Lançado em 29 de março de 1975, Blow by Blow marcou um ponto de virada na carreira de Jeff Beck e na forma como a guitarra elétrica poderia ser explorada na música instrumental. Com um estilo que mesclava rock, jazz fusion e elementos do funk, o disco se tornou uma referência para gerações de músicos.
Na primeira metade da década de 1970, o rock passava por transformações significativas. O blues elétrico que dominou o final dos anos 1960 já não era a principal vanguarda, enquanto o rock progressivo e o jazz fusion ganhavam espaço. Jeff Beck, que vinha de passagens marcantes pelo The Yardbirds e pelo Jeff Beck Group, decidiu seguir um caminho instrumental, deixando de lado vocais e focando na expressividade pura da guitarra. Beck tambem dissolveu seu aclamado power trio com o baixista Tim Bogert e o baterista Carmine Appice no intervalo de alguns meses agitados que levaram às sessões deste LP em outubro de 1974. Ele também fez um teste com os Rolling Stones , antes de deduzir que não era o trabalho certo para ele.
Este foi tecnicamente o sétimo álbum solo de Beck, mas apenas o segundo a ter apenas seu nome na capa após sua estreia em 1968, Truth . Mas Beck não foi sozinho. Para este trabalho, Beck se inspirou diretamente em guitarristas e músicos de jazz fusion como John McLaughlin e o Mahavishnu Orchestra, além de elementos do funk de James Brown e Stevie Wonder, este último contribuindo diretamente para o álbum. Ao mesmo tempo, sua base bluesística não foi abandonada, o que conferiu ao disco uma identidade única.
O álbum foi produzido por George Martin, lendário produtor dos Beatles, que ajudou a criar um som sofisticado e atemporal. A escolha de Martin não foi por acaso: Beck queria um trabalho refinado, e a experiência do produtor em orquestrações e arranjos foi crucial para a sonoridade do disco.
Os músicos que participaram das gravações incluíram o tecladista Max Middleton, responsável por harmonias jazzísticas e pelo groove de faixas como Freeway Jam. No baixo, Phil Chen trouxe uma abordagem fluida, enquanto Richard Bailey, na bateria, contribuiu com ritmos precisos e dinâmicos. Stevie Wonder escreveu Thelonius e Cause We’ve Ended as Lovers, esta última um tributo ao guitarrista Roy Buchanan.

A abertura com You Know What I Mean já evidencia o tom do disco, com um riff marcante e uma rítmica funk característica. She’s a Woman, reinterpretação de um clássico dos Beatles, transforma a composição em um jazz fusion envolvente. Cause We’ve Ended as Lovers é uma das peças mais emocionais do álbum, onde Beck demonstra sua técnica singular de bends e sustain, sem recorrer a pirotecnias exageradas.
Em Scatterbrain, há um diálogo virtuoso entre a guitarra e os teclados, remetendo a influências clássicas e jazzísticas. Já Freeway Jam se tornou uma das músicas mais reconhecíveis do disco, com uma abordagem espontânea e improvisada. O álbum se encerra com Diamond Dust, faixa que traz uma atmosfera etérea, quase cinematográfica, consolidando o trabalho como um álbum completo e coeso.
A capa de Blow by Blow apresenta uma ilustração de Jeff Beck feita pelo artista John Collier. A imagem, com traços suaves e cores discretas, reflete a sofisticação do conteúdo musical do álbum. Ao invés de uma fotografia convencional, a escolha da arte ilustra a ideia de um disco voltado para a musicalidade pura, sem o apelo de imagem comum ao rock da época.
O sucesso de Blow by Blow foi imediato, alcançando a posição número 4 na parada da Billboard 200 e sendo certificado como disco de platina. Foi um dos primeiros álbuns instrumentais de rock a atingir tal feito, pavimentando o caminho para futuros guitarristas explorarem trabalhos puramente instrumentais.
O disco influenciou uma geração de músicos, incluindo Steve Vai, Joe Satriani, Eric Johnson e John Mayer. A fusão entre rock e jazz que Beck explorou ajudou a consolidar o jazz fusion como um gênero forte, impactando guitarristas como Pat Metheny e Scott Henderson.
Mesmo após meio século, Blow by Blow continua sendo uma referência essencial para qualquer apreciador da guitarra elétrica. A mistura de virtuosismo e feeling fez do álbum um clássico atemporal, reafirmando o talento único de Jeff Beck como um dos mais inovadores guitarristas da história.
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