O álbum que Keith Richards chamou de seu orgulho

Luis Fernando Brod
5 minutos de leitura
Keith Richards. Foto: Reprodução.

Aos 81 anos, a vida de Keith Richards é uma coleção de histórias que desafiam o comum. Imagine só: desde prisões por drogas que pararam o mundo até o dia em que, reza a lenda, ele inalou as cinzas do próprio pai. No meio de toda essa efervescência, entre uma turnê mundial e outra com os Rolling Stones, Richards ainda encontrou tempo para criar uma coleção de álbuns que viraram clássicos do rock and roll. Alguns deles, claro, brilham mais que outros.

O rock and roll, como o conhecemos, foi construído sobre os ombros de guitarristas que se tornaram verdadeiros mestres. Para o jovem Keef, nomes como Chuck Berry, Muddy Waters e Howlin’ Wolf não eram apenas inspirações; eram o mapa de sua jornada musical. É quase impossível imaginar Richards em outra vida – um bibliotecário, talvez? Um peixeiro? Nada parece combinar com sua alma inquieta. Não demorou muito para que ele se visse no centro do universo do rock.

Ele passou a conviver com os mesmos artistas que tanto admirava, enquanto, ao mesmo tempo, construía sua própria reputação como um dos guitarristas mais importantes do rock. A vida de um Rolling Stone, no entanto, não deixava muito espaço para o tédio. Se Richards não estava na estrada, estava compondo, gravando ou, bem, misturando algumas substâncias para passar o tempo. Sem essa rotina intensa, talvez os Stones nunca tivessem alcançado o sucesso estrondoso que conhecemos.

De qualquer forma, à medida que o guitarrista amadurecia e, digamos, encontrava um pouco mais de paz, ele aproveitava cada chance para tocar e gravar com outros músicos. Sua preferência era clara: artistas que tinham suas raízes fincadas na rica cena do blues americano.

O blues, afinal, foi o primeiro grande amor de Keith Richards. Foi esse som que o transformou em uma estrela do rock. Assim, além de dividir o palco com figuras como Howlin’ Wolf e Chuck Berry, Richards também arranjou tempo para gravar com músicos como Hubert Sumlin, um dos maiores guitarristas de blues que saíram da vibrante Chicago.

Sumlin já havia feito seu nome tocando com Howlin’ Wolf no início dos anos 1960. Seu talento já estava no radar de Richards muito antes de os Rolling Stones estourarem. Mas foi só na virada do milênio que a chance de trabalharem juntos finalmente apareceu. Richards deu uma mão e tanto na criação do álbum de Sumlin de 2005, que recebeu o nome de “About Them Shoes”.

O disco, que era uma homenagem às raízes do blues com versões de Muddy Waters e Howlin’ Wolf, reuniu um time de peso do rock and roll. Eric Clapton e David Johansen, vocalista do New York Dolls, fizeram participações especiais em algumas faixas. Mas o ponto alto do trabalho foi, sem dúvida, a canção “Still A Fool”, onde Sumlin e Richards se juntaram como dois gigantes da guitarra blues-rock.

Mesmo que “About Them Shoes” não tenha feito o mesmo barulho que os sucessos constantes dos Rolling Stones, ele continua sendo um dos momentos musicais que mais enchem Richards de orgulho. Em uma entrevista antes do lançamento do álbum, ele deixou isso bem claro: “Estou envolvido com Hubert há um tempo e o disco fez sucesso, e estou muito feliz por Hubert e por mim mesmo, porque me saí muito bem nele.”

Além daquela autoconfiança que lhe é tão peculiar, Richards sentia uma admiração sincera por Sumlin. Ele havia se encantado com o estilo do bluesman desde a adolescência. Essa profunda conexão se mostrou de um jeito muito bonito em 2011, quando Sumlin nos deixou aos 80 anos. As despesas do funeral foram totalmente pagas por Keith Richards e Mick Jagger, um gesto de respeito e carinho por um herói do blues que tanto marcou suas próprias jornadas musicais.

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