Em 3 de julho, o calendário do rock remete a duas mortes que marcaram a trajetória do gênero na virada dos anos 1960 e 1970. Neste dia, em anos distintos, morreram Brian Jones, dos Rolling Stones, e Jim Morrison, do The Doors, ambos aos 27 anos.
As circunstâncias de cada caso seguem alimentando questionamentos, teorias e livros, que mantêm aceso o interesse por suas histórias. Além do número da idade, a data e o contexto trágico aproximaram seus nomes ao chamado “Clube dos 27“, reforçando um símbolo geracional.
A saída forçada e a morte de Brian Jones
Brian Jones foi encontrado morto em 3 de julho de 1969, na piscina de sua casa em Sussex, sul da Inglaterra. Segundo os registros oficiais, o músico morreu afogado, possivelmente após sofrer uma crise asmática durante o mergulho.
Nos dias anteriores, Jones havia sido afastado dos Rolling Stones, após desentendimentos com Mick Jagger e Keith Richards. Sua instabilidade emocional, uso de drogas e desinteresse por turnês foram citados como fatores para sua exclusão do grupo.
Apesar da versão oficial de afogamento acidental, investigações paralelas e depoimentos posteriores questionaram essa explicação. Em 2009, um documentário da BBC reabriu discussões ao apresentar suspeitas de homicídio envolvendo um funcionário da reforma da casa.
Jones havia sido peça-chave nos primeiros anos da banda, tocando múltiplos instrumentos e moldando a sonoridade inicial dos Stones. Após sua morte, os Rolling Stones realizaram um show gratuito no Hyde Park, em Londres, dedicado à sua memória.

Jim Morrison em Paris e o fim silencioso
Dois anos depois, em 3 de julho de 1971, Jim Morrison foi encontrado morto em um apartamento alugado em Paris, onde vivia com Pamela Courson. A causa oficial da morte foi parada cardíaca, mas não houve autópsia, o que contribuiu para especulações e teorias não confirmadas.
O vocalista do The Doors havia se mudado para a França buscando reclusão e afastamento da fama, após anos intensos nos Estados Unidos. Testemunhos da época indicam que Morrison havia ganhado peso e estava dedicado à escrita de poesias e ao cinema experimental.
Alguns relatos falam em overdose acidental, enquanto outros, como o livro The End, de James Henke, sugerem morte por heroína inalável. A ausência de exames periciais e o enterro rápido no cemitério Père-Lachaise alimentaram rumores de conspiração ou mesmo de que ele teria forjado a própria morte.
Mesmo com apenas quatro discos lançados em vida, Jim Morrison se tornou símbolo de uma geração dividida entre contracultura e colapso.

A construção de mitos e a fixação no número 27
A coincidência de datas e idades fortaleceu, ao longo do tempo, a criação do “Clube dos 27”, expressão que só se popularizaria décadas depois. Além de Jones e Morrison, músicos como Janis Joplin, Jimi Hendrix, Kurt Cobain e Amy Winehouse também morreram aos 27 anos.
O jornalista Charles R. Cross, autor de biografias de Hendrix e Cobain, já declarou ao The Guardian que “há uma busca por padrões” que muitas vezes mascara a realidade de saúde mental e dependência química.
A morte de ambos os artistas, ainda jovens, intensificou a maneira como suas obras passaram a ser percebidas com o passar dos anos. Em vez de trajetórias longas e estáveis, ficaram conhecidos por períodos intensos, conflituosos e criativos, encerrados de forma abrupta.
Brian Jones e Jim Morrison pertenceram a contextos diferentes, mas compartilharam uma relação tensa com a fama e os excessos do estrelato. Jones, antes de ser marginalizado por sua própria banda, teve papel essencial no surgimento dos Rolling Stones como grupo autoral.
Morrison, por sua vez, ocupou espaço singular entre poetas beat, o psicodelismo californiano e a teatralidade do rock de arena. Ambos deixaram registros que continuam sendo revisitados e reinterpretados, não apenas por fãs, mas também por pesquisadores e cineastas.
Mais do que teorias, suas mortes revelam como o culto à juventude e ao mito pode obscurecer o debate sobre saúde mental e abuso de substâncias.