The Mary Wallopers tornaram público um vídeo que mostra o momento em que o som de seu show foi interrompido no Victorious Festival, em Portsmouth, depois de a banda exibir uma bandeira da Palestina no palco. O grupo irlandês classifica como “enganosa” a versão oficial divulgada pelo evento e pede que a organização retire a nota apresentada à imprensa.
O episódio ocorreu às 17h de 22 de agosto, horário local, quando o trio de folk iniciava uma apresentação de 45 minutos. Às primeiras palavras do vocalista Charles Hendy — “Free Palestine, fuck Israel” — o público reagiu com entusiasmo. Poucos segundos depois, um membro da equipe técnica do festival dirigiu-se a um alto-falante onde a bandeira estava pendurada, retirou o símbolo e conversou rapidamente com a banda.
Segundo mostra a gravação, Hendy falou em voz alta que a performance seria encerrada caso o estandarte permanecesse no palco. Em seguida, iniciou o coro “Free, free Palestine”. Nesse momento, todo o sistema de som foi desligado, e o primeiro tema do repertório, “Bould O’Donoghue”, foi abruptamente interrompido.
Sem áudio, os músicos permaneceram no tablado enquanto a plateia vaiava a organização. O vocalista tentou voltar à frente com outra bandeira, mas o microfone continuou mudo. Minutos depois, ele questionou um técnico ao lado do palco: “Vamos tocar ou não?”. A resposta, audível no vídeo, foi: “Vocês não tocam enquanto a bandeira estiver aí”.
Logo após o incidente, o festival enviou nota ao portal Far Out alegando que a direção havia conversado com os artistas antes do show sobre a “política de longa data” que proíbe o uso de quaisquer bandeiras no evento. De acordo com a versão oficial, a decisão de parar a música teria partido da própria banda, enquanto o corte no sistema só teria ocorrido depois de “um canto amplamente entendido como discriminatório”. A organização enfatizou ainda que não puniu o grupo pelo slogan “Free Palestine”.
No comunicado divulgado nas redes sociais, The Mary Wallopers rebatem ponto a ponto essa narrativa. “Nosso vídeo mostra claramente um funcionário do Victorious vindo ao palco, interferindo na apresentação, removendo a bandeira e, em seguida, o som sendo cortado depois do canto ‘Free Palestine’. O mesmo funcionário é ouvido dizendo que não tocaríamos até retirar o símbolo”, escreveram, solicitando a retratação imediata do festival.
A legenda da publicação faz referência à situação humanitária em Gaza no dia anterior ao show, quando, conforme ressaltam, uma “condição de fome” foi declarada e ao menos 65 pessoas morreram em ataques israelenses. A banda afirma que exibe a bandeira palestina em suas apresentações há seis anos sem ter enfrentado problemas semelhantes.
Desde a divulgação das imagens, a organização do Victorious Festival não se pronunciou novamente. O caso reacende o debate sobre os limites entre políticas internas de eventos, liberdade artística e direito à manifestação política em espaços culturais.
