Ash – Ad Astra: o power pop persistente de uma banda fiel a si mesma

Virgilio Migliavacca
4 minutos de leitura
Capa de Ad Astra do Ash.

No último dia 3 de outubro foi lançado Ad Astra, nono álbum da banda norte-irlandesa Ash. O disco, sucessor do bom Race The Night (2023), conta com 12 faixas, e foi produzido pelo vocalista e guitarrista Tim Wheeler.

O Ash ganhou notoriedade na segunda metade dos 1990, em meio a febre do Britpop. Seu power pop de guitarras distorcidas e melodias ensolaradas, diferente de seus conterrâneos britânicos, era mais frequentemente associado ao pop punk americano, e em especial ao som do Weezer. O grupo chegou a arriscar com o uso de sintetizadores, no intuito de modernizar sua sonoridade, sem ter encontrado apoio de público e crítica, o que fez com que fosse anunciado um hiato.

Passado o período de inatividade, a banda retomou os trabalhos em 2015, com Kablammo! (lar da divertidíssima Go! Fight! Win!) e, de lá para cá, tem mantido uma sequência frequente e consistente de lançamentos (interrompida apenas durante a pandemia).

Após o retorno, o Ash voltou também a fórmula de sucesso dos primeiros trabalhos. O já citado álbum de 2023 rendeu boas críticas, e solidificou o bom momento da banda, com aumento do número de execuções nas plataformas, culminando em uma exitosa turnê. Tudo isso, é claro, dentro dos parâmetros de uma banda que sempre foi alternativa, com circuito mais restrito aos países europeus. Segundo entrevistas recentes de Tom Wheeler, o plano era retornar as experimentações com sintetizadores do passado, decisão abortada por conta da boa recepção ao trabalho.

O que nos leva a Ad Astra. O álbum inicia com uma versão aditivada de Zarathustra (famosa pela sua inclusão em 2001 – Uma Odisseia no espaço), que dialoga diretamente com o trabalho gráfico do disco, com o trio formado por Wheeler, mais o baixista Mark Hamilton e o baterista Rick McMurray usando roupas de astronauta, bem como com o conteúdo de algumas das letras. Logo em seguida, Which One Do You Want apresenta uma bem vinda influência do jangle pop e das guitarras limpas de Johnny Marr no The Smiths, referência não tão comum no trabalho do Ash. Apesar disso, o que se vê em boa parte das músicas, como Keep Dreaming, é a já clássica fórmula de guitarras altas, melodias cativantes e uma energia despretensiosa.

foto de Andy Willsher

Ad Astra conta com a participação especial de Graham Coxon (do Blur) em duas faixas: na extremamente pop Fun People (apenas nos vocais) e em um solo de guitarra na faixa-título, já no encerramento do álbum. A primeira, assim como uma versão meio despropositada do calipso(!) Jump In The Line (mais conhecida pela versão gravada pelo cantor americano Harry Belafonte, em 1961) mostram que o Ash, assim como o já citado Weezer, é daquelas bandas que parecem funcionar melhor quando não tentam mudar demais.

Talvez estas faixas funcionassem melhor se incluídas como bônus de uma posterior versão deluxe de Ad Astra (expediente comum no mercado fonográfico atual). Em meio ao tracklist, apenas atrapalham a fluidez de um trabalho que poderia ser levemente mais enxuto.

Mas, no âmbito geral, o novo disco reforça o que se espera de Ash: um power pop consistente e divertido, com algumas boas surpresas escondidas e eventuais tropeços em suas tentativas de variar a fórmula. Nada revolucionário, mas certamente um lançamento que vale a audição — especialmente para quem já acompanha a banda desde os anos 90.

Ouça abaixo “Ad Astra” do Ash

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