O épico nórdico do Sabbath: 35 anos de “TYR”

Luis Fernando Brod
6 minutos de leitura
Black Sabbath / TYR. Foto: Pete Cronin/IconicPix.

Em 1990, o Black Sabbath, um nome que por si só evoca a gênese do heavy metal, encontrava-se em uma fase de sua longa e sinuosa jornada. Longe dos holofotes massivos dos anos 70 com Ozzy Osbourne, ou mesmo da revitalização com Ronnie James Dio, a banda, sob a liderança inabalável de Tony Iommi, persistia em sua busca por novas sonoridades e identidades. Foi nesse cenário que “TYR”, o décimo quinto álbum de estúdio do grupo surgiu, completando agora 35 anos de sua existência.

A formação que gravou “TYR” era a mesma que havia entregue o aclamado “Headless Cross” no ano anterior: Tony Iommi na guitarra, o vocalista Tony Martin, o baterista Cozy Powell, o baixista Neil Murray e o tecladista Geoff Nicholls. Essa era uma das formações mais estáveis e coesas do Sabbath pós-Ozzy, e a química entre os músicos era evidente. “Headless Cross” havia sido um sucesso de crítica e público, reacendendo a chama para muitos fãs que haviam se afastado.

Com “TYR”, a banda decidiu explorar um terreno conceitual mais definido, mergulhando profundamente na mitologia nórdica. As letras, em grande parte escritas por Tony Martin e Cozy Powell, com a supervisão de Iommi, criaram narrativas sobre deuses, batalhas e o destino, inspiradas em figuras como Odin, Thor e, claro, Tyr, o deus da guerra e da justiça. Essa abordagem lírica conferiu ao álbum uma atmosfera grandiosa e quase operística, diferenciando-o de trabalhos anteriores.

Musicalmente, “TYR” é um disco de heavy metal robusto e melódico. Os riffs de Tony Iommi são a espinha dorsal, como sempre, mas aqui eles ganham uma dimensão mais épica, muitas vezes complementados pelas texturas sombrias e atmosféricas dos teclados de Geoff Nicholls. A bateria de Cozy Powell é um espetáculo à parte, com sua precisão e poder, impulsionando cada faixa com uma energia implacável. Neil Murray, por sua vez, oferece uma base rítmica sólida e inventiva.

Black Sabbath – TYR. Foto: Arquivo pessoal.

A voz de Tony Martin é um dos pilares do álbum. Sua capacidade de transitar entre vocais potentes e passagens mais melódicas se encaixa perfeitamente nas narrativas mitológicas. Ele consegue transmitir tanto a fúria das batalhas quanto a solenidade dos rituais, dando vida aos personagens e eventos descritos nas letras. Sua performance em faixas como “Anno Mundi” e “Valhalla” é particularmente notável, demonstrando sua versatilidade e alcance.

O álbum abre com “Anno Mundi”, uma faixa que imediatamente estabelece o tom grandioso e sombrio. Seguem-se canções como “The Law Maker”, com sua velocidade e agressividade, e “The Sabbath Stones”, que remete aos riffs clássicos do Sabbath, mas com uma roupagem renovada. “Valhalla” é talvez a canção que mais explicitamente abraça o tema nórdico, com sua estrutura dramática e letras que pintam imagens de guerreiros e deuses.

Uma das faixas que se destaca por sua diferença é “Feels Good to Me”. Com uma pegada mais melódica e acessível, quase uma balada de hard rock, ela foi vista por alguns como uma tentativa de alcançar um público mais amplo. Embora seja uma canção forte por si só, sua inclusão no contexto de um álbum tão focado em temas épicos e pesados gerou discussões entre os fãs. No entanto, ela demonstra a capacidade da banda de explorar diferentes facetas de sua sonoridade.

“TYR” foi recebido com uma mistura de entusiasmo e ceticismo. Fãs da era Tony Martin o consideram um dos pontos altos dessa fase, elogiando sua coesão e a qualidade das composições. Críticos, por sua vez, reconheceram a força do material, mas o álbum nunca alcançou o mesmo nível de reconhecimento comercial de seus antecessores mais famosos. Ele permaneceu, para muitos, um tesouro a ser descoberto dentro da vasta discografia do Black Sabbath.

O álbum representa um período em que Tony Iommi, o único membro constante desde o início, continuava a empurrar os limites do Black Sabbath, explorando novas direções sem perder a essência pesada e sombria que definia a banda. “TYR” é um testemunho da resiliência e da criatividade de Iommi, que se recusava a deixar o nome do Sabbath cair no esquecimento, mesmo diante de constantes mudanças de formação e tendências musicais.

Trinta e cinco anos após seu lançamento, “TYR” mantém sua relevância como um capítulo importante na história do Black Sabbath. Ele é um lembrete de que a banda não se resumia apenas às suas encarnações mais célebres, mas que continuou a produzir música de alta qualidade, explorando novas temáticas e sonoridades. Para os que se aventuram em suas profundezas, “TYR” oferece uma jornada épica e recompensadora, um verdadeiro hino de metal forjado na mitologia e na determinação.

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