Nesta terça-feira, 30 de abril, mais de uma centena de países voltam suas atenções para o Dia Internacional do Jazz, criado pela Unesco em 2011. A proposta surgiu como uma forma de reconhecer o papel do jazz no estímulo ao diálogo entre culturas e na valorização da liberdade artística.
A data não foi escolhida ao acaso. O jazz, nascido no sul dos Estados Unidos, representa uma longa história de encontros entre tradições africanas e europeias. Ao propor a celebração anual, a Unesco destacou o caráter coletivo da música e seu papel como ferramenta de aproximação entre diferentes povos.
Para a entidade, o jazz “rompe barreiras e cria oportunidades de entendimento mútuo”, como apontado em nota oficial. Também estimula a liberdade de expressão, a inclusão social e o respeito às diferenças, em especial por meio da improvisação – um dos alicerces do estilo.
O pianista e embaixador da data, Herbie Hancock, afirmou em 2020 que o evento é uma “oportunidade para a humanidade se reconectar, principalmente em tempos de incerteza”. A declaração veio durante as celebrações online daquele ano, marcadas por restrições da pandemia.
A origem do jazz remete ao século XIX, em Nova Orleans, onde a Congo Square reunia escravizados africanos aos domingos. Lá, surgiram práticas musicais marcadas por batuques, danças circulares e cânticos religiosos de matriz afro-caribenha. Esses elementos serviram de base para o surgimento do jazz como linguagem própria.
Com o fim da escravidão, músicos afro-americanos passaram a desenvolver um repertório próprio, mesclando cultura oral, improvisação e elementos da música europeia. A partir das bandas marciais e dos spirituals, o jazz começou a tomar forma ainda no final do século XIX.
Durante o século XX, o gênero passou por diversas fases, desde o ragtime e o Dixieland até os sofisticados experimentos do bebop e do free jazz. Estilos como swing, cool jazz, hard bop e soul jazz também ajudaram a consolidar o jazz como uma das expressões mais versáteis da música moderna.
A música também dialogou com tradições de outros continentes, dando origem ao jazz afrocubano, ao jazz flamenco e ao jazz latino. A miscigenação de estilos e a constante reinvenção mantêm o gênero em movimento, desafiando classificações rígidas.
Ainda que tenha se desenvolvido em palcos e clubes, o jazz guarda forte vínculo com as ruas e com a improvisação. Em muitos casos, não há partitura – apenas a troca entre músicos que constroem a obra no momento da execução.
Hoje, além de suas qualidades musicais, o jazz também é valorizado por seu alcance educativo. O gênero aparece em salas de aula, oficinas, projetos sociais e conservatórios, cumprindo função cultural e pedagógica em diversas regiões do mundo.
Com edições simultâneas em várias capitais, o Dia Internacional do Jazz costuma incluir concertos, mesas-redondas e atividades gratuitas. O evento conta com apoio de universidades, governos, escolas e instituições culturais.
A cada ano, uma cidade recebe o concerto oficial promovido pela Unesco e pelo Instituto de Jazz de Herbie Hancock. Nova York, Paris, Havana e São Petersburgo já sediaram as edições anteriores. Em 2023, a sede principal foi a cidade de Tanger, no Marrocos.
O Dia Internacional do Jazz não se resume a uma celebração musical. Ele serve como lembrete de que a arte pode conectar diferentes vivências, favorecendo o entendimento coletivo em tempos de crise ou fragmentação.
Nesse contexto, o jazz continua a ser não apenas um gênero musical, mas também um espaço de escuta, criação e encontro. E, como todos os anos, o dia 30 de abril se firma como uma ocasião para relembrar essa trajetória e manter vivos seus caminhos.
Separamos abaixo, quatro obras seminais do Jazz para curtir neste dia tão importante:
Kind of Blue – Miles Davies

Kind of Blue (1959), de Miles Davis, é um dos álbuns mais importantes da história do jazz, revolucionando o gênero com seu estilo modal. Gravado com lendas como John Coltrane e Bill Evans, o disco é marcado por improvisações fluidas e atmosfera relaxante. Sua influência transcende o jazz, impactando o rock, a música eletrônica e outros estilos. Considerado uma obra-prima atemporal, continua sendo um dos discos mais vendidos e aclamados da história da música. 🎷✨
Mingus Ah Um
“Mingus Ah Um” (1959), de Charles Mingus, é um marco do jazz moderno, misturando hard bop, blues e influências gospel. O álbum destaca-se por composições ousadas como “Goodbye Pork Pie Hat” (homenagem a Lester Young) e “Fables of Faubus” (crítica política). Sua energia coletiva e improvisações intensas refletem a inventividade de Mingus, consolidando-o como um dos maiores compositores do jazz. Essencial para entender a evolução do gênero nos anos 1950/60.

Time Out – Dave Brubeck

“Time Out” (1961), do Dave Brubeck Quartet, é um dos discos mais importantes do jazz, conhecido por suas inovações rítmicas, especialmente o uso de compassos incomuns como 5/4 (em “Take Five”) e 9/8. O álbum ajudou a popularizar o jazz moderno, tornando-se um clássico atemporal e um marco na história da música. Sua ousadia harmônica e melódica influenciou gerações de músicos, consolidando Brubeck como um dos grandes nomes do gênero.
The Shape of Jazz to Come – Ornette Colleman
“The Shape of Jazz to Come” (1959), de Ornette Coleman, revolucionou o jazz ao abandonar estruturas harmônicas fixas, introduzindo a improvisação livre e uma abordagem coletiva. Considerado um marco do free jazz, o álbum desafiava convenções com melodias emotivas e interações intuitivas entre os músicos. Sua ousadia influenciou gerações, redefinindo os limites da música improvisada. Um clássico essencial para entender a evolução do jazz moderno.”

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