Lalo Schifrin e três trilhas que marcaram sua trajetória no cinema

Luis Fernando Brod
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Lalo Schifrin. Foto: Reprodução.

Lalo Schifrin faleceu na quinta-feira, 26 de junho de 2025, aos 91 anos, nos Estados Unidos, onde viveu desde os anos 1960. Nascido em Buenos Aires, o pianista e compositor argentino construiu uma carreira sólida em Hollywood, com mais de cem trilhas no currículo.

Além de premiado arranjador de jazz, Schifrin ficou conhecido por sua capacidade de integrar linguagens distintas em partituras para o cinema. Entre o jazz moderno, a música clássica e o suspense cinematográfico, ele criou temas que seguem amplamente reconhecíveis até hoje. Schifrin estudou música clássica em Paris e iniciou sua carreira no jazz ao lado de Astor Piazzolla e Dizzy Gillespie. Com o trompetista americano, excursionou pela Europa e América Latina, atuando como pianista, arranjador e compositor.

Nos anos 1960, estabeleceu-se nos Estados Unidos, onde começou a compor para séries de televisão e filmes de suspense. Foi nesse ambiente que desenvolveu seu estilo característico, combinando instrumentação clássica com estruturas rítmicas do jazz.

“Missão: Impossível” (1966)

A música-tema da série “Missão: Impossível”, exibida entre 1966 e 1973, tornou-se a composição mais conhecida de Schifrin. Com estrutura baseada em compassos irregulares e arranjo pulsante, o tema traduz tensão e movimento com sofisticação rítmica.

A peça foi reutilizada nas adaptações para o cinema iniciadas em 1996, estreladas por Tom Cruise. Mesmo sem prêmios, o tema consolidou sua assinatura musical e virou uma referência na cultura pop.

“O horror de Amityville” (1979)

No final dos anos 1970, Schifrin foi convidado a compor a trilha para “O horror de Amityville”, de Stuart Rosenberg. O filme, baseado no livro de Jay Anson, demandava uma ambientação sonora que combinasse cotidiano e sobrenatural.

O tema principal é construído sobre um piano infantil e melódico, que se desdobra em acordes dissonantes e ameaçadores. A trilha foi indicada ao Oscar e segue lembrada como uma das mais eficazes do gênero terror psicológico.

“Bullitt” (1968)

Estrelado por Steve McQueen e dirigido por Peter Yates, “Bullitt” foi um drama policial que redefiniu o gênero nas telas. A trilha sonora de Schifrin buscou refletir o ambiente urbano e a tensão silenciosa que perpassa toda a narrativa.

Utilizando elementos do jazz moderno, com sopros, piano e bateria com vassourinhas, o compositor criou uma atmosfera seca e contida. Essa abordagem musical ajudou a sustentar o estilo quase documental da direção e valorizou o ritmo lento de perseguições e diálogos.

A carreira de Schifrin não se restringiu ao cinema, com trabalhos em televisão, concertos e gravações com grandes nomes do jazz. Colaborou com Quincy Jones, tocou com Ella Fitzgerald e participou de festivais ao redor do mundo até meados da década de 2010.

Em entrevista ao jornal Perfil, da Argentina, ele afirmou que “compor para o cinema é encontrar o ponto exato entre imagem e som”. Essa escuta atenta ao que o filme pede orientou toda sua produção e o manteve em atividade até os últimos anos de vida.

Apesar da diversidade de estilos e formatos, Schifrin manteve uma identidade sonora reconhecível, centrada no piano e nos metais. Mesmo em trilhas menos conhecidas, como “Dirty Harry” e “Enter the Dragon”, há marcas evidentes de sua abordagem harmônica e rítmica.

A morte de Lalo Schifrin encerra uma trajetória longa e discreta, porém cheia de trabalhos que seguem vivos na memória auditiva do público. Suas composições seguem disponíveis em relançamentos físicos e digitais, servindo como ponte entre o jazz e o audiovisual.

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