Em conversa no com Caio Augusttus no Canal Scena, ele apresentou um retrato mais realista do mercado, explicando suas estruturas, dificuldades e nuances culturais. Suas análises mostram que o sonho de viver apenas da música pode se tornar uma frustração para quem não compreende as particularidades desse universo.
Uma das diferenças salientadas por ele entre os dois mercados está no acesso a equipamentos. No Brasil, um amplificador Peavey 6505 pode chegar a R$ 15 mil, valor equivalente a um bom salário em áreas como TI. Já nos Estados Unidos, o mesmo modelo usado sai por 200 ou 300 dólares, algo facilmente acessível para quem trabalha em setores como tecnologia ou audiovisual. Essa disparidade faz com que até bandas pequenas consigam montar um backline completo, investir em sistemas de in-ear e até em vans próprias para turnês. Mas essa autonomia não é só um privilégio: é também uma exigência. Diferente do Brasil, muitas casas de show americanas oferecem apenas o básico, palco e PA, e todo o resto fica por conta da banda.
Mesmo com a imensa oferta de shows nos Estados Unidos — onde é possível encontrar apresentações praticamente todos os dias, a ideia de viver apenas da música no underground está longe da realidade.
Segundo Estevam, assim como no Brasil, os músicos desse circuito precisam manter empregos fixos para se sustentar. “Nunca tem ninguém dessas bandas pequenas que só vive da banda porque é impossível. Tem muito esse mito aqui ainda, mas não tem. É igual: todo mundo trabalha”, afirma.
O pouco dinheiro que as bandas conseguem arrecadar costuma ser reinvestido em gravações, equipamentos e logística de turnês, o que torna o crescimento um processo lento e desgastante. “Muita banda que pensa em evolução e passa anos e anos em tour sem tirar nenhum centavo para si mesma, porque todo o dinheiro que a banda faz fica pra banda”, completa.
O mercado musical dos Estados Unidos representa um desafio particular para muitas bandas brasileiras devido ao seu caráter fechado e bairrista. Há uma clara preferência por grupos locais, e bandas estrangeiras são muitas vezes percebidas apenas como uma atração passageira ou curiosidade, conforme explica Estevam. Para superar essa barreira, ele sugere que bandas brasileiras busquem o apoio de artistas americanos já estabelecidos. A estratégia é ser “apadrinhada” de alguma forma, como fazer uma turnê de abertura com uma banda relevante que possa, efetivamente, apresentar o grupo latino ao público americano.
O alto nível técnico é um grande desafio no underground americano. A educação musical nos Estados Unidos, que começa já no ensino médio, é fundamental para isso. Muitos músicos desenvolvem um domínio técnico impressionante ainda na escola. “Quando uma banda estrangeira chega lá, tem que ser muito boa tecnicamente porque os caras sabem o que estão assistindo”, explica Estevam. Ele ressalta que a formação musical é mais acessível e incentivada desde cedo. O nível técnico das bandas é alto porque, ao entrar no ensino médio (high school), o aluno escolhe um instrumento e o estuda pelos quatro anos, saindo da escola já com um bom domínio.
Estevam aconselha as bandas brasileiras que miram o mercado americano a terem expectativas realistas. Ele enfatiza que o sucesso só vale o esforço para quem está disposto a viver na estrada e se dedicar integralmente à música.
Para entrar nesse mercado, é crucial um envolvimento cultural, planejamento cuidadoso e, muitas vezes, apresentar um diferencial técnico ou conceitual. A conclusão de Estevam é direta: “É mais fácil você entrar como músico contratado em uma banda que já está estabelecida do que tentar emplacar a sua própria banda no mercado.”
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