O caos criativo de “Hotel California”

Luis Fernando Brod
6 minutos de leitura
Eagles. Foto: Reprodução.

Nos bastidores da música, a história de como um álbum se torna um clássico é sempre cheia de reviravoltas. E com “Hotel California”, dos Eagles, não foi diferente. Gravado em estúdios de peso como o Criteria e o Record Plant, o álbum foi um caldeirão de ideias novas e alguns perrengues inesperados para a banda. Com Joe Walsh e Randy Meisner se juntando ao time, os Eagles queriam ir além. A faixa-título, “Hotel California”, carregava um peso especial, falando sobre a perda de um jeito profundo – o excesso, o sonho americano e o fim de uma era.

Don Henley, um dos cérebros por trás da banda, explicou à Rolling Stone o porquê do nome. Para ele, a palavra “Califórnia” já vinha carregada de um monte de significados, imagens fortes e um certo mistério que mexia com a cabeça das pessoas em todo lugar. Era como se a palavra já trouxesse consigo uma lenda americana, criada tanto pelo cinema quanto pela própria música.

Então, “Hotel California” virou mais que uma música, era uma grande metáfora. O hotel da canção, que atrai visitantes com a promessa de um paraíso, na verdade mostrava as falhas da sociedade. Era um espelho da desilusão com a contracultura e com os ideais que um dia pareceram tão fortes. Um lugar que parecia real, mas que no fundo era uma ilusão, te seduzindo com o que parecia ser o melhor, até você perceber que nem tudo era o que parecia.

Essa ideia se espalhou por todo o disco. Los Angeles foi usada como um retrato dos Estados Unidos, e a banda queria mostrar todos os problemas e falhas do país. Havia uma sensação de que algo estava perdido, algo que parecia incrível antes, mas que agora estava queimado por seus próprios erros. E parecia não haver volta, a não ser que houvesse mudanças de verdade.

Montar um álbum com um conceito tão forte e cheio de camadas já era um desafio e tanto. Mas a coisa ficou ainda mais complicada nos Criteria Studios, de um jeito que a banda nem imaginava. O que eles não sabiam é que o Black Sabbath estava gravando no mesmo estúdio, na mesma época, e isso ia dar um nó na cabeça de todo mundo. O som pesado do Sabbath era tão alto que os Eagles tinham que parar suas gravações várias vezes, esperando a barulheira diminuir.

Tony Iommi, o guitarrista do Black Sabbath, contou essa história em seu livro “Iron Man”. Ele disse que escolheram o Criteria Studios em Miami porque era famoso, usado por gente como Bee Gees, Fleetwood Mac e, sim, os Eagles. Iommi descreveu bem a cena: “Os Eagles estavam gravando ‘Hotel California’ enquanto estávamos lá. Às vezes, eles tinham que parar por nossa causa, porque estávamos muito barulhentos e o som vazava para o estúdio deles: ‘Wrrooaarr!'”. Imagina só: duas bandas gigantes do rock, cada uma no seu mundo musical, se esbarrando sem querer nos corredores do estúdio. Era uma prova das tensões e das coisas estranhas que acontecem na hora de criar.

Mas não pense que era só o Sabbath causando problemas. A verdade é que os Eagles também davam um certo trabalho para a turma do som pesado. Geezer Butler, o baixista do Black Sabbath, lembrou de uma vez em que eles encontraram umas sobras de cocaína que precisavam ser limpas antes de começarem a tocar. Don Henley já tinha dito que a cocaína era sua “ferramenta de escrita”, o que dava um contexto diferente para o uso da substância, não só por diversão. Mesmo assim, a situação não deixou os caras do Sabbath muito à vontade.

Butler contou os detalhes: “Antes mesmo de começarmos a gravar, tivemos que tirar toda a cocaína da mesa de mixagem. Acho que eles deixaram cerca de meio quilo de cocaína na mesa.” Essa história mostra bem como era o mundo da música naquela época, onde o exagero e a busca por inspiração se misturavam de um jeito nem sempre tranquilo. O choque entre esses dois universos musicais tão diferentes, cada um com seu jeito de trabalhar, nos Criteria Studios, acabou adicionando mais uma camada à já grande missão de fazer “Hotel California”. No fim das contas, todo esse vai e vem nos estúdios ajudou a dar o tom e a profundidade a um álbum que até hoje toca muita gente, provando que a arte pode nascer até no meio da confusão.

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