ABBA e a recusa bilionária: a decisão que manteve a banda intocável

Poucas bandas alcançaram o sucesso global do ABBA. O grupo sueco, que dominou as paradas nos anos 70 e início dos 80, poderia ter seguido o caminho de tantas outras formações clássicas que se reuniram décadas depois por cifras milionárias. No entanto, quando surgiu uma oferta de um bilhão de dólares para uma turnê de retorno, a banda recusou.

O episódio ficou marcado na história da música como um dos exemplos mais radicais de um grupo que decidiu preservar seu legado sem ceder às pressões comerciais. Mas o que levou o ABBA a rejeitar uma quantia tão absurda? E como essa decisão influenciou seu futuro, culminando no projeto “Voyage”?

A despedida nos anos 80

Em 1982, o ABBA fez suas últimas apresentações ao vivo. O grupo, formado por Björn Ulvaeus, Benny Andersson, Agnetha Fältskog e Anni-Frid Lyngstad, já dava sinais de desgaste. Apesar de nunca ter havido um anúncio oficial do fim, os integrantes decidiram seguir caminhos separados.

“Nós tínhamos uma pequena empresa, nós quatro juntos”, disse Benny Andersson ao The Guardian em 2021. “Tudo o que o ABBA ganhava ia para aquela empresa e nós dividíamos em quatro partes. Quando dissemos: ‘Bem, é isso, rapazes, vamos fazer outra coisa por um tempo’, vendemos a empresa. Não esperávamos que o ABBA continuasse, posso garantir isso a vocês.”

Mesmo longe dos palcos, a popularidade da banda nunca diminuiu. O álbum de compilação “ABBA Gold: Greatest Hits”, lançado em 1992, ultrapassou a marca de 30 milhões de cópias vendidas, tornando-se um dos discos mais bem-sucedidos da história. Filmes, bandas cover e musicais ajudaram a manter as canções vivas, enquanto a ideia de uma possível reunião sempre aparecia no imaginário do público.

A oferta bilionária

Em 2000, uma proposta astronômica veio à tona: um bilhão de dólares para que o ABBA se reunisse para uma série de 100 shows. Seria a reunião mais lucrativa da história da música até então, mas a resposta foi um categórico “não”.

Para Björn Ulvaeus, a ideia nem chegou a ser considerada. Em entrevista ao The Guardian, ele explicou que nunca houve uma proposta formal. “Alguém mencionou algo sobre uma turnê patrocinada, sair na estrada, fazer cem shows, mas isso nunca foi colocado no papel”, afirmou.

O dinheiro, aparentemente, não era uma questão para o ABBA. “Nós nunca mais subiremos no palco”, disse Ulvaeus ao Sunday Telegraph em 2008. “Simplesmente não há motivação para nos reagruparmos. Gostaríamos que as pessoas se lembrassem de nós como éramos. Jovens, exuberantes, cheios de energia e ambição.”

Agnetha Fältskog também manteve a mesma postura ao longo dos anos. Conhecida por ser a mais reservada do grupo, ela raramente fazia aparições públicas e evitava discussões sobre um possível retorno.

O retorno de forma inesperada

Se uma turnê física estava fora de cogitação, a tecnologia abriu um novo caminho. Em 2022, o ABBA lançou “Voyage”, um espetáculo digital que recriou os membros da banda em versões mais jovens usando avatares animados.

O projeto, que levou anos para ser desenvolvido, permitiu que os integrantes trabalhassem juntos sem precisar encarar os desafios de uma turnê tradicional. A resposta do público foi imediata: em menos de um ano, “Voyage” arrecadou mais de 100 milhões de dólares em bilheteria.

Para Anni-Frid Lyngstad, a experiência trouxe um novo tipo de satisfação. “Eu sonhei com isso por anos”, disse à BBC no lançamento do show. “Nós amamos nossa música, nós amamos cantar.”

Uma decisão que preservou o ABBA

Ao rejeitar a oferta bilionária, o ABBA evitou os riscos de uma reunião tradicional. Muitos artistas retornam após décadas apenas para enfrentar críticas sobre performances inferiores ou falta de química.

O ABBA, por outro lado, permaneceu intocado. Seus álbuns originais continuam sendo referência, suas músicas ainda ressoam em gerações e, agora, sua tecnologia os coloca no futuro do entretenimento ao vivo.

No fim, o grupo pode não ter levado um bilhão de dólares para casa, mas garantiu algo igualmente valioso: um lugar permanente na história da música.

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