George Harrison: os 55 anos de “All Things Must Pass”

5 minutos de leitura
Imagem da capa de "All Things Must Pass" de George Harrison

Em 1969, George Harrison já havia lançado 2 álbuns solo: Wonderwall Music, de 1968, e Electronic Sound, daquele mesmo ano. Porém, ambos são bastante experimentais, mais voltados ao Avant-Garde, o que o levou a desejar por algo mais próximo ao que fazia com os Beatles.

A 1ª vez que manifestou tal ideia foi durante as sessões de Get Back (que viria a se tornar Let It Be), em janeiro de 1969, antes mesmo do citado Electronic Sound sair. Chegou até a falar para John Lennon que tinha composições em seu acervo o suficiente para 10 anos de contribuições suas com o grupo, dentro daquele padrão de 2 faixas por álbum + B-Side de algum dos singles.

Naquelas semanas, chegou a registrar uma demo para a faixa All Things Must Pass, que foi resgatada na compilação Anthology 3, de 1996. Porém, foi rejeitada por Paul McCartney e John Lennon, assim como outras 2 que tocou para eles, Let It Down e Hear Me Lord. Apesar disso, gostaram de outra composição, Something, que veio a entrar em Abbey Road mais tarde naquele ano junto a Here Comes The Sun, também assinada por ele.

Embora já falasse sobre um álbum publicamente, só se comprometeu com a ideia quando Paul McCartney anunciou que sairia da banda. Não bastando a saída de John Lennon meses antes, o anúncio de McCartney, da forma como foi feito, dava a entender que aquele era o fim do grupo.

George, então, preferiu não perder tempo e logo já apresentou seu acervo ao produtor Phil Spector, que foi quem finalizou a produção de Let It Be. E realmente era um acervo: havia ali composições desde 1966, como Isn’t It A Pity e The Art of Dying, indo até as então mais recentes, como Wah-Wah (uma cutucada em Paul McCartney pelas críticas e rejeições a suas músicas) e My Sweet Lord, além das já citadas anteriormente.

Ainda que tivesse material mais que suficiente, George ainda compôs e gravou mais faixas. Muitas delas foram aproveitadas só anos depois e até por outros artistas. Mas ele estava com sua criatividade aguçada, e tanto é que chegou a gravar uma jam em estúdio, a qual acabou se transformando no material que comporia o disco 3 de seu futuro trabalho.

As gravações, aliás, tiveram início em maio de 1970. Elas duraram cerca de 8 semanas, mas a produção se arrastou até outubro. Muito disso se deve a problemas que teve na época, com George Harrison constantemente se ausentando para visitar e cuidar da mãe, diagnosticada com um câncer. Além disso, havia o comportamento bastante errático de Phil Spector, que também servia de produtor aqui, o que só prejudicou o progresso dos trabalhos.

E muita gente talentosa se envolveu: Eric Clapton e o que viria a ser o Derek And The Dominos (com Jim Gordon, Carl Radle e Bobby Whitlock), Ringo Starr, Billy Preston, Alan White, a banda Badfinger, Ginger Baker… Ainda há alguns que não foram creditados, como o guitarrista Peter Frampton, ou mesmo Phil Collins, que teve seu registro apagado. Fora lendas de John Lennon e Yoko Ono (que vieram a ser creditados com palmas posteriormente) ou Richard Wright também gravando algo.

Lançado há 55 anos, em 27 de novembro de 1970, All Things Must Pass foi um sucesso instantâneo, sendo aclamado por crítica e público, e estreando em 1º na Europa e EUA, algo que foi amplificado pelo single My Sweet Lord 3 dias antes na terra do Tio Sam, com Isn’t It A Pity como seu B-Side. Ambas foram lançadas de forma separada no Reino Unido posteriormente.

Mas a real estreia solo do “Beatle quieto” tem muito mais a oferecer: são 3 discos recheados de material, afinal. E as músicas trazem substância, instrumentais e letras do mais alto nível. What Is Life, Apple Scruffs (uma homenagem fãs dos Beatles que ficavam esperando-os fora da gravadora), I’d Have You Anytime… Fora todas as outras citadas anteriormente. Parece não haver defeitos no registro.

O único problema de All Things Must Pass é que seu patamar é tão alto que George Harrison, por mais que tenha feito outros ótimos álbuns, nunca mais chegou perto dele. Ao menos nos presenteou com essa obra-de-arte ímpar, pela qual só dá para agradecer.

Compartilhar esse artigo
Nenhum comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *