Roger Waters sempre teve papel central na construção da identidade sonora e conceitual do Pink Floyd. Ainda assim, seu interesse musical ultrapassava os limites do rock progressivo e das viagens psicodélicas da banda.
Em entrevistas, Waters demonstrou admiração por compositores com uma abordagem mais direta, como Bob Dylan e Neil Young. Em 2023, ele revelou que há uma música de Young que ele gostaria de ter escrito: a faixa “Powderfinger”. A declaração foi feita durante uma sessão de perguntas e respostas em seu canal no YouTube (via Far Out Magazine).
Na ocasião, Waters afirmou: “Daria meu braço direito para ter escrito essa música”, referindo-se à canção de 1979. “Powderfinger” foi lançada oficialmente no álbum “Rust Never Sleeps”, embora tenha sido composta alguns anos antes. A versão gravada é apresentada por Neil Young com sua banda de apoio, a Crazy Horse, e mantém clima cru e direto.
A narrativa da faixa acompanha um jovem do sul dos Estados Unidos diante de uma ameaça violenta. Logo nos primeiros versos, o personagem avisa à mãe: “Olha, mamãe, há um barco branco subindo o rio”. A letra revela um cenário tenso, com o protagonista assumindo a defesa da família com o rifle do pai. Ao tentar reagir ao ataque, ele é atingido e morre — uma conclusão abrupta e trágica para a história contada.
Segundo Waters, a força da composição está na simplicidade da forma e no peso emocional contido nas palavras. Mesmo acostumado a criar conceitos complexos e discos com múltiplas camadas narrativas, ele se diz tocado pela economia de meios. “Fiquei sem palavras desde o primeiro verso”, afirmou, destacando o poder das imagens evocadas por Young.
Em “Powderfinger”, Waters vê algo que raramente aparece com tanta clareza no repertório do Pink Floyd: um retrato direto da violência. A identificação entre os dois artistas, no entanto, se estende também ao conteúdo político e pacifista de suas obras.
Ambos usaram suas músicas para abordar questões sociais e críticas à guerra, embora com estilos distintos. Enquanto Waters preferiu metáforas e estruturas conceituais, Young se manteve mais direto em sua escrita.
A convergência entre eles está menos na forma e mais na inquietação que move seus trabalhos.
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