O que faria você sair de casa em uma véspera de feriado? Para pouco mais de 100 pessoas, o show do The Baggios, uma das bandas mais inovadoras e ousadas dos últimos anos no cenário nacional, era o que bastava para tirá-los do conforto do lar.
Parcos são os grupos brasileiros atuais capazes de ousar sonoramente dentro do universo do rock como os 3 rapazes de Sergipe composto por Júlio Andrade (voz, guitarra, violão, contrabaixo elétrico), Gabriel Perninha (bateria) e Rafael Ramos (teclas e contrabaixo elétrico).
A banda iniciou em 2024 as comemorações dos seus 20 anos. Para um grupo do estado de Sergipe, a logística acaba se tornando um empecilho, visto que vivemos em um país de dimensões continentais, sendo mais um desafio para um artista independente sobreviver.
O The Baggios sempre lutou arduamente para a construção de sua imagem e público, mesmo distante das principais capitais econômicas do país, aos poucos, a banda foi conquistando seu espaço, chegando a levar prêmios internacionais importantes como o Grammy Latino 2019, de Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa.
O dia do show
Na bagagem são 4 álbuns de estúdio e 1 dvd que consolidam até aqui, a trajetória do power trio da cidade de São Cristóvão/SE. Para iniciar as comemorações dessa data especial para a banda, a tour começou pelo sul, mais precisamente pela capital dos gaúchos, Porto Alegre, na ótima casa Espaço Cultural 512.
A data talvez não tenha ajudado a encher o show, visto que, em véspera de feriado de páscoa, é comum as pessoas da região se deslocarem para o litoral gaúcho, e Porto Alegre e cidades vizinhas acabam ficando vazias.
Uma banda do calibre artístico como The Baggios poderia ter tido melhor sorte na escolha da data, e assim, angariando um público maior em outra época do ano. Mas sorte mesmo, foi quem, assim como eu, esteve presente para testemunhar uma apresentação ao vivo digna de um grande trio que nos remete aos bons tempos da banda inglesa Cream, misturado as brasilidades sonoras de Alceu Valença, Zé Ramalho, Marconi Nataro e Robertinho de Recife.
Todos os músicos muito competentes, mas o destaque, na minha visão foi o tecladista e baixista Rafael Ramos, uma espécie de Ray Manzarek brasileiro, que faz os solos com a mão esquerda, e, as bases graves com a mão direita em seu baixo elétrico, distribuídos em teclas de outro teclado também, construindo camadas sonoras que as canções necessitam, casando muito bem com as linhas rítmicas pulsantes do baterista Gabriel Perninha.
Quem já assistiu o dvd da banda, sabe bem da explosão sonora que há no trio quando sobem ao palco. Ao assistir ao vivo, o sentimento vai além, mesmo com a bela mescla de sonoridades brasileiras, poesia e rock, em nenhum momento a banda tira o pé do acelerador e do peso de seu show. O som é feito para bater cabeça ou fazer roda punk em todas as faixas, sem nenhuma exceção. O público estava tímido mas com atenção redobrada nos músicos, cantava cada verso de suas canções e as cabeças balançando tempo em inteiro no sentido de cima para baixo, como um bom headbanger em um show do Exodus ou Krisiun, tamanha intensidade da performance ao vivo assistida.
De fato, o Júlio Andrade, é um exímio guitarrista, cantar ao mesmo tempo que faz solos não é algo simples para um músico e ele o faz com maestria. Seu reconhecimento é grande dentro so cenário underground sergipano, não é por acaso que é ovacionado com uma estátua em sua cidade natal, São Cristóvão – SE . Em seus olhos, estavam estampados a alegria de estar pisando em solo sul-riograndense depois de muitos anos.
A verdade é que duas horas de show foram pouco para apreciar a sede musical das poucas mais de 100 almas lavadas que aguardavam por muito tempo a apresentação da banda.
O rock brasileiro está mais vivo do que nunca e The Baggios é a mostra disso. Que venha mais 20 anos!
No vídeo abaixo, você confere o papo que fiz com Júlio Andrade em 2023, no meu canal Na Ponta da Agulha, onde falamos sobre os 20 anos da banda.
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