Rocks, o auge criativo do Aerosmith

A trajetória do Aerosmith nunca seguiu uma linha reta. Desde os anos 1970, a banda passou por diferentes fases, indo do blues rock sujo de seus primeiros álbuns ao som mais polido e voltado para as paradas nos anos 1980 e 1990. No entanto, para muitos fãs, o auge criativo do grupo aconteceu em 1976, com “Rocks”. O disco consolidou o quinteto como uma força do hard rock norte-americano e influenciou inúmeras bandas nas décadas seguintes.

Nem todas as gerações receberam os discos do Aerosmith da mesma maneira. No final dos anos 1980, a sonoridade visceral dos primeiros trabalhos já não tinha o mesmo apelo comercial. O grupo, que havia enfrentado dificuldades após a saída de Joe Perry e Brad Whitford, precisou se reinventar. O retorno da formação clássica em “Done With Mirrors” (1985) não teve grande repercussão, em parte porque o mercado havia mudado. O hard rock radiofônico, representado por bandas como Bon Jovi e Poison, dominava as paradas, tornando o som cru do Aerosmith menos atraente para o grande público.

Para se adequar à nova realidade, o grupo adotou uma abordagem mais comercial em discos como “Permanent Vacation” (1987) e “Pump” (1989), apostando em baladas como “Angel” e refrões marcantes em faixas como “Rag Doll”. A estratégia funcionou, mas nem todos os integrantes estavam à vontade com essa transformação. Joe Perry, por exemplo, sempre teve uma inclinação maior para o rock visceral da década de 1970, marcado por riffs pesados e arranjos mais espontâneos. “Love in an Elevator” manteve a arrogância característica de sua guitarra, mas já não tinha o mesmo peso dos primeiros anos da banda.

Olhando para os anos 1970, as comparações com Led Zeppelin e Rolling Stones foram inevitáveis. No entanto, ao contrário de muitas bandas da época, o Aerosmith não tentava apenas replicar a sonoridade britânica. O grupo encontrou um espaço próprio, combinando o peso do hard rock com uma forte influência do rhythm & blues. “Toys in the Attic” (1975) ajudou a banda a ganhar projeção, mas foi com “Rocks” (1976) que atingiram um novo nível de maturidade.

Joe Perry considera esse álbum um ponto alto na história do grupo, em entrevista ao Boston Magazine, resgatada pela Far Out: “Estávamos no auge da nossa criatividade. Estávamos apenas nos aquecendo para ‘Rocks’ quando fizemos ‘Toys in the Attic’, e ‘Rocks’ foi uma espécie de recompensa”, comentou o guitarrista. O disco trouxe uma abordagem ainda mais agressiva e lapidada, explorando texturas e dinâmicas que ampliaram a sonoridade do Aerosmith.

O impacto pode ser sentido logo na faixa de abertura, “Back in the Saddle”. Perry usou um baixo de seis cordas para criar um groove denso, enquanto Steven Tyler entregou uma das performances vocais mais intensas da sua carreira. O peso continuou com faixas como “Last Child” e “Rats in the Cellar”, que soavam como versões mais cruas e aceleradas das músicas de “Toys in the Attic”. Em “Nobody’s Fault”, a banda se aproximou de um som mais sombrio, algo incomum para a época.

A influência de “Rocks” se estendeu para além do Aerosmith. O álbum foi um dos principais pilares para o hard rock e o heavy metal dos anos 1980, com músicos como Slash, do Guns N’ Roses, e James Hetfield, do Metallica, citando o disco como uma referência fundamental. Muitos artistas enxergaram em “Rocks” um modelo de como equilibrar peso e melodia sem perder autenticidade.

Ao longo dos anos, Joe Perry destacou momentos favoritos em diferentes álbuns, mas “Rocks” permanece como um dos mais respeitados da discografia do Aerosmith. A banda explorou outras direções nas décadas seguintes, incluindo sonoridades mais comerciais e experimentações, mas raramente alcançou o mesmo nível de intensidade. Para muitos fãs, a questão persiste: depois de um disco tão poderoso, fazia sentido revisitar algo como “Just Push Play” (2001)?

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