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Regravações de clássicos do Sepultura levantam debate sobre valor artístico e propósito histórico

As regravações recentes dos álbuns “Bestial Devastation” e “Morbid Visions” pelos irmãos Max e Igor Cavalera reacenderam discussões sobre o propósito de revisitar obras marcantes do metal brasileiro. Reconhecidos como pilares do gênero, os irmãos buscaram trazer nova vida aos primeiros registros do Sepultura, lançados originalmente nos anos 1980. No entanto, a iniciativa gerou reações divergentes, especialmente entre antigos colegas de banda e críticos do cenário musical.

O projeto das regravações

Em 2023, Max e Igor Cavalera anunciaram a decisão de regravar “Bestial Devastation” (1985) e “Morbid Visions” (1986), justificando o projeto como uma forma de apresentar esses trabalhos a novas gerações. As versões originais, gravadas com recursos limitados e uma produção rudimentar, foram revisitadas com tecnologia moderna, resultando em sonoridades mais limpas e estruturadas.

Max Cavalera afirmou, em entrevistas, que o objetivo era resgatar a essência crua e agressiva das músicas, ao mesmo tempo em que honrava suas raízes. “Esses álbuns têm uma energia única. Queríamos dar a eles uma abordagem contemporânea sem perder a alma das versões originais”, explicou o músico.

Apesar da justificativa, o projeto dividiu opiniões. Enquanto fãs demonstraram entusiasmo em ouvir versões atualizadas dos clássicos, outros questionaram o propósito artístico e histórico da empreitada.

Críticas de Andreas Kisser

Uma das vozes mais críticas às regravações veio de Andreas Kisser, guitarrista que se juntou ao Sepultura em 1987 e foi fundamental na consolidação do som da banda. Em entrevista recente, Kisser não poupou palavras ao comentar o projeto dos irmãos Cavalera.

“Eu acho muito fraco artisticamente”, declarou o músico em entrevista para o canal Splash no Youtube. Para ele, revisitar materiais do passado com um som diferente não acrescenta valor à história do Sepultura. “É como se estivessem revisitando algo que não precisa ser revisitado, sabe? A gente fez isso 30, 40 anos atrás. O valor artístico disso é zero”, criticou.

Kisser também questionou a motivação por trás das regravações, insinuando que a iniciativa poderia ser mais comercial do que artística. “É triste. Acho que eles fazem um desserviço ao próprio passado”, concluiu.

O contexto histórico das obras

“Bestial Devastation” e “Morbid Visions” marcaram o início da trajetória do Sepultura no cenário do metal extremo. Gravados em Belo Horizonte, ambos os álbuns capturaram a essência de uma banda jovem e faminta por reconhecimento.

Embora as produções originais tenham sido consideradas precárias, os discos abriram caminho para o Sepultura alcançar projeção internacional. “Morbid Visions”, em especial, trouxe “Troops of Doom”, uma das músicas mais emblemáticas da fase inicial do grupo.

O impacto desses trabalhos foi suficiente para atrair a atenção de gravadoras estrangeiras, culminando no contrato com a Roadrunner Records e no lançamento de “Schizophrenia” (1987), considerado um divisor de águas na carreira da banda.

Regravações e o debate sobre autenticidade

Regravações de álbuns clássicos não são novidade na indústria musical, mas sempre levantam questões sobre autenticidade e relevância. No caso dos Cavalera, a decisão trouxe à tona debates sobre como artistas devem lidar com o próprio legado.

Para alguns críticos, regravar materiais do passado pode diluir a autenticidade das obras originais. “As músicas carregam o contexto de uma época, e regravá-las pode tirar essa característica histórica”, afirmou um analista musical em artigo para uma revista especializada.

Por outro lado, há quem veja as regravações como uma forma válida de revisitar o passado. “Esses álbuns fizeram parte da formação do metal brasileiro. Atualizá-los pode ajudar a conectar novas gerações à história da banda”, opinou um fã em uma discussão online.

A relação conturbada entre os membros

As críticas de Andreas Kisser também refletem o histórico de tensões entre os antigos e os atuais integrantes do Sepultura. Desde a saída de Max Cavalera, em 1996, a relação entre as partes nunca foi completamente harmoniosa.

A separação gerou uma rivalidade que se estende até hoje, com ambas as partes seguindo caminhos distintos. Enquanto Kisser e os demais integrantes mantêm o Sepultura em atividade, Max e Igor têm se dedicado a projetos como Soulfly e Cavalera Conspiracy.

Essa dinâmica complexa contribui para que projetos como as regravações sejam vistos sob uma lente de competitividade, intensificando as discussões entre fãs e críticos.

As regravações de “Bestial Devastation” e “Morbid Visions” colocam em evidência o desafio de revisitar obras clássicas sem comprometer sua relevância histórica. Embora a iniciativa dos irmãos Cavalera tenha gerado entusiasmo em parte do público, também provocou críticas que destacam a dificuldade de equilibrar autenticidade e modernidade.

No centro dessa discussão, o legado do Sepultura permanece como uma das histórias mais complexas e fascinantes do metal mundial. A tensão entre o passado e o presente da banda continua a alimentar debates sobre o que significa preservar ou reinterpretar a história musical.

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