O tiro que marcou o pé de Supla na Nova York do underground punk

Marcelo Scherer
5 minutos de leitura
Supla. Crédito: Achismos TV.

A vida de Supla sempre foi marcada pela autenticidade e pelo espírito punk, mas uma história em particular, vivenciada nos anos 90 no underground de Nova York, destaca-se pela sua violência e surrealismo: o momento em que o “Charada Brasileiro” foi atingido no pé por um tiro disparado por seu próprio guitarrista.

O incidente, ocorrido durante a fase de Supla na banda Psycle 69, é um capítulo que o músico guarda em seu livro “Crônicas e Fotos do Charada Brasileiro” e que recentemente contou no canal AchismosTV do comediante Maurício Meirelles.

Entre 1994 e 1999, Supla viveu em Nova York, buscando provar seu talento em um lugar onde ninguém sabia de sua família ou origem. Ele mergulhou na cena, tocando no underground em locais como o Continental, que era um berço punk da época.

Foi nesse contexto que ele se juntou à banda que, após uma mudança, se chamaria Psycle 69 (anteriormente Mad Parade). O guitarrista da banda era Steag, um nome que, segundo Supla, já sugeria a loucura do personagem. Steag também tocava em um grupo chamado School of Violence (Escola da Violência).

Na entrevista, Supla descreve Steag como uma figura fucking crazy (muito louca) e reconhece que aprendeu muito com ele, inclusive sobre estilo e ser honesto. Steag tinha fortes conexões com o cenário outlaw, sendo que sua esposa era uma espécie de estilista punk que fazia roupas de couro para membros dos Hells Angels, Cher e até mesmo Guns N’ Roses. Supla conheceu a banda em uma festa de Hells Angels, onde o som dos Marshalls de Steag parecia o ronco de uma motocicleta Harley Davidson.

A tensão que levou ao disparo começou na véspera de um show. Steag e um amigo, membro dos Hells Angels, se envolveram em uma briga e “arrebentaram uns filipinos” na porta da casa de Steag.

Após um show, Supla, Steag e um amigo dos Hells Angels estavam descarregando o equipamento na casa do guitarrista. A casa ficava em uma rua movimentada (Street), no Lower East Side. Foi nesse momento que os filipinos agredidos voltaram em busca de vingança. Supla relatou: “Eu começo a ver um filipino aqui, um outro aqui. Eu falei: ‘Ih, os será que é os cara de novo?'”.

Enquanto os agressores gritavam “Eu quero pegar o Moican, eu quero o Steag”, que já estava no primeiro andar, saiu armado com uma carabina. Supla, “o imbecil aqui, saiu da van para ver a confusão”.

Steag, então, armou a carabina e “deu um tiro no chão”. Supla foi atingido pelos estilhaços e pelo ricochete da bala. O músico, chocado, gritou: “Fucking you just fucking shot me, man. Você acabou de me dar um tiro?“.

Felizmente, Supla estava usando uma bota de cano mais forte do que a que usava na entrevista, o que pode ter minimizado o ferimento. A polícia chegou rapidamente, e o caos resultou em Steag e os filipinos sendo algemados. Supla, ferido, saiu andando pela rua, voltando para a casa de seu tio, que estava hospedando-o. O tio, incrédulo, questionou: “Não é possível, eu tô sonhando. Você chegou em NY e já tomou um tiro, cara”.

Supla mantém a comunicação com Steag, que atualmente vive na Califórnia, e que, segundo o músico, ainda está “dando tiro”.

Para Supla, essa experiência, assim como todas as outras vivências em sua carreira de 40 anos, reforça a ideia de que “Nada foi em vão”, que é o título de seu álbum mais recente.

Assista abaixo a entrevista de Supla no Achismos TV de Maurício Meirelles

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