O vocalista do Foo Fighters enxerga na banda americana o alicerce do estilo que dominou o rock desde os anos 1990. Dave Grohl não costuma se colocar no centro das atenções, apesar da importância que conquistou na história recente do rock. Com passagens marcantes por Nirvana, Foo Fighters e colaborações com nomes como Nine Inch Nails e Queens of the Stone Age, é reconhecido pela versatilidade.
Mas, para ele, uma banda com menos fama deveria ocupar um espaço maior na história: os Pixies, de Boston. Em entrevista de 2004, resgatada pela Far Out Magazine, Grohl afirmou que “toda a dinâmica quieto/barulhento do rock alternativo veio de uma única banda, os Pixies”. Na mesma ocasião, descreveu o grupo como “a banda americana mais legal de todos os tempos”, segundo publicou a NME.
Grohl conheceu o som dos Pixies na transição da adolescência para a vida de músico profissional, após vivências no hardcore de Washington. Antes disso, cresceu ouvindo punk e metal, de Black Flag a Slayer, o que moldou a intensidade de sua abordagem na bateria. Com o Nirvana, absorveu influências melódicas dos Beatles, mas sempre valorizou a energia bruta que aprendeu no underground.
A chegada dos Pixies no fim dos anos 1980, com discos como “Surfer Rosa” (1988) e “Doolittle” (1989), expandiu essas possibilidades. A combinação de ruídos intensos e melodias pop revelou uma nova lógica de composição, sem seguir fórmulas comerciais previsíveis. Frank Black, vocalista e compositor, alternava trechos suaves com gritos desafiadores, criando uma tensão única nas canções.
Para Grohl, era essa honestidade crua que diferenciava os Pixies dos outros nomes da época — inclusive das bandas de hard rock. Segundo o baterista, “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, provavelmente não teria existido sem a trilha aberta pelos Pixies. Kurt Cobain, aliás, nunca escondeu a admiração. Em 1994, disse à Rolling Stone que tentou “escrever a música perfeita como os Pixies faziam”.
Apesar da influência, Grohl argumenta que imitar o estilo dos Pixies é fácil na teoria, mas difícil de executar com a mesma força. Produzir uma música com a tensão e a estrutura de uma faixa como “Monkey Gone to Heaven” exige sensibilidade rara, segundo o músico. Por isso, chamou Gil Norton, produtor de “Doolittle”, para trabalhar com o Foo Fighters no álbum “The Colour and the Shape” (1997). Com isso, procurou adaptar a dinâmica aprendida nos Pixies ao repertório da nova banda, ainda em formação.
Para Grohl, o grupo de Frank Black, Kim Deal, Joey Santiago e David Lovering permanece subestimado enquanto compositor e estruturador de um estilo. Muitas bandas foram influenciadas direta ou indiretamente, mas poucas atingiram a mesma potência criativa nos arranjos e letras.
Ainda que tenham evitado o estrelato, os Pixies marcaram uma geração de músicos e abriram caminhos para o rock alternativo nas rádios.