30 anos de “Usuário” do Planet Hemp | RD #77

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Marcelo Scherer
6 minutos de leitura

O episódio 077 do podcast Redação DISCONECTA trouxe à tona uma discussão essencial e nostálgica: os 30 anos do álbum Usuário, da banda Planet Hemp. Para este bate-papo descontraído, Marcelo Scherer e Luis Fernando Brod receberam Pedro De Luna, o biógrafo responsável pelo livro Mantenha o Respeito.

De Luna, Scherer e Brod concordaram que Usuário é um dos discos mais simbólicos para o rock de forma geral. Lançado em 1995 (embora as gravações tenham começado no final de 1994), este trabalho revolucionou uma geração inteira. Sua principal característica é a fusão inusitada de ritmos, que incluía rock and roll, psicodelia, hardcore, raga e o novo hip hop, refletindo a composição da banda: uma dupla de rap (D2 e Skunk) unida a três instrumentistas roqueiros.

O disco que abriu a cabeça

Usuário foi marcante não apenas pela sua sonoridade misturada, mas por ser um disco inteiro que falava abertamente de maconha, algo que outros artistas faziam de forma velada. O disco também foi um marco por sua natureza altamente politizada.

O biógrafo destacou que o álbum trazia críticas severas à polícia — como na música “Porcos Fardados” — e abordava a alienação da população. As letras miravam diretamente na ferida de uma democracia muito recente, denunciando que “políticos bebem e cheiram e não vão para a prisão”, antecipando escândalos que só vazariam anos depois.

De Luna ressaltou a analogia simbólica entre o primeiro álbum e os trabalhos mais recentes da banda: Usuário tinha a música “Não Compre, Plante,” que parecia utópica em 1994, e hoje, 30 anos depois, o Planet Hemp lança o disco Jardineiros, mostrando como essa ideia avançou com a tecnologia e o tempo.

Percalços, censura e a memória de Skunk

A trajetória de Usuário foi repleta de dificuldades. O disco quase não foi lançado devido à morte precoce de Skunk, um dos fundadores da banda, que faleceu de AIDS. A banda só prosseguiu a pedido da madrasta de Luís (Skunk).

O álbum demorou um ano para virar Disco de Ouro (atingido em dezembro de 1996) e enfrentou a censura do seu primeiro clipe. A perseguição policial era constante, o que atrapalhou muito a carreira do grupo, com diversos shows sendo cancelados de última hora para causar prejuízo financeiro ao contratante e à própria banda. Scherer e Brod relembraram que esse preconceito se estendia ao visual dos integrantes, que na época era considerado agressivo, e à discriminação racial, citando o relato de Benegão sobre a dificuldade de conseguir táxis.

Pedro De Luna fez questão de detalhar o papel de Skunk (com ‘u’), a quem a música homônima é dedicada. Skunk era o “DNA” do Planet Hemp, um visionário que havia sido punk e rockabilly antes de descobrir o hip hop. Ele era o “Napster da galera”, vendendo e compartilhando fitas cassetes com programações. Skunk conseguia sacar o que era tendência apenas folheando revistas gringas caríssimas, mesmo sem saber inglês. Ele foi o responsável por convencer D2 da importância de falar sobre maconha, percebendo a repercussão positiva do tema com o público.

O trabalho de Pedro De Luna e o relançamento

O biógrafo aproveitou o espaço para falar sobre seu livro, Mantenha o Respeito, uma obra de 496 páginas que documenta a história da banda. Para a pesquisa, ele utilizou uma abordagem jornalística, buscando uma amostragem bem diversa de fontes. Além dos integrantes e ex-integrantes, ele entrevistou produtores, fotógrafos, e membros de fã-clubes, que guardavam memórias e memorabilia importantes.

Pedro De Luna explicou que evita tirar conclusões, preferindo apresentar o ponto de vista de diferentes personagens (como Marcelo D2, empresários ou colegas) para que o leitor forme a sua própria opinião. Ele também revelou que, recentemente, auxiliou a banda a criar o cenário do novo show, a turnê “A Última Ponta”, cedendo imagens e materiais que ele guardou durante a pesquisa, já que o Planet Hemp é desorganizado com o próprio acervo.

Atualmente, o livro está em financiamento coletivo (crowdfunding) na plataforma Kicante para o lançamento de sua segunda edição. A nova edição terá atualizações e uma capa diferente. De Luna anunciou em primeira mão que todos os apoiadores que adquirirem o livro antecipadamente terão seus nomes incluídos na seção de agradecimentos.

Em retrospecto, o podcast concluiu que o Planet Hemp, juntamente com o Rapa, levantava a bandeira da crítica social, mas o Planet o fazia de forma mais “escancarada”. De Luna encerrou o papo citando Rita Lee, que definiu a essência da banda: “Só de existir, o Planet Hemp já era uma afronta”.

Ouça abaixo “Usuário” do Planet Hemp

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