Clone de IA de King Gizzard & the Lizard Wizard surge no Spotify após saída da banda

Marcelo Scherer
4 minutos de leitura
King Gizzard & The Lizard Wizard. Crédito: Alyssa Leicht.

A banda australiana de rock psicodélico King Gizzard & the Lizard Wizard viu uma versão falsa gerada por inteligência artificial de seu trabalho aparecer no Spotify, meses após deixar a plataforma em protesto contra investimentos do CEO Daniel Ek em tecnologia militar de IA. O caso veio à tona por meio de um usuário do Reddit, que relatou a recomendação de um EP com faixas que copiam títulos e elementos das músicas originais da banda.

O perfil “King Lizard Wizard” surgiu no Spotify com cinco faixas, incluindo “Rattlesnake”, que apresenta letras idênticas e composição semelhante à versão real de King Gizzard. A página do artista usava arte de capa gerada por IA, imitando o estilo fantástico dos álbuns da banda, e creditava o vocalista Stu Mackenzie como compositor e letrista em algumas tracks. O EP acumulou mais de 32 mil streams antes de ser removido, e o perfil ficou vazio após a denúncia.

Stu Mackenzie, frontman do King Gizzard, reagiu em declaração ao site The Music. “Estou tentando ver o ironia nessa situação”, disse ele, referindo-se à saída da banda do Spotify em julho. “Mas sério, que porra é essa – estamos realmente condenados.” A banda havia retirado seu catálogo da plataforma em protesto aos investimentos de Ek na Helsing, empresa de IA para drones militares, da qual ele é presidente e investidor principal.

O Spotify confirmou a remoção do conteúdo em nota ao Digital Music News. “O Spotify proíbe estritamente qualquer forma de falsificação de identidade de artista. O conteúdo em questão foi removido por violar as políticas da nossa plataforma e nenhum direito autoral foi pago pelas reproduções geradas.”, afirmou a empresa. Em setembro, o serviço anunciou melhorias em filtros contra spam musical e clones de voz de IA, após remover 75 milhões de tracks suspeitas no ano anterior.

Esse não é o primeiro incidente com clones de King Gizzard desde sua saída. No mês passado, o site Platformer identificou outro perfil falso que inundava a plataforma com versões muzak(música de elevador) das músicas da banda. O conteúdo falso também apareceu no YouTube, onde as faixas permanecem disponíveis, creditando Mackenzie de forma incorreta.

O episódio destaca os desafios crescentes com música gerada por IA na indústria. Casos como o do duo britânico Haven, cuja faixa “I Run” usou vocais manipulados por IA semelhantes à cantora Jorja Smith, levaram a remoções e disputas legais. Gravadoras como Universal e Warner firmaram acordos com ferramentas como Udio e Suno para permitir criações baseadas em catálogos de artistas, com opções de opt-in. Produtor Dave Stewart, dos Eurythmics, vê a IA como uma “força imparável”, mas figuras como Irving Azoff, do Music Artists Coalition, alertam para riscos à compensação e controle criativo dos músicos.

Outras bandas, como Deerhoof e Xiu Xiu, também deixaram o Spotify pelo mesmo motivo, criticando o uso de lucros da plataforma em tecnologias de guerra. O caso reforça debates sobre como plataformas lidam com fraudes e o futuro da música autêntica em meio ao avanço da IA.

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