Siouxsie and the Banshees: intensidade sombria e inventividade em alta voltagem

Poucas bandas britânicas conseguiram atravessar os anos 70 e 80 com tamanha ousadia estética quanto o Siouxsie and the Banshees. Nascido do caos punk que varria o Reino Unido em 1976, o grupo liderado por Siouxsie Sioux e pelo baixista Steven Severin ampliou os limites do rock alternativo ao misturar agressividade e experimentação com um senso visual arrebatador.

O primeiro passo da banda aconteceu sem ensaio e com lineup improvisado, em um show lendário durante o festival punk no 100 Club. A performance — marcada por uma versão de vinte minutos do Pai Nosso — deixou claro que Siouxsie não pretendia seguir fórmulas. Esse espírito permaneceu nos discos, sempre guiados por uma estética sombria, teatral e de forte peso emocional.

O álbum de estreia, “The Scream” (1978), chegou com guitarras angulosas e um clima opressor. A crítica britânica não soube exatamente como rotular, mas reconheceu a força daquela sonoridade crua. A guitarra de John McKay e a bateria tribal de Kenny Morris criaram uma base perfeita para os vocais incisivos de Siouxsie, especialmente em faixas como “Jigsaw Feeling” e “Switch”.

Com a entrada do guitarrista John McGeoch no início dos anos 80, a banda passou a explorar texturas mais elaboradas. “Juju” (1981) é frequentemente lembrado como o disco mais coeso da fase pós-punk do grupo. Segundo a revista Uncut, esse álbum “define o que o rock gótico viria a ser”, com composições como “Spellbound” e “Arabian Knights” que misturam urgência pop com camadas sombrias e poéticas.

O experimentalismo continuou com “A Kiss in the Dreamhouse” (1982), onde cordas, sintetizadores e produção refinada deram novos contornos à banda. Siouxsie, com figurino expressionista e presença de palco magnética, se tornou referência visual e sonora para artistas que viriam nas décadas seguintes, de PJ Harvey a Trent Reznor.

Entre os músicos que passaram pelo grupo, nomes como Robert Smith (The Cure) e Budgie (baterista e parceiro criativo de Siouxsie no The Creatures) também contribuíram para a pluralidade musical da banda. A faixa “Dear Prudence”, cover dos Beatles lançada em 1983, trouxe reconhecimento mais amplo, chegando ao Top 3 das paradas britânicas.

O disco “Peepshow” (1988) marca a maturidade estética e lírica de Siouxsie and the Banshees. Músicas como “Peek-a-Boo” mostram o quanto a banda se manteve criativa mesmo em meio à era dominada por sintetizadores e produções plastificadas. A estrutura não convencional da canção, com acordeão e batidas quebradas, antecipou movimentos experimentais do trip-hop dos anos 90.

Apesar de encerrar as atividades nos anos 90, a influência do grupo segue pulsando. Como apontado por André Barcinski em seu canal, a banda formou uma “ponte entre o punk caótico dos Sex Pistols e a introspecção sombria de bandas como Bauhaus e Joy Division”, ajudando a consolidar uma cena que até hoje ecoa no indie e na eletrônica.

O legado de Siouxsie and the Banshees está em sua recusa à estagnação. Cada disco buscou um território novo, muitas vezes desafiando o ouvinte, mas sempre mantendo uma integridade artística rara no pop britânico.

A discografia de estúdio do Siouxsie and the Banshees acompanha, quase como um reflexo sonoro, as evoluções e contradições do pós-punk britânico. De 1978 a 1995, a banda comandada por Siouxsie Sioux e Steven Severin testou fronteiras, abriu caminhos e, mais do que tudo, moldou uma identidade artística cuja influência ainda se nota em artistas de diferentes gerações. A seguir, um panorama cronológico dos discos, suas principais faixas e a relevância de cada um para a trajetória da banda e do gênero.

“The Scream” (1978)

Gravado em um momento de efervescência punk, o álbum de estreia soa menos como uma continuação do movimento e mais como seu desdobramento sombrio. Produzido por Steve Lillywhite, o disco prioriza a tensão, o ruído e uma bateria seca. É um trabalho cru, mas já carregado de identidade própria.
Ranking de faixas:

“Join Hands” (1979)

Mais sombrio e menos acessível que o antecessor, o disco lida com temas ligados à guerra e alienação. A saída abrupta do guitarrista John McKay durante a turnê impacta a recepção do álbum, mas não diminui seu peso.
Ranking de faixas:

“Kaleidoscope” (1980)

“Juju” (1981)

“A Kiss in the Dreamhouse” (1982)

“Hyaena” (1984)

Com Robert Smith (The Cure) na guitarra, o disco apresenta faixas complexas, de estrutura tortuosa e ambição lírica. O experimentalismo, aqui, convive com acessos melódicos.
Ranking de faixas:

“Tinderbox” (1986)

A formação se estabiliza com John Valentine Carruthers. O disco recupera o foco e mistura melancolia com refinamento pop. Há peso, mas também clareza.
Ranking de faixas:

“Through the Looking Glass” (1987)

Trata-se de um disco de covers, mas seu valor vai além da simples releitura. A banda transforma as canções em algo próprio.
Ranking de faixas:

“Peepshow” (1988)

Mais teatral e multifacetado, o disco abraça o art rock sem deixar de lado o espírito gótico. Siouxsie canta com liberdade e intensidade.
Ranking de faixas:

“Superstition” (1991)

Produzido por Stephen Hague, o álbum se inclina ao pop refinado, com ênfase nos teclados e batidas programadas. É um trabalho mais limpo.
Ranking de faixas:

“The Rapture” (1995)

Último disco de estúdio, é dividido entre faixas produzidas por Mike Hedges e outras pela própria banda. Soa irregular, mas ambicioso.
Ranking de faixas:

Essa discografia mostra não apenas a evolução de uma banda, mas os múltiplos caminhos possíveis dentro do pós-punk, do gótico ao experimental, do pop ao psicodélico. O Siouxsie and the Banshees foi, ao longo de quase duas décadas, uma força criativa que ajudou a expandir o horizonte sonoro da música alternativa — sem se prender a fórmulas, mas sempre respondendo ao desejo de experimentação.

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