Na década de 1960, o mundo ocidental vivia um período de ebulição cultural. A música, em particular, era um campo fértil para experimentações, e os artistas buscavam inspiração em lugares cada vez mais distantes.
Foi nesse contexto que dois jovens guitarristas britânicos, George Harrison e Brian Jones, apareceram não apenas como músicos talentosos, mas como verdadeiros pontes entre o Oriente e o Ocidente. Enquanto Harrison, integrante dos Beatles, mergulhava profundamente na espiritualidade e na música indiana, Brian Jones, fundador dos Rolling Stones, explorava as sonoridades do norte da África e do mundo árabe.
Este artigo investiga como esses dois ícones da música britânica incorporaram influências orientais em suas obras, transformando não apenas suas carreiras, mas também o panorama musical global.
George Harrison e a jornada para o Oriente
George Harrison era conhecido como o “Beatle quieto”, mas sua curiosidade intelectual e espiritual o levaram a uma das jornadas mais fascinantes da história da música. Tudo começou em 1965, quando Harrison ouviu pela primeira vez o som do sitar, instrumento tradicional indiano, durante as filmagens do filme Help!.
Fascinado, ele decidiu aprender a tocar o instrumento, marcando o início de uma relação profunda com a cultura indiana.
Em 1966, Harrison viajou para a Índia para estudar sitar com o renomado mestre Ravi Shankar. Essa experiência não apenas transformou sua abordagem musical, mas também sua visão de mundo.
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A influência indiana logo apareceu na música dos Beatles, especialmente em faixas como “Norwegian Wood (This Bird Has Flown)”, do álbum Rubber Soul, que marcou a primeira vez que um sitar foi usado em uma gravação pop ocidental.
Mas foi em 1967, com o lançamento de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, que a fusão entre Oriente e Ocidente atingiu seu ápice. A faixa “Within You Without You”, composta e cantada por Harrison, é uma imersão total na música clássica indiana, com letras que refletem sua busca espiritual. A canção não apenas expandiu os horizontes dos Beatles, mas também introduziu milhões de ouvintes ocidentais à filosofia e à sonoridade indianas.
Harrison não parou por aí. Em 1968, ele produziu a trilha sonora do filme Wonderwall, uma das primeiras incursões da música indiana no cinema ocidental. Além disso, seu álbum solo All Things Must Pass (1970) continuou a explorar temas espirituais e influências orientais, consolidando seu legado como um dos grandes inovadores da música popular.
Brian Jones e as sonoridades do norte da África
Enquanto George Harrison se voltava para a Índia, Brian Jones, dos Rolling Stones, encontrava inspiração em outra parte do mundo: o norte da África. Jones, conhecido por sua versatilidade musical, era um ávido explorador de novos sons e instrumentos. Sua curiosidade o levou a Marrocos, onde se encantou com a música gnawa e os ritmos do deserto.
Em 1967, Jones gravou com músicos marroquinos em Marrakesh, resultando na faixa “Continental Drift”, que mais tarde seria incluída no álbum Beggars Banquet. Essa experiência marcou o início de uma jornada que veria Jones incorporar instrumentos como o oud, a cítara e a flauta de bambu em suas composições.
A influência africana e árabe pode ser ouvida em clássicos dos Rolling Stones como “Paint It Black”, que apresenta um som de sitar tocado por Jones, e “Street Fighting Man”, que utiliza técnicas de gravação inspiradas na música tradicional marroquina. Jones também foi responsável por introduzir o mellotron, um teclado que simula sons de orquestra, na música dos Stones, ampliando ainda mais o leque de possibilidades sonoras do grupo.
No entanto, a relação de Jones com a música oriental não se limitou à experimentação sonora. Ele viajou extensivamente pelo Marrocos e pelo Saara, mergulhando na cultura local e estabelecendo conexões profundas com músicos e artistas. Sua paixão pelo mundo árabe e africano foi uma das forças motrizes por trás da diversidade musical dos Rolling Stones durante os anos 1960.
O impacto dessas influências no mundo
A incorporação de elementos orientais por George Harrison e Brian Jones teve um impacto profundo não apenas em suas respectivas bandas, mas também na música popular como um todo. Ambos os artistas desafiaram as convenções do rock e do pop, abrindo caminho para uma nova era de experimentação e fusão cultural.
No caso de Harrison, sua influência ajudou a popularizar a música indiana no Ocidente, levando artistas como Ravi Shankar ao estrelato internacional. Além disso, sua busca espiritual inspirou uma geração de músicos e fãs a explorar filosofias e práticas orientais, como a meditação transcendental e o yoga.
Já Brian Jones demonstrou que a música ocidental poderia ser enriquecida por influências de culturas distantes, sem perder sua essência. Sua abordagem inovadora influenciou bandas como Led Zeppelin e The Doors, que também incorporaram elementos exóticos em suas obras.
George Harrison e Brian Jones podem ter seguido caminhos diferentes, mas ambos compartilhavam uma visão de mundo ampla e inclusiva. Enquanto Harrison encontrou na Índia uma fonte de inspiração espiritual e musical, Jones se encantou com as paisagens e os sons do norte da África. Juntos, eles ajudaram a quebrar as barreiras entre Oriente e Ocidente, provando que a música é uma linguagem universal.
Hoje, décadas após suas contribuições pioneiras, o legado de Harrison e Jones continua vivo. A música indiana e árabe são partes integrantes do cenário musical global, e artistas de todos os gêneros continuam a buscar inspiração em culturas distantes. Em um mundo cada vez mais conectado, a mensagem de Harrison e Jones é mais relevante do que nunca: a verdadeira arte transcende fronteiras.
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