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Alvvays e seu primoroso álbum de estréia completam 10 anos

Uma coisa é inegável, o indie é uma das vertentes do rock que mais consegue se conectar com as gerações atuais e dialogar com novos e diversos públicos.





Desde de a década de 90 com álbuns como “Goo” do Sonic Youth, “Brighten The Corners” do Pavement, “Keep It Like a Secret” do Built To Spill, “Foolish” do Superchunk, e tantos outros como Dinosaur Jr., Weezer, Pedro The Lion, Buffalo Tom e Teenage Funclub; passando por outros clássicos dos anos 2000 como, Interpol, Libertines, Strokes, Arcade Fire, Tokyo Police Club, o indie rock sempre buscou soar menos retrógrado e cafona sem perder suas origens.





Os questionamentos e incertezas dessas gerações foram expressados e sintetizados tão bem que se tornaram quase um sinônimo de comportamento e estética. Era possível se manifestar com os sentimentos, com as inseguranças, com os medos e com a vontade de se mostrar como quisesse sem pensar nos julgamentos dos outros, essa galera fez isso como poucos conseguiram. O rock retrógrado das gerações anteriores envelheceu muito mal, um idoso usando bandana vestindo shorts de academia e coturno batendo na porta do céu em um novembro chuvoso; ou um outro idoso invadindo castelos duelando com bruxas com uma espada medieval já não tinha mais nada a ver e não dizia mais nada a respeito sobre ninguém.

As décadas seguintes trouxeram diversas bandas na cena indie em todo mundo, agora sem o apoio da MTV, as bandas tiveram que buscar seu espaço na internet, se organizando em coletivos, se fortalecendo em selos independentes e sem nenhuma banda influente de peso abrindo caminhos pra que outras da mesma gravadora ou gênero pudesse ter espaço pra abrir shows ou tocar nas grandes mídias, assim como fez o Nirvana na década de 90 ou o Strokes no íncio dos anos 2000, que incentivaram grandes gravadoras a dar espaço pra diversas bandas contemporâneas à elas. Nos anos 90, qualquer banda independente poderia ser o “Novo Nirvana”, de Jawbreaker à Lemonheads.

A década de 2010 continuou sendo um celeiro de bandas alternativas influenciadas por Interpol e Strokes, misturando elementos pop como Lcd Soundsystem ou Arcade Fire. Em meio à esta nova cena, surgiram Deerhunter, Yuck, Diiv, Beach Fossils, Mac Demarco, Cloud Nothings e Alvvays.

Alguns álbuns já nascem clássicos, soam cult, ditam e dialogam com uma estética da época em que são contemporâneos, como “Salad Days” do Mac Demarco por exemplo, coincidentemente também completando uma década desde seu lançamento recentemente, mas um dos mais influentes dessa década, sem dúvida alguma é o homônimo de estréia do Alvvays.

Escrito assim mesmo, “Alvvays” com dois “Vês” e pronunciado como “Always”, em inglês; a banda canadense influenciada por grandes nomes do indie como, Jesus And Mary Chain, My Bloody Valentine e Teenage Funclub, liderada pela doce e melancólica Molly Rankin apresentou ao mundo o seu álbum de estréia no dia 22 de Julho de 2014, recém completando 10 anos, o “Self Title” é um mergulho introspectivo e de questionamentos cotidianos e existenciais que dialogam com o ouvinte à ponto dele se enxergar vivendo cada letra, como se cada frase fora feita pra ele mesmo.

O disco é uma profunda imersão em um mundo de reverbs, distorções, ambiências e vocais doces e despretensiosos.

O álbum começa com “Adult Diversion” com guitarras super vibrantes, linhas de baixos marcantes e precisas e sem perder o embalo, a letra aborda a busca por diversões momentâneas e escapismos aleatórios em um cotidiano chato e entediante.

A faixa destaque é a famigerada “Archie, Marry Me”, a faixa queridinha do álbum e que alavancou a banda para todos os lugares de destaque dentro da cena, chegando à tocar no KEXP no mesmo ano de lançamento do álbum. Conta com um refrão carismático, guitarras animadas e distorcidas. A letra fala sobre um amor ainda improvável, atolado em empréstimos estudantis e sem poder arriscá-lo com nenhuma pensão alimentícia. “Tarde demais pra sair, jovens demais pra ficar” é a frase que resume o espírito da letra.

“Next Of Kin” tem uma melodia alegre e uma letra soturna, a combinação preferia da talentosa letrista Molly Rankin e uma das marcas registradas da banda.

“Party Police” é uma balada carregada de melancolia e doçura. A música aborda a solidão de estar em lugares cheios e não pertencer à nenhum deles.

Uma das coisas que mais me atraem no Alvvays é a capacidade de simplificar e traduzir sentimentos que o ouvinte se esforça tanto em dizer pra quem está ao seu redor, mas tem medo de expressar em um mundo cada vez mais instagramável e idiotizado, desprovido de emoções reais, que faz a vida caber em 30 segundos e babaquismos faceis de serem passados com o dedo.

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