Ah, a era Reagan.
Você não precisava de exatamente morrer para adentrar ao inferno na década de oitenta, muito pelo contrário: a administração do presidente norte americano entre 1980-1989 causou danos a longo prazo em escala mundial a ponto de nos oferecerem a contra gosto uma experiência sem escalas do que de fato era o Sul do Céu. Diversos programas sociais foram cortados nos EUA para alimentar uma sede de poder e cobiça vindas do próprio político e do Partido Republicano, que iam desde diminuições das taxas de grandes empresas e o desmonte de sindicatos, para que assim, pudessem facilitar a vida de bilionários, botarem minorias e seus respectivos coletivos em uma coleira novamente, até simplesmente a motivação para crescimento econômico através de uma corrida armamentista prejudicial ao redor do globo.
Fossem baixas em países de terceiro mundo ou nas ruas, o esporte era a guerra. Porém, nesses tempos incertos, surgiu um movimento na Baía de São Francisco que definiu o futuro do metal extremo Norte Americano, o então infame Thrash Metal. Porém, apenas uma daquelas bandas se destacou a ponto de irritar diversas entidades, desde a mídia, políticos conservadores e até mesmo os pais. É claro que, caso não tenha vivido dentro de uma caverna nos últimos 45 anos, sabe bem que a imagética satanista no Slayer era apenas um pano de fundo para letras que expressavam a ideia de viver em marginalidade e com a sensação diária de estar diante de uma Glock pressionada com força em sua testa, e que convenhamos, tal nos dias atuais ainda é uma realidade gritante.
Em Seasons In The Abyss, lançamento que completou 35 anos no dia 9 de Outubro, somos convidados contemplar a visão infernal dos resquícios da Era Reagan.

TEMPORADAS NO ABISMO: Em 1990, uma revolução iria acontecer no gênero Thrash Metal, uma vez que agora se tinham as bandas de NWOBHM e Glam Metal fora do caminho, e um competidor à altura proveniente do cenário da Flórida, o Death Metal, que entraria na briga para conquistar o público do metal extremo. Foi o ano que, diante esse cenário, nos ofereceu clássicos do gênero como Persistence Of Time (Anthrax), Souls Of Black (Testament), Twisted Into Form (Forbidden) o explosivo Rust In Peace (Megadeth), além de Coma Of Souls do continente vizinho, a alemã Kreator. Para o Slayer, estar no topo da cadeia alimentar quando se tratava de rivalidade no meio estava longe de ser uma irrealidade, pois afinal, foi a banda que mais tomou riscos tanto no meio como na indústria musical.
Após a entrada da banda na Def Jam American, que aceitou o conteúdo audiovisual depravado dessa em seu catálogo, seguiram dois álbuns de sucesso comercial dentre os anos de 1986 até 1988, Reign In Blood e South Of Heaven, que por mais que esse último tenha agradado desde críticos e os elevado a um novo patamar, ainda assim, torceu o nariz de muitos fãs devido seus riffs mais cadenciados e uma produção um tanto aquém se comparada com o explosivo e veloz trabalho anterior. Em 90, Rick Rubin novamente assume a produção em Seasons In The Abyss, que trouxe o melhor dos dois mundos: o caos atmosférico do anterior juntamente da velocidade e intensa agressividade dos lançamentos entre 1983 e 1986.
Introdução pra quê? Se quer calmaria antes da tempestade, talvez esse álbum não seja para você, ainda mais que War Ensemble já abre o álbum sem pedir licença nenhuma pro ouvinte. O Blitzkrieg vem com força nessa faixa, seja com a continua palhetada alternada nas guitarras de Jeff Hanneman e Kerry King até a bateria de Dave Lombardo que já a abre em um continuo mar violento de Blast Beats. Violência essa que faz jus a letra: no início dessa resenha mencionei os reflexos da política dos Estados Unidos na década de oitenta e a campanha armamentista ovacionada. Esses são detalhados pela realidade expressa no conteúdo lírico, que sob tal entendimento, a trincheira não fica apenas sob visão de um exército, mas também sob milicias e gangues nas ruas, além da ótica de uma polícia despreparada.
Tom Araya cospe ódio em seus vocais, “Propaganda, death ensemble, burial to be / Corpses rotting through the night in blood laced misery“, o povo americano foi incentivado a celebrar a guerra em prol de discursos insanos de uma suposta ameaça comunista ou qualquer outra externa, o suporte á guerra por parte de um povo cego e a mídia é declarada no estrondoso refrão: “Sport the war, war support / The sport is war, total war / When victory’s really massacre, the final swing is not a drill, it’s how many people I can kill”. É insano até de se pensar, que a Guerra do Golfo daria início á uma nova era de terror no ano seguinte desse lançamento, assim como em mais um após esse, Los Angeles seria palco de um grande e sangrento protesto racial em 1992, que traria uma baixa absurda de 63 mortos, 2.383 feridos e a prisão de mais 12 mil pessoas marginalizadas. Era o prenúncio da guerra.
A realidade da guerra continua a nos ser mostrada em Blood Red, dessa vez sob um ritmo desacelerado, lembrando o estilo de composição de South Of Heaven, é claro, sem perder o peso e a intensidade que casa bem com o resto da lista de faixas. Spirit In Black acelera de novo o ritmo, voltando com uma temática dos velhos tempos sobre o inferno, porém, sob uma ótica bem menos exotérica, nos sugerindo que o verdadeiro inferno é o nosso próprio vazio diante uma sociedade que controla as nossas vidas até o nosso último suspiro: “Living nightmare can’t you see / You really have no choice, faded memories haunt you / Listen clearly to my voice, feed me all your hatred / Empty all your thoughts to me, I can fill your emptiness with immortality” A subversividade pode ser vista como uma filosofia de liberdade, uma saída para os dogmas e o futuro conhecimento de si que irá preencher esse mesmo vazio, e nesse trecho, fica o convite pós validação que lhe é deixado.

Novamente sob o olhar das trincheiras: a nossa juventude luta as batalhas não resolvidas dos mais velhos, desde as guerras em que são levados para terem suas vidas exterminadas sob mandos ideológicos, até mesmo por exercerem as expectativas mal resolvidas desses ao adentrar um mercado de trabalho que mais se demonstra como uma máquina de moer gente do que uma garantia de emancipação. “Expendable youths, fighting for possession / Having control the principle obsession / Rivalry and retribution / Death the only solution”, o refrão de de Expandable Youth é o reflexo da juventude perdida sob uma engrenagem Rockefelerista, e essa não é muito diferente nos dias de hoje.
Desde o medo de se viver sob a constante ameaça da não garantia de segurança e estabilidade até mesmo de não poderem se expressar pelo medo de serem cancelados sob visões destrutivas de um capitalismo verde, as letras dessa música não diferem tanto da realidade que é mostrada em Disposable Heroes, sexta faixa do álbum Master Of Puppets dos Metallica ; “Back to the front/ You will do what I say, when I say / Back to the front / You will die when I say, you must die /Back to the front / You coward, You servant, You blind man”. O Thrash Metal sempre foi um gênero expressivamente voltado a realidade das ruas, a guerra, como mencionada essa, nem sempre estão sob confronto de grandes exércitos, mas sob um sistema que nos colocam uns contra os outros.
Ed Gein talvez seja um dos serial killers mais notórios da história americana, tendo inspirado principalmente a criação do personagem Leatherface, até anteriormente Norman Bates. Dentre suas atrocidades, Gein guardava crânios de suas vítimas como itens de decoração, utilizava de suas peles como o artesanato de utensílios e vestimentas, como bolsas e cintos, além de, é claro, usar dessas para criação de máscaras, o que dá o título a música Dead Skin Mask. Não seria a primeira vez que abordariam sobre atrocidades de serial killers, afinal, a primeira e mais notória vez foi com Angel Of Death, sobre Josef Mengele, que lhes gerou uma boa polêmica durante a promoção do álbum Reign In Blood, e mais tarde, outra seria a 213, cujo título representava a numeração do apartamento do depravado sexual Jeffrey Dahmer, do álbum Divine Intervention, de 1994.

Se existe algo mais que pode ser prestigiado nesse álbum, é como os refrões são memoráveis, especialmente nas faixas mais cadenciadas, o que é o caso dessa citada ; “Dance with the dead in my dreams / Listen to their hallowed screams / The dead have taken my soul / Temptation’s lost all control”, porém, é na faixa de voz gravada pelo amigo de Tom Araya, Matt Polish, que foi convidado para as sessões de gravação da música, que as coisas ficam interessantes. De forma caricata, ele interpreta o a infância perdida em Gein no meio de sua loucura psicótica no fundo enquanto o mesmo refrão é repetido no final ; “Hello Hello Mr Gein? / Mr Gein? / Let me out here Mr Gein / Mr Gein? I don’t wanna play anymore, Mr Gein / It’s not fun anymore / Let me out, LET ME OUT!”, uma forma de expressão a fuga por parte desse de sua própria mente.
Um outro memorável momento durante a audição está no erro de gravação contida em Temptation, na qual durante a gravação dos vocais, Tom acaba errando no tempo e King acaba sugerindo a regravação. No dia seguinte, Rubin aparece com a faixa repetindo tanto a primeira como a segunda tentativa de gravação desses vocais, criando um efeito fade in / fade out de repetição inusitado que coube bem a loucura obsessiva no conteúdo lírico. É uma faixa que acaba sendo de forma injusta vista como filler por alguns, mas ela encaixa perfeitamente no contexto e temática desesperadora do álbum. Essa que nos leva sob a tentação de vender a própria alma para uma torrente de consumo e mentiras que alimentam através de bonitas palavras um sistema que brinca com a nossa própria sanidade, dia após dia.
Hallowed Point não difere muito das outras em seu objetivo, o ciclo de violência é mais uma vez refletido na desumanização em que essa pode causar. Um eterno passeio de insatisfação, assim como na faixa anterior pode causar através da vingança, ou de uma forma mais implícita, aos efeitos que justiça feita com as próprias mãos pode lhe trazer: um eterno vazio, a busca infinita pela solução através de um sentimento a curto prazo que não cura nenhuma dor e que piora a longo prazo, te destruindo de dentro para fora, o que talvez principalmente, se assemelhe a realidade de um dos anti-heróis mais prestigiados de forma errônea pela mídia e os fãs, Frank Castle, mais conhecido como O Justiceiro
Skeletons Of Society é a representação de um cenário distópico, não tão distante de qualquer entropia das coisas que já conhecemos muito bem: “Minutes seem like days, since fire ruled the sky /The rich became the beggars, and the fools became the wise / Memories linger in my brain of burning from the acid rain / A pain I never have won” ; nada diferente das ilusões da realidade em que vivemos? Vitórias simbólicas com um futuro que mais se assemelha a uma armadilha sob o manto de falsos sorrisos, frases de efeito e idealismo juvenil inconsequente. Em Born Of Fire somos postos a contemplar o surgimento de Satã no meio do caos, o nascido do fogo sob a estética exotérica que aos poucos ia se desfragmentando no conteúdo lírico dos álbuns, conforme os membros iam envelhecendo.
Se após toda essa viagem na audição desse petardo você ainda não enlouqueceu de forma imersiva, ora não estava prestando atenção, ora talvez ainda não tenha se deparado com o grand finale que marca a faixa título desse monstro que aqui é dissecado: de forma atmosférica, Seasons In The Abyss termina o álbum da forma que começou, sob o olhar em terceira visão de sua própria desintegração. Quem és tu diante esse inferno em que é acorrentado? Qual papel a sociedade lhe exerceu? Você se encontra em um abismo profundo cujo o único caminho é o enlouquecimento. São 42 minutos de uma viagem ao inferno, você não precisa carbonizar sob um suposto castigo divino, a sociedade já lhe faz questão de te desintegrar por inteiro, e isso é representado na loucura imparável e frenética extrema na qual o Slayer sempre ofereceu ao seu público.
SPORT THE WAR, WAR SUPPORT: Para suporte ao álbum, o lendário manager do meio, Ron Laffitte teve a ideia inusitada de colocar as bandas mais emblemáticas do cenário Thrash Norte Americano juntas em um só lugar: a Clash Of The Titans Tour é vista como uma das mais bem sucedidas no metal, e vista com maior carinho e prestígio pela comunidade headbanger até os dias de hoje. Tendo a primeira fase da turnê com as seguintes bandas no line-up: Megadeth, Slayer, Testament e Suicidal Tendencies, todas estavam divulgando seus novos trabalhos, inclusive a última com o Lights… Camera… Revolution!, álbum de maior prestígio dos cycos.
Na segunda parte que seguiu para o ano seguinte, essa seria diferente, os Slayer iriam colaborar novamente com os Megadeth, porém, com o Anthrax substituindo os Exodus, que precisaram cancelar a participação por questões financeiras e a substituição inusitada de última hora do Death Angel, após um acidente, pelos Alice In Chains, que mesmo diante de tantas vaias, conseguiram conquistar o prestígio e respeito das bandas em que acompanhavam. Durante o final do ciclo da primeira turnê, foram gravados dois videoclipes, um para War Ensemble, com trechos gravados da turnê ao vivo, em simetria com a agressão sonora da música, e um para Seasons In The Abyss, cuja ideia maluca de gravarem no Egito veio do produtor e amigo Rick Rubin.

“Ele sempre estava tentando ser visionário. Ele disse pra gente: ‘queremos gravar um vídeo onde nós vamos ter que por vocês para voar até o Egito’, e aí pensamos ‘Egito? Quer Saber? Foda-se! Isso é maneiro!” – relembra Tom Araya para a revista Rolling Stone pelo jornalista Kory Grow. Tal ideia era simplesmente perfeita para visão artística da própria música. Se existe algo em que a Antiguidade Oriental pode ser bem lembrada, era pela melancolia e desespero da realidade em que a disputa por recursos geográficos resultavam em guerras constantes, além da criação e evolução de uma mitologia que fizesse sentido com esse caos punitivo e árido. Nada melhor do que escolher tal paisagem, especialmente em meio a Guerra do Golfo como local de gravação de um videoclipe, cuja própria faixa vislumbra a loucura, desespero e a auto destruição do individuo, sob uma ótica fatalista.
As gravações aconteceram durante a Operação Desert Shield, em Gizé, em que militares nessa primeira fase se preparavam ordens do presidente Bush (pai) para a ofensiva da segunda, que definiria a Guerra do Golfo contra o Iraque. Durante o período lá, uma propina de itens um tanto peculiares garantiu tanto a permissão de gravação como também a segurança da banda e os cinegrafistas durante o projeto “A gente molhou a mão deles com pornografia e cigarros, era uma possibilidade incrível de portas abertas”, diz Kerry King ainda para Rolling Stone sobre o processo de negociação com os oficiais egípcios.

O Timing para o lançamento do vídeo não poderia ser mais do que certeiro, com o estopim iminente da guerra, o videoclipe recebeu óbvia rotatividade na MTV no bloco Headbanger’s Ball, além de também terem uma divulgação bem escrachada durante o programa dos endiabrados do Beavys & Butthead, onde dependendo do teor de tal escracho, significava uma montanha de dinheiro garantida pra banda zoada sem misericórdia pelos dois adolescentes mais tapados e hilários do início da década de noventa. Entretanto, esse também foi o começo do fim de uma era, uma vez que tais esgotamentos da vida na estrada iriam culminar na saída, pela segunda vez, de Dave Lombardo.
Embora os louros estavam finalmente chegando, o baterista começou a expressar um certo desinteresse por tudo. De acordo com o próprio, a vida na estrada estava começando a esgota-lo e o motivo não era mais dinheiro, apenas queria passar mais tempo com sua esposa e filho. Isso acabou culminando em um desentendimento pesado entre os membros, que acabou gerando um desgaste que só se reparou na primeira metade da década de 2000, anos após a saída desse que seria substituído de 1992 até 2001 por Paul Bostaph, que integrava o Forbidden antes de assumir as baquetas para o Slayer naquele ano.

Após sua saída, Lombardo iria integrar uma série de projetos musicais como o Grip Inc., banda que tinha inclusive o músico e famoso produtor bem prestigiado no metal europeu da década de noventa, o polonês Waldemar Sorychta ; o Fantômas, supergrupo que tem ninguém menos que Mike Patton (Faith No More), Buzz Osborne (Melvins) e Trevor Dunn, do Mr Bungle, e muitas outras, além de também ter integrado por um tempo como parte do line-up de bandas que dividia espaço na própria cena, como o Testament e o Suicidal Tendencies. Por mais que o Slayer tivesse aberto para experimentações, a sensação era como se estivesse limitado demais à um espaço que não apenas o deixasse livre para tocar outros projetos, fica claro que pela energia de competitividade dos membros, rolava muito mais do que uma cumplicidade, era um clima de prisão.
O próprio Jason Newsted passaria pelo mesmo tipo de sufoco durante aquela década com o Metallica, sendo impeço de crescer profissionalmente naquela indústria que não fosse um cargo limitante dentro do ambiente interno e tóxico dessa, não conseguia iniciar projetos musicais fora, era uma espécie de sufoco. Essa cumplicidade da política de destruição através da possessividade demonstrava o quão acirrada era a disputa por manter uma hegemonia e liderança no cenário. Esse mesmo tipo de dinâmica destrutiva no ambiente interno e organizacional já teria acabado com muitas bandas ou terminado com diversos line-up’s clássicos com o passar do tempo, mas aqui quais outras não vem ao caso.

O ilustrador Larry Carrol, que já era de longa data produzia as capas para o quarteto, representa o caos da engrenagem infernal das letras, nos mostrando a representação de uma caveira maior, marcada por cruzes e que cospe outros crânios menores em uma cruz, ao lado de totens que são adornados por esqueletos, representações simbólicas de figuras, que então enaltecidas, seriam abatidas futuramente pelo empirismo puro do tempo no ciclo destrutivo da sociedade. A cruz onde as caveiras caem são uma representação de anseios e mártires, enquanto as que compõe a parte superior dessa caveira maior, a cobiça que leva dessas menores a se dispor de um altar de sacrifício, sendo bodes expiatórios de uma máquina corporativista que vendeu o mundo a troco de poder. Uma representação dos anos 1980-1991, e o que viria a seguir em consequência da gestão de Ronald Reagan e a farsa do sonho americano.

Em 1991, resultante do sucesso estrondoso da turnê Clash Of The Titans, é promovido o clássico ao vivo Decade Of Aggression em 22 de Outubro, contendo o show da noite de 31 de Julho daquele mesmo ano no Lakeland Civic Center, em Lakeland, Flórida, mais um segundo disco com outras gravações em áudio ao vivo do resto da turnê, pegando uma posição de 55 na Billboard da época. Esse nome foi dado ao registro ao vivo, pois a intenção anterior, Decade Of Decacence já havia sido registrada pelo Mötley Crüe também em ’91 para seu compilado de Greatest Hits. Foi um oficial ao vivo lançado sem nenhum overdub nas guitarras, o que se ouve é o que a gravação captou no mesmo dia, sem nenhuma firula.
“O disco principal era o primeiro, e tínhamos também outras músicas diferentes que tocamos em outras noites para o pacote, e era nossa primeira experiência ao vivo que todo mundo poderia nos ter em casa que não fosse por troca de fitas que nem na época” relata Kerry King em entrevista ao All Music. Era um trabalho tão honesto quanto um bootleg feito com dedicação pelos fãs e entregue na mesma reciprocidade para esses mesmos apreciadores da banda. Um verdadeiro presente, diga-se de passagem.
ESQUELETOS DA SOCIEDADE: Steve Huey da All Music vai citar o álbum como um trabalho mais acessível, “Mostrando o melhor deles em um único lugar, com uma produção contida e limpa”. Essa afirmação não seria à toa, uma vez que o trabalho recebeu certificado de disco de ouro nos EUA e Canadá, com 550.000 cópias vendidas apenas na América do Norte naquela época, ficando apenas atrás em números de vendas do disco Rust In Peace, do Megadeth, que iniciava uma nova fase de prestígio na carreira com um line-up clássico tido como insuperável até hoje. Muito mais do que o Thrash, o metal vivia o ápice na entrada da década, inclusive com o definitivo lançamento do álbum Painkiller, dos britânicos do Judas Priest, que embora não sendo parte do gênero, se assemelhava pelo estilo Speed Metal e também pela excelentíssima produção desse. Não tinha melhor época para descobrir o gênero e ser um jovem headbanger.
O behemoth imponente que foi o Slayer naquele período só pode ser melhor explicado, de fato por quem realmente viveu! Tal título de “banda mais perigosa” dado para o Guns N’ Roses poderia ser equiparado com o elogio de chamar um gatinho de feroz apenas pelo seu miadinho fajuto. Bay Area mostrava um cenário que botavam Axl e companhia para dormir. Hard Rock performático para aquele público estava com nada, ninguém ali queria viver devaneios de ensino médio, era uma cena pé no chão!
Existem álbuns e álbuns, que não apenas expressam a realidade como ela é, mas que são proféticos: Demanufacture do Fear Factory e até mesmo Grand Declaration Of War do Mayhem, por exemplo, podem ser citados como exemplos, porém, o Slayer fez isso de forma escancarada, chutando o balde sem piedade, com não apenas um conteúdo lírico potente, mas uma capa que estremece a base de qualquer um, que causa desconforto a primeiro momento, mesmo sem nunca ter ouvido esse disco antes. Em Seasons In The Abyss, você é bem mais do que o ouvinte, é o protagonista do Armagedom, uma tragédia declarada que te cerca dia após dia, onde a semente da destruição foi plantada há muito, e o desespero de não haver uma escapatória prevalece.
Close your eyes, and forget your name
Step outside yourself and let your thoughts drain
As you go insane… ¡Go insane!