicalmente, Usuário continua relevante. A fusão de estilos criada pelo Planet Hemp influenciou inúmeras bandas, e seu impacto pode ser sentido tanto no hip-hop quanto no rock nacional. O groove do baixo, as guitarras pesadas e a energia das rimas garantem que o disco não soe datado, mesmo quase três décadas após seu lançamento.
Para além da polêmica, Usuário é um marco por sua coragem e autenticidade. Em uma época de censura disfarçada e conservadorismo crescente, o álbum permanece como um lembrete da importância do questionamento, da arte como ferramenta de protesto e da música como expressão de resistência.
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