O sucesso repentino de “Nevermind” transformou o Nirvana em um fenômeno comercial, mas também trouxe tensão interna sobre direitos autorais. No início, Kurt Cobain havia aceitado dividir os lucros igualmente com Krist Novoselic e Dave Grohl.
Com o disco alcançando cifras milionárias, Cobain decidiu rever os termos da divisão. Ele exigiu 75% das composições musicais e 100% das letras, com validade retroativa. A proposta foi encarada como uma quebra de co
nfiança por Novoselic e Grohl. Ambos haviam contribuído para o som da banda, mas se viram em posição delicada.
Kurt afirmou que encerraria o grupo se o novo contrato não fosse assinado. A decisão, registrada por documentos legais, deixou os colegas sem alternativas reais. A advogada Rosemary Carroll, que representava a banda, confirmou que a decisão partiu diretamente de Cobain. Segundo ela, ele estava absolutamente convicto sobre seu papel na criação do Nirvana. “Ele era focado como um laser”, disse Rosemary à Rolling Stone. “Sabia o que queria, o que merecia e até o valor em centavos.”
Essa mudança contrasta com a imagem frequentemente projetada de um artista avesso ao estrelato. Apesar do discurso crítico à fama, Kurt entendia com recisão o valor de sua produção. Controlar os direitos autorais era, para ele, uma forma de preservar autonomia criativa e financeira. O acordo foi assinado pouco antes da turnê de In Utero, sem alarde público na época.
Durante anos, parte dos fãs atribuiu esse movimento a Courtney Love. No entanto, Rosemary afirma que a decisão partiu exclusivamente de Kurt, sem interferência de sua companheira. A advogada representava também Courtney, o que reforça a credibilidade de sua declaração. Ela descreve Cobain como determinado, envolvido em todos os detalhes legais.
O episódio revela uma faceta menos debatida de Kurt Cobain, que conciliava instinto artístico com pragmatismo nos bastidores. Mesmo envolto em contradições, ele demonstrava ter uma noção clara sobre autoria e controle de sua obra. Para Krist e Dave, aceitar os novos termos foi uma forma de manter o Nirvana vivo. Mas a relação interna da banda nunca mais foi a mesma após aquele acordo.
Fonte: Heavier Than Heaven, Mais Pesado Que o Céu, Charles R. Cross.