fbpx

Se o Grammy reconheceu que Beyoncé fez country, por que grandes nomes do gênero não?

Enquanto a Recording Academy expande os limites da música country, Nashville parece presa ao passado. Esse foi o tema central da noite dos Grammys deste ano, quando Beyoncé levou para casa o prêmio de Melhor Álbum Country por Cowboy Carter, seu oitavo álbum de estúdio. A surpresa estampada no rosto da artista ao receber o troféu reflete um cenário complexo: embora o projeto tenha sido amplamente aclamado pela crítica e pelo público, ele foi ignorado por Nashville e excluído de premiações como o CMA Awards.

A matéria original, publicada no Rolling Stone, destaca como a Recording Academy, historicamente vista como uma instituição conservadora, tem feito esforços significativos para promover diversidade e representatividade. Em seu discurso durante a cerimônia, o CEO da Academia, Harvey Mason Jr., destacou que mais de 3.000 mulheres foram adicionadas como membros votantes, e que quase 40% dos eleitores são pessoas de cor. Essas mudanças refletiram diretamente na lista de indicados e vencedores deste ano, que foi marcada pela presença de artistas mulheres, LGBTQIA+ e não brancos.

No entanto, enquanto os Grammys avançam, Nashville parece resistir à evolução. A ausência de Cowboy Carter no CMA Awards reacendeu debates sobre a falta de diversidade no country, um gênero que historicamente tem lutado para abraçar vozes fora do tradicional perfil branco e masculino. Luke Bryan, co-apresentador do CMA e ícone do country, chegou a sugerir que Beyoncé não foi incluída porque não se integrou suficientemente à “família” do country. Uma afirmação que ignora o fato de que a artista já havia performado no CMA Awards em 2016, ao lado das Dixie Chicks, com a música Daddy Lessons — uma experiência que, segundo Beyoncé, a fez sentir-se excluída e a inspirou a mergulhar mais fundo nas raízes do country.


O Reconhecimento dos Grammys e a Evolução da Representatividade

A Recording Academy tem sido alvo de críticas ao longo dos anos por sua falta de diversidade e transparência. Em 2018, o então CEO Neil Portnow foi amplamente criticado por sugerir que as artistas mulheres precisavam “se esforçar mais” para serem reconhecidas. Três anos depois, o cantor The Weeknd anunciou que boicotaria os Grammys, citando falta de transparência nas votações e esforços insuficientes em relação à diversidade.

No entanto, a Academia parece ter ouvido essas críticas. Neste ano, Harvey Mason Jr. destacou as mudanças implementadas, incluindo a adição de milhares de novos membros votantes, com foco em diversidade de gênero, raça e idade. O resultado foi uma cerimônia que celebrou artistas como Beyoncé, SZA, Victoria Monét e outros nomes que representam a pluralidade da música atual.

Essa evolução contrasta fortemente com a postura de Nashville, que ainda parece relutante em abraçar mudanças. Enquanto os Grammys reconheceram Cowboy Carter como um marco no country, o CMA Awards ignorou completamente o álbum, levantando questões sobre quem é considerado “legítimo” no gênero.


A Resistência de Nashville e o Futuro do Country

A exclusão de Beyoncé no CMA Awards não passou despercebida. Artistas como Kelly Clarkson e até a lenda Dolly Parton comentaram sobre o assunto. Parton, em entrevista à Variety, sugeriu que a indústria country pode ter hesitado em reconhecer Beyoncé para não deixar de lado artistas que dedicaram suas carreiras inteiras ao gênero. No entanto, essa justificativa não explica por que Post Malone, com seu álbum F-1 Trillion, recebeu quatro indicações no CMA, enquanto Beyoncé foi ignorada.

A resistência de Nashville em abraçar Cowboy Carter levanta questões importantes sobre o futuro do country. Se uma das artistas mais celebradas do mundo enfrenta barreiras para ser reconhecida no gênero, o que isso significa para artistas negros, LGBTQIA+ ou latinos que tentam encontrar seu espaço no country? A música country, como qualquer gênero, só tem a ganhar quando abraça a diversidade e permite que novas vozes e perspectivas moldem seu futuro.

Ao aceitar o prêmio de Melhor Álbum Country, Beyoncé deixou uma mensagem poderosa: “Às vezes, gênero é uma palavra-código para nos manter em nossos lugares como artistas. Quero encorajar todos a fazerem o que amam e a persistirem.” Um conselho que, sem dúvida, ecoará entre artistas que buscam seu espaço no country e em outros gêneros.

Enquanto os Grammys mostram que é possível evoluir e celebrar a diversidade, Nashville ainda tem um longo caminho a percorrer. Talvez a cidade precise seguir o exemplo de Beyoncé: honrar suas raízes, mas não ficar presa ao passado. Afinal, a música country — e a música como um todo — só tem a ganhar quando abraça todas as vozes que a compõem.

Matéria original: The Grammys Understood Beyoncé Was Country. Why Didn’t Nashville?

Autor

  • Julio Mauro

    Júlio César Mauro é um nerd de carteirinha e pai de duas meninas, com um jeito peculiar, às vezes um pouco ranzinza, e sempre lidando com o desafio de viver com TDAH.

    Ver todos os posts

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *