Rick Rubin aponta banda que quebrou paradigmas da guitarra

O mundo da música muitas vezes procura por rupturas, novas formas de tocar, novas sonoridades, algo que desafie o que já existe. Em meio a essa busca, o produtor Rick Rubin fez uma observação que chamou a atenção. Ele apontou uma banda que, em sua visão, teria reinventado a guitarra elétrica. Essa afirmação não é pequena, especialmente vinda de Rubin, que trabalhou com tantos artistas. É preciso, então, investigar quem seria essa banda e o porquê dessa declaração.

A banda em questão era o The Jesus and Mary Chain, um grupo escocês que surgiu na década de 1980. Sua proposta musical era bastante diferente do que se ouvia na época. Eles misturavam melodias pop com uma quantidade imensa de microfonia. Essa abordagem chocou e fascinou muitos ouvintes. Era um som ruidoso, mas ao mesmo tempo melancólico e belo. Os irmãos Reid, Jim e William, eram o coração do The Jesus and Mary Chain. Eles tinham uma estética própria e uma visão muito clara do som que queriam criar.

A ideia de “reinventar” a guitarra pode parecer exagerada para alguns, mas é importante olhar para o contexto em que o The Jesus and Mary Chain surgiu. A década de 1980 era dominada por produções polidas. Muitas bandas buscavam um som limpo, com pouco espaço para o experimentalismo. Nesse cenário, o The Jesus and Mary Chain apresentou um som cru e distorcido. O ruído da guitarra não era um defeito, mas sim uma parte fundamental da música. Eles não tentavam esconder as imperfeições, pelo contrário, as abraçavam como elementos expressivos.

Capa do álbum Psychocandy do The Jesus and Mary Chain.

O álbum de estreia do The Jesus and Mary Chain, “Psychocandy“, lançado em 1985, é um exemplo disso. Ele trouxe uma parede de som, onde as guitarras eram quase indistinguíveis. Era uma massa sonora que envolvia o ouvinte. Canções como “Just Like Honey” e “Never Understand” mostravam essa fusão de melodias doces coexistindo com um feedback agressivo. Rick Rubin, em sua fala, parecia focar nesse aspecto do som da banda. Ele mencionou como o The Jesus and Mary Chain usou o ruído de uma forma nova e inventiva. Não era apenas barulho pelo barulho, mas sim uma exploração das possibilidades sonoras da guitarra. Rubin viu neles uma ruptura com o convencional, uma banda que não tinha medo de ser dissonante.

O uso da distorção e do feedback já existia antes deles. Bandas de garagem e psicodélicas exploravam esses sons. No entanto, o The Jesus and Mary Chain fez isso de uma forma que se tornaria influente para muitos. Eles pegaram o ruído e o elevaram a um patamar artístico, não como um mero efeito, mas como parte essencial da composição. Essa abordagem abriu caminho para muitas bandas futuras. Grupos de shoegaze, por exemplo, se inspiraram muito no som etéreo e ruidoso do The Jesus and Mary Chain. My Bloody Valentine, Slowdive, Ride, todos eles de alguma forma foram tocados por essa sonoridade. O shoegaze usou camadas de guitarra para criar atmosferas densas, algo que remete diretamente à forma como o The Jesus and Mary Chain construía suas músicas.

A fala de Rick Rubin sobre a “reinvenção” da guitarra, portanto, não é apenas uma hipérbole. É um reconhecimento da influência que a banda teve na forma como a guitarra poderia ser usada na música. Eles mostraram que o instrumento não precisava ser sempre melódico. Poderia ser uma fonte de texturas, de ruídos, de uma sonoridade mais abstrata. A história da guitarra elétrica é longa e cheia de inovações. Desde os primórdios, com Charlie Christian, passando por Jimi Hendrix, Eric Clapton, Jimmy Page. Todos eles trouxeram algo novo para o instrumento. Hendrix, por exemplo, explorou o feedback e a alavanca de um modo nunca antes visto. Ele fez a guitarra cantar e urrar de maneiras que eram revolucionárias.

Mas o The Jesus and Mary Chain não estava interessado em virtuosismo técnico. Eles estavam mais preocupados em criar uma atmosfera sonora. O som das guitarras era quase um personagem em si mesmo, dentro das músicas. Jim Reid, vocalista, e William Reid, guitarrista, tinham uma química única e uma visão compartilhada. Eles queriam desconstruir o pop tradicional, mas mantendo sua essência. As melodias pop eram a base, mas as camadas de ruído as transformavam. É interessante notar que a banda não era exatamente popular com a crítica logo de cara. Alguns achavam o som deles muito barulhento ou repetitivo. No entanto, com o tempo, o reconhecimento veio. “Psychocandy” é hoje considerado um álbum essencial para entender o rock alternativo.

Sua importância se estende para além do som. O The Jesus and Mary Chain também tinha uma imagem particular. Eles eram reclusos, quase misteriosos, e suas apresentações eram muitas vezes curtas. Essa postura também contribuiu para a mística em torno da banda. Voltando à citação de Rick Rubin, ela nos convida a pensar no que realmente significa “reinventar”. Não se trata de criar algo do zero. Mas de pegar elementos existentes e combiná-los de uma forma que resulte em algo novo e impactante. O The Jesus and Mary Chain fez isso com a guitarra. Eles pegaram o ruído, a distorção, e os usaram como componentes primários de suas músicas. Não eram adornos, mas sim a própria textura do som.

O álbum seguinte, “Darklands“, de 1987, mostrou uma faceta um pouco diferente. As guitarras continuavam lá, mas o som era menos abrasivo. Ainda assim, a melancolia e a atmosfera única da banda permaneciam. Canções como “April Skies” e “Happy When It Rains” são exemplos dessa fase. Elas comprovam que o The Jesus and Mary Chain era capaz de evoluir sem perder sua identidade. O reconhecimento de Rick Rubin não é isolado. Muitos músicos e críticos apontam a influência do The Jesus and Mary Chain. Eles foram um elo entre o punk, o new wave e o surgimento do indie. Sua sonoridade abriu as portas para uma geração de bandas que experimentariam com o som.

A banda continuou lançando álbuns ao longo dos anos, com variações em seu som. Mas “Psychocandy” continua sendo o trabalho que define essa “reinvenção” da guitarra. É o disco onde o ruído se torna melodia, e a distorção, poesia. Para entender a música contemporânea, é preciso olhar para as bandas que ousaram. E o The Jesus and Mary Chain certamente está nessa lista. Eles não só mudaram a forma de usar a guitarra, mas também a forma como ouvimos a música. O som deles nos força a prestar atenção nas texturas, nas camadas, no que está por trás da melodia.

Isso é o que Rick Rubin provavelmente percebeu. A capacidade de uma banda de alterar a percepção do ouvinte sobre um instrumento. Não é apenas técnica, mas conceito. Não é apenas tocar, mas criar um universo sonoro único. Eles nos mostraram que o ruído pode ser belo. Que a distorção pode ser expressiva. E que a guitarra ainda tinha muitos segredos a revelar. A discussão sobre a “reinvenção” de um instrumento ou de um gênero musical é sempre complexa e cheia de nuances. Nenhum artista cria do nada. Há sempre influências, caminhos já trilhados.

O que diferencia os “reinventores” é a forma como eles pegam essas influências e as transformam. O The Jesus and Mary Chain pegou o legado do rock e do punk. Adicionou uma camada de escuridão e beleza. E acima de tudo, usou a guitarra de um jeito que era deles. Um som que ainda hoje parece fresco e original. Pense nas bandas que vieram depois. Quantas delas não tentaram emular essa parede de som? Quantas não foram inspiradas pela coragem de ser barulhento e melódico ao mesmo tempo? É um testemunho da duradoura influência do The Jesus and Mary Chain. Eles são um exemplo de como a inovação nem sempre vem do virtuosismo. Às vezes, vem da coragem de ser diferente. De desconstruir o que se espera. E de fazer o seu próprio caminho sonoro.

A música é um campo em constante movimento. Sempre há novas ideias, novos sons surgindo. Mas algumas bandas deixam uma marca tão profunda que mudam a forma como olhamos para o que veio antes e depois. O The Jesus and Mary Chain fez isso. Eles pegaram a guitarra elétrica e a redefiniram para uma geração. Não com truques de estúdio, mas com uma visão. Com a ousadia de explorar o que muitos consideravam apenas “barulho”. E transformá-lo em arte. A afirmação de Rick Rubin, portanto, faz sentido. O The Jesus and Mary Chain não inventou a guitarra. Mas eles certamente reinventaram a forma como ela poderia soar.

E para os amantes da música, isso é o que realmente importa. Descobrir como os artistas conseguem expandir os limites do som. E nos fazer ouvir de uma maneira completamente nova. Eles são um capítulo essencial na história da guitarra moderna.

Ouça abaixo Psychocandy do The Jesus And Mary Chain

Autor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *