A revista britânica MOJO, conhecida por sua profundidade na análise musical, revisou recentemente uma lista dos 20 discos mais decepcionantes de todos os tempos. Publicada originalmente há alguns anos, a seleção gerou polêmica ao destacar trabalhos de artistas consagrados que, na época, foram mal recebidos por críticos e fãs. Agora, a publicação decidiu reavaliar esses álbuns, sugerindo que muitos deles merecem uma segunda chance.
Entre os títulos revisitados estão obras de bandas e artistas que, apesar de seu histórico de sucesso, enfrentaram rejeição em momentos específicos de suas carreiras. A MOJO argumenta que, longe de serem fracassos, alguns desses trabalhos foram incompreendidos ou subestimados. A proposta é que o público os escute novamente, livre de preconceitos, para descobrir qualidades antes ignoradas.
A revista também destaca que a rejeição inicial a alguns álbuns pode estar ligada a expectativas irreais. “Quando um artista atinge um pico criativo, qualquer coisa que venha depois tende a ser comparada ao auge”, comenta um crítico da MOJO. “Isso pode impedir que o público aprecie o trabalho em seus próprios termos.”
A iniciativa da MOJO não busca apenas reabilitar reputações, mas também estimular uma reflexão sobre como a crítica e o público consomem música. A ideia é que, ao revisitar esses álbuns, os ouvintes possam descobrir nuances e méritos que passaram despercebidos.
Para quem se interessa pela história da música, a lista serve como um convite para explorar obras que, embora polêmicas, fazem parte da trajetória de artistas importantes. A revista reforça que, na música, como em qualquer forma de arte, a percepção pode mudar com o tempo, e o que hoje parece decepcionante pode, no futuro, ser reconhecido como inovador.
A lista completa e a análise detalhada podem ser encontradas na edição mais recente da MOJO, você pode ver clicando neste link aqui.
Veja abaixo o top 5 de discos decepcionantes que merecem ser reavaliados
5. Empire Burlesque – Bob Dylan

Dylan encontra sua voz em meio à experimentação dos anos 1980
Por sua própria admissão, Bob Dylan sentiu-se perdido nos anos 1980, uma década marcada por sons sintéticos e produções exuberantes. Seu 23º álbum, “Empire Burlesque”, lançado em 1985, foi envolto em batidas eletrônicas e synths pelo produtor Arthur Baker, mas, sob essa camada, revela um retorno à forma em letras e execução.
A seção rítmica de Sly e Robbie traz um groove descontraído para “Tight Connection to My Heart (Has Anyone Seen My Love)”, enquanto “Seeing the Real You at Last” surge como uma crítica ácida, comparável a “Idiot Wind”. Até os críticos mais ferrenhos reconhecem a beleza de “Dark Eyes”, faixa acústica gravada a pedido de Baker. Minimalista, ela remete às raízes folk de Dylan e antecipa o tom introspectivo de “Oh Mercy”, de 1989.
Ouça aqui: Empire Burlesque
4. Cut the Crap – The Clash
Considerado um fracasso total, até mesmo por Joe Strummer, o último álbum do The Clash, lançado em 1985, foi excluído de retrospectivas da banda. Gravado sem o baterista Topper Headon e, crucialmente, sem o guitarrista Mick Jones, o disco tentou reviver o espírito punk dos anos 1970 enquanto incorporava sintetizadores e máquinas de ritmo dos anos 1980.
Com novos integrantes Vince White, Nick Sheppard e Pete Howard, a formação “The Clash Mk2” chegou a fazer uma turnê “busking” pelo Reino Unido. Apesar de faixas como “We Are The Clash” não terem ressoado na era yuppie, “This Is England” se destaca como uma das maiores canções da banda. A música, de tom emocional e denso, captura a inquietação e alienação sob o triunfalismo da Grã-Bretanha dos anos 1980.
Apesar da rejeição inicial, o álbum ganha nova atenção, revelando camadas que merecem ser revisitadas.
Ouça aqui: Cut the Crap

3. Earthling – David Bowie

Após um período de incertezas nos anos 1980, David Bowie mostrou sinais de renovação com álbuns como “Black Tie White Noise” (1993) e “Outside” (1995). Mas foi com “Earthling”, lançado em 1997, que o artista mergulhou de cabeça no futuro. Inspirado pelo jungle e pelo drum’n’bass, gêneros que ganhavam força na época, Bowie criou uma obra ousada e experimental.
Gravado em duas semanas, o álbum é uma colagem de samples, loops e batidas aceleradas, chegando a 160 bpm. A faixa “Little Wonder”, single de destaque, exemplifica essa mistura com letras fragmentadas e um som intenso. Apesar da reação mista de críticos e fãs, “Earthling” representa Bowie em sua essência: um defensor da individualidade e da experimentação.
Com uma sonoridade que mistura rebeldia e liberdade, o disco se tornou um marco para uma nova geração. Mais do que seguir tendências, Bowie as reinventou, provando mais uma vez sua capacidade de se reinventar e surpreender.
Ouça aqui: Earthling
2. Songs From The Capeman – Paul Simon
Quem diria que o polêmico musical da Broadway de Paul Simon, sobre um jovem porto-riquenho assassino de capa preta, seria um fracasso tão espetacular (prejuízo de US$ 11 milhões)? A culpa, no entanto, não foi da música. A mistura de doo-wop, rock’n’roll, gospel e ritmos latinos revela uma ambição heroica, com narrativa emocionante e performances intensas que rivalizam com obras-primas como “Graceland”. No cenário atual do teatro musical, mais ousado, provavelmente faria sucesso.
Ouça aqui: Songs From The Capeman

1. The Raven – Lou Reed

Em 2003, Lou Reed lançou “The Raven”, uma ópera rock de duas horas inspirada na obra de Edgar Allan Poe. Na época, o projeto foi visto como excessivo e indulgentes, sendo considerado por muitos seu pior trabalho. No entanto, a ambição por trás do álbum é inegável.
Reed reuniu um elenco eclético para a produção. Willem Dafoe empresta sua voz a “The Conqueror Worm”, Laurie Anderson traz uma atmosfera intrigante em “Call On Me”, e David Bowie participa do raro dueto “Hop Frog”. O resultado é uma construção audaciosa, repleta de declarações adultas e momentos de glória surpreendentes.
Com Reed growlando, discursando e transformando as visões góticas de Poe, “The Raven” soa como algo único até hoje. Apesar da rejeição inicial, o álbum pode ser revisitado como uma obra ousada que desafia convenções e merece uma segunda chance.
Ouça aqui: The Raven
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